O
«significado» existencial deste fenômeno criminoso, "tendo em conta a sua
amplitude e profundidade humana, só pode ser a manifestação atual do espírito
do mal. Sem ter presente esta dimensão, permaneceremos longe da verdade e sem
verdadeiras soluções (...). Estamos perante uma manifestação do mal, descarada,
agressiva e destruidora (...), que no seu orgulho e soberba, se sente o dono do
mundo e pensa que venceu", alertou o Papa em seu discurso.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco presidiu na manhã
deste domingo, 24, na Sala Régia do Palácio Apostólico, a Santa Missa com os
presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo e superiores de
Congregações, presentes no Encontro sobre a Proteção dos Menores e Adultos
Vulneráveis na Igreja. Eis seu pronunciamento:
"Amados irmãos e irmãs!
Ao dar graças ao Senhor que nos
acompanhou nestes dias, quero agradecer também a todos vós pelo espírito
eclesial e o empenho concreto que manifestastes com tanta generosidade.
O nosso trabalho levou-nos a
reconhecer, uma vez mais, que a gravidade do flagelo dos abusos sexuais contra
menores é um fenômeno historicamente difuso, infelizmente, em todas as culturas
e sociedades. Mas, apenas em tempos relativamente recentes, se tornou objeto de
estudos sistemáticos, graças à mudança de sensibilidade da opinião pública
sobre um problema considerado tabu no passado, ou seja, todos sabiam da sua
existência, mas ninguém falava nele. Isto traz-me à mente também a prática
religiosa cruel, difusa no passado em algumas culturas, de oferecer seres
humanos – frequentemente crianças – como sacrifícios nos ritos pagãos. Todavia,
ainda hoje, as estatísticas disponíveis sobre os abusos sexuais contra menores,
compiladas por várias organizações e organismos nacionais e internacionais
(Oms, Unicef, Interpol, Europol e outros), não apresentam a verdadeira extensão
do fenômeno, muitas vezes subestimado, principalmente porque muitos casos de
abusos sexuais de menores não são denunciados, sobretudo os numerosíssimos
abusos cometidos no interior da família.
De fato, as vítimas raramente
desabafam e buscam ajuda. Por trás desta relutância, pode estar a vergonha, a
confusão, o medo de retaliação, os sentimentos de culpa, a difidência nas
instituições, os condicionalismos culturais e sociais, mas também a falta de
informação sobre os serviços e as estruturas que podem ajudar. Infelizmente, a
angústia leva à amargura, e mesmo ao suicídio, ou por vezes a vingar-se,
fazendo o mesmo. A única coisa certa é que milhões de crianças no mundo são
vítimas de exploração e de abusos sexuais.
Seria importante referir os dados
gerais – na minha opinião, sempre parciais – a nível global e sucessivamente a
nível da Europa, da Ásia, das Américas, da África e da Oceânia, para ter um
quadro da gravidade e profundidade deste flagelo nas nossas sociedades. Para
evitar discussões desnecessárias, quero antes de mais nada salientar que a
menção de alguns países tem por único objetivo citar os dados estatísticos
referidos nos citados Relatórios.
A primeira verdade que resulta dos
dados disponíveis é esta: quem comete os abusos, ou seja, as
violências (físicas, sexuais ou emotivas) são sobretudo os pais, os
parentes, os maridos de esposas-meninas, os treinadores e os educadores.
Além disso, segundo os dados Unicef de 2017 relativos a 28 países no mundo, em
cada 10 meninas-adolescentes que tiveram relações sexuais forçadas, 9 revelam
que foram vítimas duma pessoa conhecida ou próxima da família.
De acordo com os dados oficiais do
governo americano, nos Estados Unidos mais de 700.000 crianças são, anualmente,
vítimas de violência e maus tratos. Segundo o Centro Internacional para
Crianças Desaparecidas e Exploradas (Icmec), uma em cada 10 crianças sofre
abuso sexuais. Na Europa, 18 milhões de crianças são vítimas de abusos sexuais.
Se tomarmos o exemplo da Itália,
o relatório 2016 de «Telefone Azul» salienta que 68,9% dos abusos acontece
dentro das paredes domésticas do menor.
Palco de violências não é apenas o
ambiente doméstico, mas também o do bairro, da escola, do desporto e,
infelizmente, também o ambiente eclesial.
