Pe.
Wellistony C. Viana dá dicas práticas para viver a Quaresma, sobretudo a
oração, mesmo para quem não pode partir em retiro.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do
Vaticano
O Papa Francisco e seus colaboradores
da Cúria Romana se encontram em retiro nas proximidades de Roma, em Ariccia.
Durante seis dias, o Papa suspende
todas as audiências públicas e privadas e fica longe também das redes sociais
(Twitter e Instagram) para se preparar para a Páscoa.
Mas
e os leigos que não podem partir para um retiro quaresmal, como podem fazer
esta preparação? Quem responde é o Diretor Espiritual do Colégio Pio
Brasileiro, em Roma, Pe. Wellistony C. Viana.
A
quaresma é um tempo de preparação para a Páscoa. Mas, essa preparação não
acontece apenas por meio da oração, mas também da penitência e da prática da
caridade. Na quarta-feira de cinzas ouvimos o Evangelho que falava do jejum, da
esmola e da oração. Essas práticas resumem bem como devemos viver a quaresma:
primeiro, pela prática da penitência: pode-se fazer o tradicional jejum, que
significa simplesmente “comer menos e sem ostentação”. Contudo, existem várias
outras formas de praticar o jejum: por exemplo: jejum do celular, do uso das
redes sociais, da televisão, da bebida alcoólica etc. O jejum é uma prática que
nos ajuda no autocontrole, na capacidade de renunciar ao supérfluo para, assim,
preparar nossa vontade para acolher as coisas essenciais e sempre buscar a
vontade de Deus. A esmola resume a prática da caridade, ou seja: nos lembra que
a melhor preparação para a páscoa é fazer o bem aos outros. A esmola também
pode ser feita de uma forma moderna: ajudando as pessoas com palavras de
incentivo, tirando um tempo para dar atenção aos outros, visitando algum doente,
dando comida, roupa, abrigo aos necessitados. Todas são formas de caridade que
alargam nosso coração e nos preparam para a Páscoa. Por fim, também tem a
prática da oração. A quaresma é um tempo forte de oração, de intimidade com
Deus. Muitas vezes, nós não sabemos orar. Identificamos a oração com a leitura
de algum texto, recitação de fórmulas prontas ou com a realização de novenas
para algum santo.
E
o que significa a oração?
Na realidade, podemos até orar quando fazemos essas práticas,
mas nem sempre. A oração significa “encontrar-se com Deus” e pode ser que eu
faça uma novena ou leia o evangelho e não me encontre com Ele. Pode ser que
faça tudo isso de forma mecânica, para cumprir um rito. Se não colocamos o
nosso coração nessas práticas, elas não podem ser consideradas oração. Santa
Teresa D’Ávila distinguia cinco graus de oração: a oração vocal, a oração
mental, a oração de quietude, a oração contemplativa adquirida e a oração
contemplativa infusa. Não temos como falar de cada uma delas, mas faz bem recordar
que é importante amadurecer em nossa vida de oração. Quem sabe, nessa quaresma,
não seria interessante passar de uma oração puramente vocal para uma oração
mental! A oração mental é o que chamamos de lectio divina: colocamo-nos diante
de Deus por um tempo (pode ser 15, 20 min ou mais) para ler e meditar a Palavra
de Deus. O método é muito simples: escolhemos um local e horário para ficarmos
em silêncio. Depois, podemos ler o texto a ser meditado e perguntar: 1) O que
este texto diz? Silenciamos uns minutos. Depois, lemos o texto mais uma vez e
perguntamos: 2) O que este texto me diz? Meditamos um pouco mais. Continuamos
perguntando: 3) O que este texto me faz dizer a Deus? É o momento de abrir o
coração a Deus, falando a ele como se fala com um amigo. Por fim, 4) podemos
usar a imaginação para entrar na cena daquele evangelho e ficar ali com Jesus
algum momento. Seria muito bom que no tempo da quaresma pudéssemos exercitar
este tipo de oração diariamente. Certamente seria uma ótima preparação para a Páscoa.
E, claro, quem puder fazer um retiro espiritual, reservando alguns dias para
ficar a sós com Deus, seria ideal. Geralmente, os padres, religiosos e
religiosas reservam um tempo maior na quaresma para fazer seus exercícios
espirituais. Os leigos nem sempre têm esta oportunidade.
Existem
retiros diferentes para padres, religiosas e leigos?
“Retiro espiritual” significa reservar um tempo para ficar a sós
com Deus. Pode ser um dia, dois dias, cinco dias ou mais. Por isso, não há
diferença quanto ao tempo para padres, religiosas e leigos. Claro, os padres e
religiosas, porque desenvolvem seu trabalho no âmbito eclesial, podem dispor de
um tempo maior para realizar um retiro; os leigos, geralmente, não têm este
privilégio devido ao trabalho extra eclesial. Mas, isso não significa que os
leigos não possam fazer uma prática de oração mais intensa na quaresma. Por
exemplo, tirar uns minutos diariamente para fazer sua lectio divina já é um
grande passo! Depois, pode haver diferença entre o retiro de padres, freiras e
dos leigos em relação às temáticas trabalhadas. Pregadores de retiro podem
tratar de assuntos adaptados à vocação de cada um. Contudo, essas diferenças
não mudam a finalidade essencial do retiro que é reordenar a própria vida em
torno de Deus. Tantas vezes nós colocamos coisas, pessoas, nós mesmos no centro
da vida e Deus na periferia. Um retiro é uma ótima oportunidade para fazer uma
hierarquia de prioridades, colocando Deus no centro e tudo o mais girando em
torno Dele. Seguindo esses passos, a gente pode celebrar melhor o mistério da
Páscoa, que não é outra coisa senão a certeza que Deus nos dá em Cristo, de que
nós fomos criados para viver eternamente ao lado Dele.
Fonte: Vatican News
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