O
Pontífice encontrou migrantes na sede da Caritas em Rabat, no Marrocos, e
voltou a enaltecer a importância dos quatro verbos que dão dignidade à situação
migratória: acolher, proteger, promover e integrar. Foi o último compromisso do
Papa Francisco deste sábado (30)
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
No último compromisso deste sábado
(30), em Rabat, no Marrocos, o Papa Francisco visitou a sede da Caritas
diocesana para encontrar um grupo de migrantes. No local, além da saudação
pública do arcebispo de Tangeri, Dom Agrelo Martinez, o Pontífice ouviu o
testemunho de dois migrantes: uma estudante africana de Microbiologia,
proveniente da Nigéria, e outro europeu, da França, diplomado em Desenho
Industrial.
O Pontífice começou o discurso se
dirigindo aos presentes como “queridos amigos” e agradecendo o empenho da
Igreja ao serviço dos migrantes, que sofrem com “uma ferida, grande e grave,
que continua a afligir o início deste séc. XXI”. Improvisando, o Papa também
fez um agradecimento especial às crianças, que se apresentaram com uma dança e
trajes típicos, porque elas “são a esperança e é por elas que devemos lutar”.
“Uma ferida que brada ao céu; não
queremos que a indiferença e o silêncio sejam a nossa resposta (cf. Ex 3, 7).
E, mais ainda, quando se constata que são muitos milhões os refugiados e outros
migrantes forçados que pedem a proteção internacional, sem contar as vítimas do
tráfico e das novas formas de escravidão nas mãos de organizações criminosas.
Ninguém pode ficar indiferente perante este sofrimento.”
O Papa, então, citou o Pacto Mundial
para Migração Segura, Ordenada e Regular, ratificado meses atrás, no Marrocos,
que desafia todos a responder ao chamado atual das migrações contemporâneas. O
Pontífice reafirmou a importância dos quatro verbos – acolher, proteger,
promover e integrar – que formam um quadro de referência para dar dignidade,
vida segura e solidária aos migrantes. Não basta se limitar “a ações de assistência
ao migrante. Isto é essencial, mas insuficiente. É preciso que vocês,
migrantes, sintam-se os primeiros protagonistas e gestores em todo este
processo”.
Verbo: acolher
O Papa começou descrevendo o verbo
“acolher”, que significa dar a migrantes e refugiados entrada segura e legal
nos países de destino. O próprio Pacto Mundial prevê a ampliação dos canais
regulares de migração, num esforço para barrar quem se aproveita “dos sonhos e
carências dos migrantes”.
“Enquanto este serviço não for
plenamente implementado, deve-se enfrentar a premente realidade dos fluxos
irregulares com justiça, solidariedade e misericórdia. As formas de expulsão
coletiva, que não permitem uma gestão correta dos casos particulares, não devem
ser aceitados; ao passo que os percursos extraordinários de regularização,
sobretudo nos casos de famílias e menores, se devem incentivar e simplificar.”
Verbo: proteger
Já o verbo “proteger”, acrescentou o
Pontífice, é para assegurar os direitos dos migrantes, independentemente da sua
situação migratória, sobretudo no que tange à violência, exploração e abusos de
todo o gênero.
“Aqui, julgo necessário também
prestar uma atenção particular aos migrantes em situação de grande
vulnerabilidade, aos numerosos menores não acompanhados e às mulheres.
Essencial é poder garantir a todos uma assistência médica, psicológica e social
capaz de devolver dignidade a quem a perdeu ao longo do caminho, como fazem
dedicadamente os operadores desta estrutura onde nos encontramos.”
Verbo: promover
Ao tratar do verbo “promover”, o
Pontífice afirmou que começa “pelo reconhecimento de que ninguém é um descarte
humano, mas é portador de uma riqueza pessoal, cultural e profissional que pode
trazer muito valor ao local onde está”.
“A aprendizagem da língua local, enquanto
veículo essencial de comunicação intercultural, há de ser vivamente encorajada,
bem como toda a forma positiva de responsabilização dos migrantes face à
sociedade que os acolhe, aprendendo a respeitar as pessoas e os laços sociais,
as leis e a cultura, prestando assim uma contribuição mais intensa para o
desenvolvimento humano integral de todos.”
O Papa, então, falou da importância
da promoção humana dos migrantes inclusive nas comunidades de origem “onde,
juntamente com o direito de emigrar, se deve garantir também o de não ser
forçado a emigrar”, mas de encontrar na pátria condições que permitam uma vida
digna.
Verbo: integrar
Ao tratar do verbo “integrar”, o Papa
enalteceu o empenho de valorizar tanto a cultura da comunidade que acolhe como
dos próprios migrantes para a construção de uma “sociedade intercultural e
aberta”, “acolhedora, plural e solícita”, num percurso que deve ser percorrido
entre os migrantes e residentes, como “autênticos companheiros de viagem”.
"Sabemos que não é nada fácil
entrar numa cultura que nos é estranha – tanto para quem chega como para quem
acolhe –, nos colocar no lugar de pessoas tão diferentes de nós, entender os
seus pensamentos e as suas experiências. Por isso, muitas vezes renunciamos ao
encontro com o outro e erguemos barreiras para nos defender (cf. Homilia no Dia
Mundial do Migrante e do Refugiado, 14 de janeiro de 2018).”
O Papa então garantiu que a Igreja
está se esforçando para fazer esse caminho com os migrantes, pois conhece as
angústias e sofre junto. O agradecimento também foi a todas as associações no
mundo que estão a serviço dos migrantes e refugiados, afinal, “para o cristão,
«não se trata apenas de migrantes», mas é o próprio Cristo que bate à nossa
porta”.
“
O Senhor, que durante a sua vida terrena viveu na própria carne a angústia do
exílio, abençoe cada um de vocês, dê a força necessária para não desanimarem e
para serem, uns para os outros, «porto seguro» de acolhimento. ”
Fonte: Vatican News
Nenhum comentário:
Postar um comentário