Dos estudos realizados, nos últimos
anos, sobre o fenômeno dos abusos sexuais contra menores, resulta também que o
desenvolvimento da web e dos mass-media contribuiu para
aumentar significativamente os casos de abusos e violências perpetrados on-line.
A difusão da pornografia cresce rapidamente no mundo através da internet. O
flagelo da pornografia assumiu dimensões assustadoras, com efeitos deletérios
sobre a psique e as relações entre homem e mulher, e entre estes e os filhos.
Um fenômeno em crescimento contínuo. Uma parte considerável da produção
pornográfica tem, infelizmente, por objeto os menores, que deste modo ficam
gravemente feridos na sua dignidade. Estudos neste campo documentam que isto
acontece sob formas cada vez mais horríveis e violentas; chega-se ao extremo
dos atos de abuso sobre menores comissionados e seguidos ao vivo através da
internet.
Lembro aqui o Congresso internacional
realizado em Roma sobre o tema da dignidade da criança na era digital; bem como
o primeiro Fórum da Aliança Inter-religiosa para Comunidades mais Seguras, que
teve lugar, sobre o mesmo tema, no passado mês de novembro, em Abu Dhabi.
Outro flagelo é o turismo
sexual: anualmente, segundo os dados 2017 da Organização Mundial de
Turismo, três milhões de pessoas no mundo viajam para ter
relações sexuais com um menor. Fato significativo é que, na maior parte dos
casos, os autores de tais crimes não sabem que estão a cometer um reato.
Estamos, pois, diante dum problema
universal e transversal que, infelizmente, existe em quase toda a parte.
Devemos ser claros: a universalidade de tal flagelo, ao mesmo tempo que
confirma a sua gravidade nas nossas sociedades, não diminui a sua
monstruosidade dentro da Igreja.
A desumanidade do fenômeno, a nível
mundial, torna-se ainda mais grave e escandalosa na Igreja, porque está em
contraste com a sua autoridade moral e a sua credibilidade ética. O consagrado,
escolhido por Deus para guiar as almas à salvação, deixa-se subjugar pela sua
fragilidade humana ou pela sua doença, tornando-se assim um instrumento de
satanás. Nos abusos, vemos a mão do mal que não poupa sequer a inocência das
crianças.
Não há explicações suficientes para
estes abusos contra as crianças. Com humildade e coragem, devemos reconhecer
que estamos perante o mistério do mal, que se encarniça contra os mais frágeis,
porque são imagem de Jesus. É por isso que atualmente cresceu na Igreja a
consciência do dever que tem de procurar não só conter os gravíssimos abusos
com medidas disciplinares e processos civis e canônicos, mas também enfrentar
decididamente o fenômeno dentro e fora da Igreja. Sente-se chamada a combater
este mal que atinge o centro da sua missão: anunciar o Evangelho aos pequeninos
e protegê-los dos lobos vorazes.
Quero repetir aqui claramente: ainda
que na Igreja se constatasse um único caso de abuso – o que em si já constitui
uma monstruosidade –, tratar-se-á dele com a máxima seriedade. De fato, na ira
justificada das pessoas, a Igreja vê o reflexo da ira de Deus, traído e
esbofeteado por estes consagrados desonestos. O eco do grito silencioso dos
menores, que, em vez de encontrar neles paternidade e guias espirituais,
acharam algozes, fará abalar os corações anestesiados pela hipocrisia e o
poder. Temos o dever de ouvir atentamente este sufocado grito silencioso.
É difícil, porém, compreender o
fenômeno dos abusos sexuais contra os menores sem a consideração do poder, pois
aqueles são sempre a consequência do abuso de poder, a exploração duma posição
de inferioridade do indefeso abusado que permite a manipulação da sua
consciência e da sua fragilidade psicológica e física. O abuso de poder está
presente também nas outras formas de abusos de que são vítimas quase oitenta e
cinco milhões de crianças, no esquecimento geral: as crianças-soldado, os
menores prostituídos, as crianças desnutridas, as crianças raptadas e
frequentemente vítimas do monstruoso comércio de órgãos humanos, ou então
transformadas em escravos, as crianças vítimas das guerras, as crianças
refugiadas, as crianças abortadas, etc.
