Uma
viagem "histórica" que tem a esperança de escrever um novo capítulo
nas relações entre as religiões. Esta é a expectativa do cardeal secretário de
Estado Pietro Parolin entrevistado pelo Vatican News, sobre a visita do Papa
aos Emirados Árabes Unidos, de 3 a 5 de fevereiro. Os dois principais momentos
da viagem são o encontro inter-religioso no Memorial do Fundador em Abu Dhabi e
a Missa na Cidade Esportiva de Zayed.
Roberto Piermarini - Cidade do Vaticano
O secretário de Estado do Vaticano na entrevista, define os Emirados Árabes Unidos como uma ponte entre o Oriente e o Ocidente e uma terra multicultural, multiétnica e multi-religiosa. A mensagem do Papa - diz ele - será para todos os líderes e membros das religiões, para que se empenhem em trabalhar juntos para construir a unidade, a paz e a harmonia no mundo, para redescobrir as raízes de nossa fraternidade, em vista de uma luta clara e explícita contra qualquer tipo de fundamentalismo e radicalismo que leve a conflitos e contraposições. O cardeal Parolin também recorda que a viagem apostólica do Papa o levará a encontrar numerosos católicos presentes no país, para encorajá-los a continuar a dar seu testemunho cristão e a contribuir para a construção da sociedade e, de maneira mais geral, para a paz e a reconciliação.
Francisco é o primeiro Pontífice a
visitar os Emirados Árabes Unidos. Quais perspectivas para essa viagem, por
muitos definida como histórica?
R. - Sim, é a primeira vez
que um Papa viaja para os Emirados Árabes Unidos e de forma mais geral para a
Península Arábica. Gostaria de enfatizar em primeiro lugar as características
desta terra, uma terra que é um pouco como uma ponte entre o Oriente e o
Ocidente. Basta pensar nas escalar aéreas: geralmente, para ir para o oriente,
você tem que passar por algum aeroporto dos Emirados Árabes Unidos. E depois, é
uma terra que se caracteriza precisamente por ser uma terra multicultural,
multiétnica e multireligiosa. Nessa realidade, o Papa vai sobretudo - como ele
mesmo disse na mensagem de vídeo que divulgou por ocasião da viagem - para
escrever uma nova página - pelo menos essa é a expectativa, a expectativa e a
esperança – para escrever uma nova página na história das relações entre as
religiões, confirmando sobretudo o conceito da fraternidade. E portanto será
uma mensagem a todos os líderes das religiões e a todos os membros das
religiões, para que se comprometam de maneira comum para construir a unidade, a
paz e a harmonia no mundo. Depois, naturalmente, o Papa encontrará também
uma comunidade cristã, uma comunidade católica e em relação a esses irmãos e
irmãs na fé, a sua será sobretudo, uma presença de conforto e de encorajamento
para seguir em seu testemunho cristão.
O Papa Francisco participará do
Encontro inter-religioso a ser realizado em Abu Dhabi. Em um mundo ferido pelo
fundamentalismo, qual o papel desses eventos?
R. - Eu acredito que tenham
um papel fundamental, porque mais uma vez as religiões se encontram juntas para
afirmar a mensagem da fraternidade universal. Somos todos irmãos, todos temos a
mesma dignidade, compartilhamos os mesmos direitos e os mesmos deveres, somos
filhos do mesmo Pai no céu. É, portanto, redescobrir a raiz da nossa
fraternidade, que é a comum pertença à humanidade. E tudo isso,
naturalmente, em vista de uma luta muito clara, muito explícita contra todo
tipo de fundamentalismo, contra too tipo de radicalismo que possa levar a
conflitos e contraposições, e em vista de construir caminhos de reconciliação e
de paz. Poderíamos usar uma imagem, já que lá há muito deserto: muitas vezes os
caminhos do deserto são cobertos de areia, as tempestades os fazem desaparecer.
Trata-se de redescobri-los e de começar a percorrê-los, todos juntos, de forma
tal a oferecer verdadeiramente uma esperança ao nosso mundo tão dividido e fragmentado.
O coração desta viagem, a celebração
eucarística no estádio da capital: a presença do Papa nesta área será um
apoio e esperança também para muitos cristãos que não podem viver livremente a
sua fé? Quais os seus votos...
R. - Sim, eu dizia antes que
são muitos os cristãos vivem lá; muitos cristãos provenientes quer dos países
vizinhos, mas também de outras partes do mundo, que vão para essa terra para
encontrar oportunidades de emprego, mas ao mesmo tempo, a presença deles
ali torna-se uma experiência de encontro com o outro. E parece-me que
éenfatizada também a vontade e o empenho das autoridades desses Estados, desses
países, para fazer com que se tornem modelos de coexistência e de
colaboração entre os vários componentes. Portanto, esperamos que os cristãos
que estão ali presentes, possam continuar a dar a sua contribuição também para
a construção daquela sociedade, mas de modo mais geral, para a paz e a
reconciliação no mundo. E às irmãs e aos irmãos católicos que encontram
dificuldades e também fazem tantos sacrifícios para viver sua fé, gostaria de
dizer neste momento que somos próximos a eles, que realmente nos sentimos
ligados a eles por uma fraternidade cristã e que fazemos de tudo para
ajudá-los através dos meios que estão à nossa disposição.
O senhor foi aos Emirados Árabes
Unidos em 2015, onde inaugurou uma igreja. Que realidade o Papa encontrará?
R.
- Eu poderia reunir algumas das características desta Igreja - que eu
pude encontrar, apenas alguns anos atrás, por ocasião da consagração de uma
nova igreja dedicada ao Apóstolo São Paulo - em torno a três adjetivos:
primeiro de tudo, é uma Igreja numerosa; é uma Igreja com um rosto composto,
porque é feita de fiéis pertencentes a diferentes culturas com diversas línguas
e diversos ritos e que também se torna, em certo sentido, um laboratório de
unidade e de comunhão, porque o desafio é precisamente esse, também no interior
dessa diversidade, dessas diferenças tão acentuadas, de encontrar na Igreja uma
casa comum. Provavelmente, também aqui não faltam desafios e dificuldades e, às
vezes, também há tensões. Mas parece-me que realmente há um esforço por parte
de todos, sob a orientação de pastores locais, de viver uma autêntica comunhão.
E uma terceira característica é que me parece uma Igreja muito dinâmica, uma
Igreja cheia de vida, cheia de vitalidade dentro dela; bastaria participar - e
o Papa o fará porque celebrará a Missa - nas celebrações desta comunidade para
ver como são realmente comunidades vibrantes, que participam plenamente das celebrações
litúrgicas - e ao mesmo tempo também empenhada em testemunhar no ambiente em
que se encontra e a colocar-se a serviço da sociedade junto à qual vive e
trabalha.
Entrevista com o cardeal Pietro Parolin
Fonte: VaticanNews
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