João 2, 1-12
SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C
Celebramos o domingo das bodas de
Caná. Terminando o ciclo do Natal, iniciamos o tempo comum, que se estenderá
até a quarta feira de cinzas. Serão oito domingos, em que a Palavra de Deus nos
convida a entrar no mistério da vida pública de Jesus. Hoje, o evangelho (Jo
2,1-12) nos apresenta Jesus participando de uma festa de casamento e aí
manifestando seu primeiro sinal, transformando água em vinho. A mãe de Jesus,
Maria, nos convida a fazer tudo o que ele disser.
A página evangélica que a Igreja nos
faz ler neste domingo – o 2º do Tempo Comum – é riquíssima nos ensinamentos. E
todos a conhecemos, na narração viva e concisa de João. Uma festa de casamento.
Em Caná da Galiléia. Talvez de algum parente da virgem Maria. Por isso, ela
estava lá. E estava também Jesus. E, com ele, os apóstolos. A certa altura da
festa acabou-se o vinho. Um grande vexame para o noivo! Maria, que estava mais
próxima do pessoal de serviço, disse a Jesus: “Eles já não têm vinho”. Uma
informação que era, ao mesmo tempo, uma súplica. E que nos faz adivinhar o
profundo relacionamento da Mãe com o Filho, alimentando no longo convívio de
Nazaré. A resposta de Jesus não nos deve chocar; “Que temos com isso, mulher?
Minha hora ainda não chegou”. Jesus usou uma expressão idiomática que significa
apenas que o problema não devia ser resolvido por eles. E chamou-a “mulher”,
não no sentido de uma expressão de frieza, mas para indicar sua grandeza de
“nova Eva”, a mãe universal, que vinha amparar os filhos que a primeira Eva
desamparou. A mesma expressão vai aparecer ao pé da cruz quando ela é entregue
como mãe a João: “Mulher eis aí teu filho (Jô. 19,26). A palavra hora a que
Jesus se refere e que aparece, muitas vezes, nos seus lábios, é a hora de sua
glorificação pela morte – ressurreição. Fazer milagre e tornar público seu
poder divino seria apressar essa hora, desencadeando todo o processo da paixão.
No evangelho apresentado, percebemos
que Jesus é aquele que inaugura a nova aliança, que traz o vinho novo, de ótima
qualidade, em abundância. O vinho, por sua vez, é símbolo muito forte do amor.
O vinho que Jesus dá é de ótima qualidade, fazendo esquecer o antigo. A
abundância do vinho (mais de 600 litros) era sinal da chegada do Messias, que
vai trazer o amor definitivo. Chegou, portanto, a hora de Jesus, que se
consumará na cruz, ao mostrar seu amor sem limites.
Jesus mostra à sua mãe que a antiga
aliança não tem mais razão de ser. Ele é o verdadeiro esposo da humanidade, pois
traz a vida em plenitude, simbolizada pela abundância do vinho; Ele inaugura o
novo modo de as pessoas se relacionarem com Deus: não mais na base da troca de
favores ou ritos de purificação, mas na base de amor pleno e verdadeiro. O
episódio de Caná marca o início dos sinais de Jesus, que tem como finalidade
levar a nova humanidade à maturidade da fé e à posse da vida. A mensagem que
tiramos desse evangelho é que a comunidade cristã, entregando-se total e
definitivamente ao esposo da humanidade, participa da Nova Criação, o mundo
novo. Vivemos tempos de plenitude, tempos de vinho novo e de ótima qualidade.
Os que caminham com Jesus na construção do reino de Deus são pessoas novas.
Pe. Raimundo Neto
Pároco de São Vicente
de Paulo
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