Perante tanta crueldade, tanto
sacrifício idólatra das crianças ao deus poder, dinheiro, orgulho, soberba, não
são suficientes meras explicações empíricas; estas não são capazes de fazer
compreender a amplitude e a profundidade deste drama. A hermenêutica
positivista demonstra, mais uma vez, a sua limitação. Dá-nos uma explicação verdadeira
que nos ajudará a tomar as medidas necessárias, mas não é capaz de nos indicar
o significado. E hoje precisamos de explicações e significados.
As explicações ajudar-nos-ão imenso no setor operativo, mas deixar-nos-ão a
meio do caminho.
Qual seria então o «significado»
existencial deste fenômeno criminoso? Hoje, tendo em conta a sua amplitude e
profundidade humana, só pode ser a manifestação atual do espírito do mal. Sem
ter presente esta dimensão, permaneceremos longe da verdade e sem verdadeiras
soluções.
Irmãos e irmãs, estamos hoje perante
uma manifestação do mal, descarada, agressiva e destruidora. Por detrás e
dentro disto está o espírito do mal, que, no seu orgulho e soberba, se sente o
dono do mundo e pensa que venceu. Isto gostaria de vo-lo dizer com a autoridade
de irmão e pai (pequeno, sem dúvida, mas que é o pastor da Igreja que preside
na caridade): nestes dolorosos casos, vejo a mão do mal que não poupa sequer a
inocência dos pequeninos. E isto leva-me a pensar no exemplo de Herodes que,
impelido pelo medo de perder o seu poder, ordenou massacrar todas as crianças
de Belém.
E assim como devemos tomar todas as
medidas práticas que o bom senso, as ciências e a sociedade nos oferecem, assim
também não devemos perder de vista esta realidade e tomar as medidas
espirituais que o próprio Senhor nos ensina: humilhação, acusa de nós mesmos,
oração, penitência. É o único modo de vencer o espírito do mal. Foi assim que
Jesus o venceu.
Assim, o objetivo da Igreja será
ouvir, tutelar, proteger e tratar os menores abusados, explorados e esquecidos,
onde quer que estejam. Para alcançar este objetivo, a Igreja deve elevar-se
acima de todas as polêmicas ideológicas e as políticas jornalísticas que frequentemente
instrumentalizam, por vários interesses, os próprios dramas vividos pelos
pequeninos.
Por isso, chegou a hora de
colaborarmos, juntos, para erradicar tal brutalidade do corpo da nossa
humanidade, adotando todas as medidas necessárias já em vigor a nível
internacional e a nível eclesial. Chegou a hora de encontrar o justo equilíbrio
de todos os valores em jogo e dar diretrizes uniformes para a Igreja, evitando
os dois extremos: nem judicialismo, provocado pelo sentimento de
culpa face aos erros passados e pela pressão do mundo midiático, nem autodefesa que
não enfrenta as causas e as consequências destes graves delitos.
Desejo, neste contexto, citar as «Boas
Práticas» formuladas, sob a guia da Organização Mundial da Saúde, por um
grupo de dez Agências internacionais que desenvolveu e aprovou um pacote de
medidas chamado INSPIRE, isto é, sete estratégias para
acabar com a violência contra as crianças.
Valendo-se destas diretrizes, a
Igreja, no seu percurso legislativo, graças também ao trabalho feito nos
últimos anos pela Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores e à
contribuição deste nosso Encontro, concentrar-se-á sobre as seguintes
dimensões:
1. A tutela das crianças: o objetivo primário das várias medidas é
proteger os pequeninos e impedir que caiam vítimas de qualquer abuso
psicológico e físico. Portanto, é necessário mudar a mentalidade combatendo a
atitude defensivo-reativa de salvaguardar a Instituição em benefício duma busca
sincera e decidida do bem da comunidade, dando prioridade às vítimas de abusos
em todos os sentidos. Diante dos nossos olhos, devem estar sempre presentes os
rostos inocentes dos pequeninos, recordando as palavras do Mestre: «Se alguém
escandalizar um destes pequeninos que creem em Mim, seria preferível que lhe
suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar.
Ai do mundo, por causa dos escândalos! São inevitáveis, decerto, os escândalos,
mas ai do homem por quem vem o escândalo!» (Mt 18, 6-7).
