Papa Francisco na Celebração da
Penitência nesta sexta-feira, na Basílica de São Pedro. Captura Youtube
Vaticano, 29 Mar. 19 / 01:38 pm (ACI).- O Papa Francisco
preside nesta sexta-feira, 29 de março, uma Celebração da Penitência na
Basílica de São Pedro, no marco da jornada “24 horas para o Senhor”, uma
iniciativa sua, na qual incentiva os católicos de todo o mundo a aproximar-se
do sacramento da confissão.
A seguir, o texto completo de sua
homilia:
«Ficaram apenas eles dois: a mísera e
a misericórdia» (Santo Agostinho, In Johannis 33, 5): assim interpreta Santo
Agostinho o final do Evangelho que acabamos de ouvir. Foram-se embora aqueles
que tinham vindo para atirar pedras contra a mulher ou para acusar Jesus a
propósito da Lei. Foram-se embora; nada mais lhes interessava. Mas Jesus
continua... E continua, porque lá ficou o que era precioso a seus olhos: aquela
mulher, aquela pessoa. Para Ele, antes do pecado, vem o pecador. No coração de
Deus, eu, tu cada um de nós vem em primeiro lugar; vem antes dos erros, das
normas, dos juízos e das nossas quedas. Peçamos a graça dum olhar semelhante ao
de Jesus; peçamos para ter o enquadramento cristão da vida: nele, antes do
pecado, olhamos com amor o pecador; antes do erro, o transviado; antes do caso,
a pessoa.
«Ficaram apenas eles dois: a mísera e
a misericórdia». Naquela mulher surpreendida em adultério, Jesus não vê uma
alínea da Lei, mas uma situação concreta que O reclama. Por isso, fica ali com
a mulher, mantendo-Se quase todo o tempo em silêncio; entretanto, por duas
vezes, efetua um gesto misterioso: escreve com o dedo por terra (Jo 8, 8). Não
sabemos o que terá escrito, e talvez não seja a coisa mais importante: a
atenção do Evangelho centra-se no facto de o Senhor escrever. Vem à mente o
episódio do Sinai, quando Deus escrevera as tábuas da Lei com o seu dedo (cf.
Ex 31, 18), tal como faz agora Jesus. Depois, através dos profetas, Deus
prometera que não mais escreveria em tábuas de pedra, mas diretamente nos
corações (cf. Jr 31, 33), nas tábuas de carne dos nossos corações (cf. 2 Cor 3,
3). Com Jesus, misericórdia de Deus encarnada, chegou o momento de escrever no
coração do homem, dando uma segura esperança à miséria humana: dar, não tanto
leis externas que muitas vezes deixam Deus e o homem distantes, mas a lei do
Espírito, que entra no coração e o liberta. Assim sucede com aquela mulher, que
encontra Jesus e recomeça a viver. Segue a sua estrada, para não mais pecar
(cf. Jo 8, 11). É Jesus, com a força do Espírito Santo, que nos liberta do mal
que temos dentro, do pecado que a Lei podia obstaculizar, mas não remover.
E ainda assim o mal é forte, tem um
poder sedutor: atrai, encandeia. Para desprender-se dele, não basta o nosso
esforço, é preciso um amor maior. Sem Deus, não se pode vencer o mal: só o amor
d’Ele eleva por dentro; só a sua ternura, derramada no coração, é que torna
livre. Se queremos a libertação do mal, temos de dar espaço ao Senhor, que
perdoa e cura; e fá-lo sobretudo através do Sacramento que estamos prestes a
celebrar. A Confissão é a passagem da miséria à misericórdia, é a escrita de
Deus no coração. Sempre que nos abeiramos dela, lemos que somos preciosos aos
olhos de Deus, que Ele é Pai e nos ama mais de quanto nos amamos a nós mesmos.
«Ficaram apenas eles dois: a mísera e
a misericórdia». Só eles… Quantas vezes nos sentimos sozinhos e perdemos o
encadeamento da vida! Muitas vezes já não sabemos como recomeçar, cansados de
nos aceitarmos. Temos necessidade de começar do princípio, mas não sabemos
donde. O cristão nasce pelo perdão, que recebe no Batismo; e daqui é
que sempre renasce: do perdão arrebatador de Deus, da sua misericórdia que nos
restaura. Só como perdoados podemos recomeçar revigorados, depois de termos
experimentado a alegria de ser amados até ao extremo pelo Pai. Só através do
perdão de Deus é que acontecem em nós coisas verdadeiramente novas. Pensemos na
frase que o Senhor nos disse hoje, através do profeta Isaías: «Vou realizar
algo de novo» (43, 19). O perdão nos proporciona um novo começo, torna-nos
criaturas novas, faz-nos palpar a vida nova. O perdão de Deus não é uma
fotocópia que se reproduz idêntica em cada passagem pelo confessionário.
Receber o perdão dos pecados, através do sacerdote, é uma experiência sempre
nova, original e inimitável. Da situação de estar sozinhos com as nossas
misérias e os nossos acusadores, como a mulher do Evangelho, faz-nos passar ao
estado de erguidos e encorajados pelo Senhor, que nos faz recomeçar.
«Ficaram apenas eles dois: a mísera e
a misericórdia». Que fazer para me afeiçoar à misericórdia, para superar o medo
da Confissão? Acolhamos o sucessivo convite de Isaías: «Não o notais?» (43,
19). Notar, dar-se conta do perdão de Deus. É importante. Seria bom, depois da
Confissão, permanecer – como aquela mulher – com o olhar fixo em Jesus, que
acabou de nos libertar: fixo, não mais nas nossas misérias, mas na sua
misericórdia. Fixar o Crucificado e exclamar maravilhados: «Eis aonde foram
parar os meus pecados! Tomaste-los sobre Vós... Não me apontastes o dedo
acusador, mas abristes-me os braços e mais uma vez me perdoastes». É importante
recordar o perdão de Deus, lembrar a sua ternura, saborear de novo a paz e a
liberdade que experimentamos. Com efeito, isto é o coração da Confissão: não os
pecados que dizemos, mas o amor divino que recebemos e do qual sempre
precisamos. Entretanto há ainda uma dúvida que nos pode vir: «Não vale a pena
confessar-se! Volto sempre aos pecados habituais». Mas o Senhor nos conhece,
sabe que a luta interior é difícil, que somos fracos e propensos a cair muitas
vezes reincidentes na prática do mal. Então, propõe-nos começar a ser
reincidentes no bem, no pedido de misericórdia. Será Ele a nos erguer, fazendo
de nós criaturas novas. Recomecemos, pois, da Confissão, devolvamos a este
sacramento o lugar que merece na vida e na pastoral!
«Ficaram apenas eles dois: a mísera e
a misericórdia». Também hoje vivemos, na Confissão, este encontro de salvação:
nós, com as nossas misérias e o nosso pecado; o Senhor, que nos conhece, ama e
liberta do mal. Avancemos para este encontro, pedindo a graça de o redescobrir.
Fonte:
ACI Digital
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