Para
Jesus, o amor é não ter medo de nada e de ninguém, é proclamar e viver o grande
anúncio.
Ontem celebramos uma festa muito querida ao coração
do povo e da Vida Consagrada: a apresentação de Jesus no Templo por parte de
Maria e José, o dia da luz. A luz que é Jesus se vai espalhando pelo mundo
inteiro e Maria é o grande candelabro que sustenta e oferece esta luz à
humanidade. A vida consagrada celebra a oferta da própria vida como dom
recebido e doado. Sempre o consagrado é teofania, imagem viva de Jesus no meio
do povo. Mas os consagrados são santos pobres, obedientes, castos, profetas, e
mais, o Evangelho é uma força para todos. Não podemos e nem devemos esquecer
que somos chamados a ir ao Templo para fazer não mais a oferta de coisas
materiais, mas sim de vida.
No
Templo, sempre encontramos alguém que nos espera, o velho Simeão e a profetisa
Ana, que nos acolhem e nos falam dos tempos novos. Todas as noites, a Igreja
nos convida, antes de ir dormir, a rezar o cântico de Simeão (“Agora, Senhor,
conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus
olhos viram a tua salvação…” – Cântico rezado durante a oração das Completas),
que não é um cântico de quem espera a morte, mas de quem espera a vida em
plenitude.
Ao mesmo
tempo, Simeão apresenta a profecia da dor que salva e da paixão que abre novos
caminhos e nova vida. A festa das velas, como também é chamada, anuncia a mesma
Paixão e Ressurreição. Sem os olhos fixos num futuro melhor e de esperança, nós
perdemos de vista a beleza do nosso futuro, que não pode nunca ser um
futuro de pessimismo, mas sempre de alegria, de vida em plenitude e de amor.
A liturgia deste
domingo também nos chama a ter a coragem de olhar as
dificuldades nos olhos e não ter medo. O medo nunca é bom para a vida. É normal
que diante da cruz, do desconhecido, surja o medo, mas este deve ser logo
superado com um ato de fé no Senhor, que vai conduzindo a nossa história
pessoal e comunitária. Vamos caminhando, construindo, pedaço por pedaço, o
nosso dia. Deus é o arquiteto, o engenheiro, nós somos pedreiros, e como tal,
seguimos o desígnio que nos é colocado nas mãos. Com fidelidade, a casa será
bem construída e nenhuma tempestade nem terremoto poderá destruí-la. O povo de
Deus sempre avança na noite, mas a luz de Deus guia-o até o fim. O medo não
pode existir no coração de quem tem fé.
Farão
guerra, mas não te vencerão, porque eu estarei contigo
O profeta Jeremias na sua existência sofreu
bastante. Foi incompreendido, perseguido, caluniado, colocado na cadeia, mas
nunca se afastou de Deus. Tinha a convicção de que Deus lhe tinha confiado uma
missão, a de conscientizar o povo do rei para que se convertesse. Insiste na
conversão através de dois caminhos muito importantes: a palavra e a simbologia
dos gestos.
O texto de hoje pode ser que seja um dos mais
conhecidos de toda a Escritura. Ele nos manifesta a misericórdia e a ternura de
Deus, que nos escolhe por puro amor, aliás, com um amor eterno. Somos
escolhidos por Deus antes do tempo, amados antes que fomos formados no seio
materno, fomos conhecidos amados e consagrados para uma missão.
Sempre que leio esse texto confesso que me comovo e
me pergunto o que Deus encontrou em mim de tão importante para me escolher, me
consagrar e me dar uma missão que não é fácil escolher uma vez para sempre.
Jeremias se sente profeta no meio do povo como luz, como sentinela que deve
viajar e chamar atenção para que o povo não se afaste do projeto de Deus. Ao
mesmo tempo, ele tem medo, e Deus lhe infunde coragem. Quem confia em Deus vai
ser rejeitado, mas não vencido.
O coração
do cristianismo é o amor
O cântico da caridade de Paulo apóstolo é escrito
num momento de profunda contemplação e de profundo sofrimento em constatar que
a comunidade de Coríntios tem tudo: riqueza, inteligência, pregadores
excelentes, teólogos, mas não tem o amor. Tem divisões, tem concorrência, tem
competitividade, brigas, busca de poder…
E quando falta o amor que vem de Deus e que nos faz
irmãos entre nós no perdão, na caridade e na esperança, a que servem os
carismas chamativos? Curas, milagres, visões, interpretações dos corações? Não
servem a nada. Devemos voltar no dia e meditar, ou melhor, rezar esta grande
oração de Paulo especificamente o versículo 7: o amor suporta tudo, crê tudo,
espera tudo, desculpa tudo, e o versículo 13 que diz que a virtude maior é
amor, aqui e na eternidade. Compreender e viver isso é santidade.
A profecia do amor
Jesus não é o profeta da Lei, é o profeta do amor.
Não importa que seja incompreendido, rejeitado, condenado e crucificado, Ele
continua a ser sempre o profeta do Amor. Mas, que o é amor para Jesus? É dar a
vida até a última gota de sangue e não parar de falar a todos que não devemos
julgar nem condenar, que devemos acolher os pecadores, que ele veio para servir
e não para ser servido… Para Jesus, o profetismo do amor é lavar os pés não só
dos discípulos, mas de todos, é ir na casa dos pecadores e das prostitutas, é
dialogar com a samaritana, é receber de noite Nicodemos que tem medo de ser
visto e julgado, é deixar a pecadora lavar-lhe os pés com suas lágrimas e
beijar-lhe os pés. Para Jesus, a profecia do amor vai sempre ao encontro dos
últimos.
Para Jesus, o amor é não ter medo de nada e de
ninguém, é proclamar e viver o grande anúncio. Não são os justos que necessitam
de salvação, mas os pecadores. Não são os sãos que necessitam de médicos, mas
os doentes… o amor não pode jamais desaparecer, porque é vida, é primavera, é
santidade, o desamor é egoísmo, inverno, é morte. É compreensível que os que
não amam e não sabem o que é amor se revoltem contra Jesus, que faz referência
a Elias, que foi enviado a uma viúva fora do povo eleito, e faz referência a
Eliseu que curou o leproso, Naamã, pagão, e deixou leprosos muitos que eram
judeus… O amor não faz distinção de pessoas, de raça, de cor, de religião… Ama
e basta.
Escola de
oração
Diz-nos
Papa Francisco que “a santidade é o rosto mais belo da Igreja. Mas, mesmo fora
da Igreja Católica e em áreas muito diferentes, o Espírito suscita ‘sinais da
sua presença, que ajudam os próprios discípulos de Cristo’”. (Gaudete et
Exsultate, 9). Rezemos com esta reflexão.
Fonte: Site da Comunidade Shalom
Nenhum comentário:
Postar um comentário