2. Seriedade impecável: gostaria de reiterar, aqui, que a Igreja
«não poupará esforços fazendo tudo o que for necessário para entregar à
justiça toda a pessoa que tenha cometido tais delitos. A
Igreja não procurará jamais dissimular ou subestimar qualquer um destes casos»
(Discurso à Cúria Romana, 21/XII/2018). É sua convicção que «os pecados
e crimes das pessoas consagradas matizam-se de cores ainda mais foscas de
infidelidade, de vergonha e deformam o rosto da Igreja, minando a sua
credibilidade. De facto, a própria Igreja, juntamente com os seus filhos fiéis,
é vítima destas infidelidades e destes verdadeiros crimes de peculato»
(Ibidem).
3. Uma verdadeira purificação:
apesar das medidas tomadas e os progressos realizados em matéria de prevenção
dos abusos, é necessário impor um renovado e perene empenho na santidade dos
pastores, cuja configuração a Cristo Bom Pastor é um direito do povo de Deus.
Reitera-se, pois, «a firme vontade de prosseguir, com toda a força, pelo
caminho da purificação. A Igreja (…) questionar-se-á como proteger as crianças;
como evitar tais calamidades, como tratar e reintegrar as vítimas; como
reforçar a formação nos seminários. Procurar-se-á transformar os erros
cometidos em oportunidades para erradicar este flagelo não só do corpo da
Igreja, mas também do seio da sociedade» (Ibidem). O temor santo de Deus
leva a acusar-nos – como pessoa e como instituição – e a reparar as nossas
falhas. Acusar-se a si próprio: é um início sapiencial, associado ao temor
santo de Deus. Aprender a acusar-se a si próprio, como pessoa, como
instituição, como sociedade. Na realidade, não devemos cair na armadilha de
acusar os outros, que é um passo rumo ao álibi que nos separa da realidade.
4. A formação: ou seja,
as exigências da seleção e formação dos candidatos ao sacerdócio com critérios
não só negativos, visando principalmente excluir as personalidades
problemáticas, mas também positivos oferecendo um caminho de formação
equilibrado para os candidatos idóneos, tendente à santidade e englobando a
virtude da castidade. Na encíclica Sacerdotalis caelibatus, São
Paulo VI deixou escrito: «Uma vida tão inteira e amavelmente dedicada, no
interior e no exterior, como a do sacerdote celibatário, exclui, de facto,
candidatos com insuficiente equilíbrio psicofísico e moral. Não se deve pretender
que a graça supra o que falta à natureza» (n.º 64).
5. Reforçar e verificar as diretrizes das Conferências Episcopais:
ou seja, reafirmar a necessidade da unidade dos Bispos na aplicação de
parâmetros que tenham valor de normas e não apenas de diretrizes. Nenhum abuso
deve jamais ser encoberto (como era habitual no passado) e subestimado, pois a
cobertura dos abusos favorece a propagação do mal e eleva o nível do escândalo.
De modo particular, é preciso desenvolver um novo enquadramento eficaz de
prevenção em toda as instituições e ambientes das atividades eclesiais.
6. Acompanhar as pessoas abusadas: o mal que viveram deixa nelas
feridas indeléveis que se manifestam também em rancores e tendências à
autodestruição. Por isso, a Igreja tem o dever de oferecer-lhes todo o apoio
necessário, valendo-se dos especialistas neste campo. Escutar… eu diria «perder
tempo» escutando. A escuta cura a pessoa ferida, e cura-nos a nós também do
egoísmo, da distância, do «não me diz respeito», da atitude do sacerdote e do
levita na parábola do Bom Samaritano.
7. O mundo digital: a proteção dos menores deve ter em conta as novas
formas de abuso sexual e de abusos de todo o gênero que os ameaçam nos
ambientes onde vivem e através dos novos instrumentos que utilizam. Os
seminaristas, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os agentes pastorais
e todos os fiéis devem estar cientes de que o mundo digital e o uso dos seus
instrumentos com frequência incidem mais profundamente do que se pensa. Quero
aqui encorajar os países e as autoridades a aplicarem todas as medidas
necessárias para limitar os websites que ameaçam a dignidade
do homem, da mulher e, em particular, dos menores: o reato não goza do direito
à liberdade. É absolutamente necessário opor-se com a máxima decisão a tais
abomínios, vigiar e lutar para que o desenvolvimento dos pequeninos não seja
perturbado nem abalado por um acesso descontrolado à pornografia, que deixará
sinais negativos profundos na sua mente e na sua alma. Devemos esforçar-nos por
que as jovens e os jovens, particularmente os seminaristas e o clero, não se
tornem escravos de dependências baseadas na exploração e no abuso criminoso dos
inocentes e suas imagens e no desprezo da dignidade da mulher e da pessoa
humana. Destacam-se aqui as novas normas «sobre os delitos mais graves»
aprovadas pelo Papa Bento XVI em 2010, onde fora acrescentado como um novo caso
de delito «a aquisição, a detenção ou a divulgação», realizada por um membro do
clero «de qualquer forma e por qualquer meio, de imagens pornográficas tendo
por objeto menores». Falava-se então de «menores de 14 anos»; agora achamos que
devemos elevar este limite de idade para ampliar a tutela dos menores e
insistir na gravidade destes fatos.
