“Os
bens comuns constituem recursos que devem ser tutelados para o bem de todos,
especialmente dos mais pobres, e diante de uma utilização irresponsável destes
o Estado é chamado a desempenhar uma indispensável função de vigilância,
sancionando devidamente os comportamentos ilícitos”, disse o Papa ao Tribunal
de Contas da Itália
Raimundo de Lima - Cidade do
Vaticano
“A
sociedade em seu conjunto é chamada a esforçar-se concretamente para contrastar
o câncer da corrupção em suas várias formas. O Tribunal de Contas, no exercício
da verificação sobre a gestão e sobre as atividades das administrações
públicas, representa um instrumento válido para prevenir e contrastar a
ilegalidade e os abusos. Ao mesmo tempo, pode indicar os instrumentos para
superar ineficiências e distorções.”
Foi
o que disse o Papa Francisco ao receber em audiência ao meio-dia desta
segunda-feira (18/03) na Sala Paulo VI, no Vaticano, funcionários do Tribunal
de Contas Italiano, um grupo de cerca de mil pessoas: juízes, funcionários
administrativos, familiares e amigos.
Serviço indispensável orientado ao bem-comum
Este instituto da República Italiana encarna um caráter ético,
que é o mesmo subjacente ao funcionamento do Estado, ao qual “compete o cuidado
e a promoção do bem comum da sociedade” (Exortação ap. Evangelii
gaudium, 40), afirmou o Pontífice logo no início de seu discurso.
Francisco ressaltou que o Tribunal de Contas realiza um serviço
indispensável orientado ao bem-comum segundo justiça. “E esse não é um conceito
ideológico ou somente teórico, mas está ligado às condições de pleno
desenvolvimento para todos os cidadãos e pode ser realizado considerando a
dignidade da pessoa na sua totalidade”, disse.
Estado chamado a ser o defensor dos direitos do homem
Por esta razão, continuou, o Estado, em todas as suas
articulações, é chamado a ser o defensor dos direitos naturais do homem, cujo
reconhecimento é uma condição para a existência do Estado de direito.
“Portanto,
o bem da pessoa humana, entendida sempre na sua dimensão relacional e comunitária,
deve constituir o critério essencial de todos os órgãos e os programas de uma
Nação.”
“A averiguação rigorosa das despesas freia a tentação, comum
naqueles que ocupam cargos políticos ou administrativos, a gerir os recursos
não de modo cauteloso, mas para fins de clientelismo e de mero consenso
eleitoral”, observou o Santo Padre.
Combate à corrupção
Nessa perspectiva, continuou o Papa, se coloca também o
papel importante que a Magistratura contábil reveste para a coletividade, em
particular no combate incessante à corrupção.
A
corrupção “é uma das chagas mais dilacerantes do tecido social, porque o
danifica enormemente tanto no plano ético quanto no plano econômico: com a
ilusão de ganhos rápidos e fáceis, na realidade empobrece todos, minando a confiança
e transparência do sistema em sua totalidade. A corrupção humilha a dignidade
do indivíduo e destrói todos os ideais bons e bonitos”.
Administradores públicos: transparência e responsabilidade
Por sua vez, disse ainda, os “administradores públicos devem
sentir sempre mais a responsabilidade de atuar com transparência e honestidade,
favorecendo assim a relação de confiança entre o cidadão e as instituições,
cujo distanciamento é uma das manifestações mais graves da crise da
democracia”.
A averiguação rigorosa das despesas por parte da magistratura
contábil de um lado, e a atitude correta e límpida dos responsáveis pela coisa
pública de outro lado, podem frear a tentação de gerir os recursos de modo
incauto e para fins de clientelismo, prosseguiu Francisco.
Tempo da Quaresma, ocasião para fixar o olhar em Cristo
“Os
bens comuns constituem recursos que devem ser tutelados para o bem de todos,
especialmente dos mais pobres, e diante de uma utilização irresponsável destes
o Estado é chamado a desempenhar uma indispensável função de vigilância,
sancionando devidamente os comportamentos ilícitos.”
O Santo Padre concluiu fazendo aos presentes um convite a viver
este tempo da Quaresma como ocasião para fixar em profundidade o olhar em
Cristo, Mestre e Testemunha de verdade e de justiça, confiando-os todos à
proteção de São José, “homem justo”.
Fonte: Vatican News
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