segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

VOZ DO ARCEBISPO


Editorial – Fevereiro de 2019: Fraternidade e Políticas Públicas



Desde 1964 a Igreja no Brasil, durante o tempo especial da Quaresma, em preparação para a Páscoa e com um grande estímulo para a renovação da vida cristã, sob o impulso do Concílio Vaticano II, a grande proposta de renovação da Igreja e sua missão no mundo, começou o que se chama a Campanha da Fraternidade.
A grande novidade – Evangelho – da fé cristã é o encontro com Jesus, o Filho Eterno que nos revela o Pai e no coenvolve na fraternidade universal dos filhos e filhas de Deus. O fundamental objetivo da vida cristã é estar em comunhão com o Amor de Deus, Pai, e ser comunidade de irmãos em Cristo Jesus. A comunhão de toda a humanidade na comum dignidade dada pelo Criador e no seu destino eterno de unidade plena nEle inspira e estimula a missão da Igreja – comunidade germe e instrumento do Reino de Deus, que é a realização plena da humanidade.
Assim, toda a convivência humana ganha sua maior e definitiva dimensão. E tudo o que se refere aos relacionamentos humanos, interpessoais, sociais, políticos, universal, encontra luzes e forças para sua justa realização no bem comum de todos.
Esta é a proposta da Campanha da Fraternidade de 2019: FRATERNIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS, colhendo da própria Palavra de Deus revelada a orientação e estímulo na busca do bem comum social, expressão da comunhão humana que vai crescendo na direção da mais plena realização do Reino de Deus, que é Reino do Homem, em sua máxima expressão: “Serás libertado pelo direito e pela justiça.” nas palavras do profeta Isaías (1, 27).
Todos os esforços humanos na busca do direito e da justiça, tendo em vista o bem de cada pessoa no conjunto do bem para todos, tomam forma nas políticas públicas que se dirigem para o bem comum.  O discernimento conjunto que supera interesses particulares e egoístas na organização da convivência social, na consideração da dignidade e do bem de todos os cidadãos, promovem a mais plena liberdade e desenvolvimento harmônico para todos em sua igual dignidade e destino. O discernimento social se realiza no pleno exercício do diálogo, das colaborações recíprocas, na superação de todos os particularismos egoístas, de todas as injustiças e na busca do bem de cada pessoa humana, colocada no centro das atenções e não posposta a bens meramente materiais.
A Campanha da Fraternidade convoca para um diálogo respeitoso e inteligente de todos na Igreja e na Sociedade Humana em busca de caminhos concretos para a promoção da fraternidade de todos na única família humana e no seu destino comum. Os caminhos concretos tornam-se políticas públicas, ações da convivência comum, tornam-se direitos reconhecidos e vividos na direção do valor maior: o bem comum, o bem de todos, o verdadeiro bem que encaminha para o destino humano maior. A convocação da Campanha da Fraternidade quer chamar à consciência e à prática da solidariedade, que só poderá fazer o bem, influenciando assim a própria organização da vida humana, pessoal, social e política. Serão valores e união de esforços que terão certamente como fruto o bem comum de toda a família humana – em sua real fraternidade.
Ela é uma proposta a superar os particularismos para se abrir ao bem comum de todos. A sociedade humana é plural, e a mesma política partidária é necessária para o diálogo das mais diversas categorias da sociedade no caminho comum. As diferenças, no entanto, não podem ser concorrência de interesses na busca da satisfação do mais forte. As diferenças se tornam riqueza quando colocadas todas solidariamente na busca do melhor de cada um pelo bem de todos. O encontro feito no diálogo que busca não um próprio interesse às custas do prejuízo de outrem, mas conjugar os melhores esforços para o bem que seja geral e que promova a vida e a realização de todos na comunhão social. O caminho será o exercício humano mais rico, para que tudo concorra para o bem comum, que os meios sejam propiciados a todos em suas reais e diversas necessidades. A construção de uma sociedade justa, fraterna, solidária será possível e benefício universal, com a cooperação de muitos, de todos. A regra maior: o Bem Comum, o bem em seu sentido mais real, concreto e verdadeiro. Realmente um bem para poucos, para alguns, não pode ser verdadeiro bem. Afinal, “Pelos frutos se conhece a árvore.” – os frutos das ações humanas na liberdade, no direito, na justiça, são a demonstração mais clara de que os bens da vida só serão verdadeiros se concorrerem para o bem de toda a comunidade humana. Somos chamados à fraternidade, responsável e solidariamente ao governo da cidade humana na justiça e no direito. 
+ José Antonio Aparecido Tosi Marques, 
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza

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