8. O turismo sexual: o
comportamento, o olhar, o íntimo dos discípulos e servidores de Jesus devem
saber reconhecer a imagem de Deus em toda a criatura humana, a começar pelos
mais inocentes. Somente bebendo neste respeito radical da dignidade do outro é
que poderemos defendê-lo da força invasiva da violência, exploração, abuso e
corrupção, e servi-lo de forma credível no seu crescimento integral, humano e
espiritual, no encontro com outros e com Deus. Para combater o turismo sexual,
é necessária a repressão judicial, mas também apoio e projetos para a
reinserção das vítimas desse fenómeno criminoso. As comunidades eclesiais são
chamadas a reforçar o cuidado pastoral das pessoas exploradas pelo turismo
sexual. Entre estas, as mais vulneráveis e necessitadas de ajuda particular são
certamente mulheres, menores e crianças; estas últimos, porém, precisam de
proteção e atenção especiais. As autoridades governamentais deem prioridade e
ajam urgentemente para combater o tráfico e a exploração econômica das
crianças. Para isso, é importante coordenar os esforços a todos os níveis da
sociedade e colaborar estreitamente também com as organizações internacionais
para realizar um quadro jurídico que proteja as crianças da exploração sexual
no turismo e permita perseguir legalmente os criminosos.
Permito-me um sentido agradecimento a
todos os sacerdotes e consagrados que servem o Senhor com total fidelidade e se
sentem desonrados e desacreditados pelos vergonhosos comportamentos dalguns dos
seus confrades. Todos – Igreja, consagrados, Povo de Deus e até o próprio Deus
– carregamos as consequências das suas infidelidades. Agradeço, em nome da
Igreja inteira, à grande maioria dos sacerdotes que não só permanecem fiéis ao
seu celibato, mas se gastam num ministério que hoje se tornou ainda mais
difícil pelos escândalos de poucos (mas sempre demasiados) dos seus irmãos. E
obrigado também aos fiéis que conhecem bem os seus bons pastores e continuam a
rezar por eles e a apoiá-los.
Por fim, gostaria de assinalar a
importância de dever transformar este mal em oportunidade de purificação.
Fixemos o olhar na figura de Edith Stein (Santa Teresa Benedita da Cruz), com a
certeza de que, «na noite mais escura, surgem os maiores profetas e os santos.
Todavia a corrente vivificante da vida mística permanece invisível. Certamente,
os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados
por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história. E saber quais
sejam as almas a quem devemos agradecer os acontecimentos decisivos da nossa
vida pessoal, é algo que só conheceremos no dia em que tudo o está oculto for
revelado». No seu silêncio quotidiano, o santo Povo fiel de Deus continua de
muitas formas e maneiras a tornar visível e a atestar com «obstinada» esperança
que o Senhor não abandona, que apoia a dedicação constante e, em muitas
situações, atribulada dos seus filhos. O santo e paciente Povo fiel de Deus,
sustentado e vivificado pelo Espírito Santo, que é o rosto melhor da Igreja
profética que, na sua doação diária, sabe colocar no centro o seu Senhor. Será
precisamente este santo Povo de Deus que nos libertará do flagelo do
clericalismo, que é o terreno fértil para todos estes abomínios.
O
melhor resultado e a resolução mais eficaz que podemos oferecer às vítimas, ao
Povo da Santa Mãe Igreja e ao mundo inteiro são o compromisso em prol duma
conversão pessoal e coletiva, a humildade de aprender, escutar, assistir e
proteger os mais vulneráveis.
Fonte: Vatican News
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