“Este
é o mistério do amor”, esclareceu Francisco, “Deus nos amou por primeiro. Ele
deu o primeiro passo”. Um passo “em direção à humanidade que não sabe amar”,
que “precisa do carinho de Deus para amar”, do testemunho de Deus.
Alessandro Di Bussolo - Cidade
do Vaticano
Deus “dá o primeiro passo” e ama “a
humanidade que não sabe amar”, porque ele tem compaixão e misericórdia,
enquanto nós mesmo sendo bons, muitas vezes não entendemos as necessidades dos
outros e permanecemos indiferentes, “talvez porque o amor de Deus” não entrou
em nossos corações.
Foi
o que disse o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na manhã desta
terça-feira (08/01), capela da Casa Santa Marta, oferecida ao eterno descanso
do arcebispo Giorgio Zur, núncio apostólico emérito na Áustria, que viveu ali
naquela casa e faleceu “ontem à meia-noite”, disse o Papa. O pontífice se
inspirou na liturgia de hoje, desde a exortação ao amor, da Primeira Carta de
São João Apóstolo, ao Evangelho de Marcos, sobre a multiplicação dos pães.
Deus deu o primeiro passo e nos amou primeiro
“Amemo-nos uns aos outros, porque o amor” vem de Deus, recordou
o Papa, citando as palavras de São João na Primeira Leitura. O apóstolo explica
“como o amor de Deus se manifestou em nós”: “Deus enviou seu Filho unigênito ao
mundo, para que tenhamos a vida através dele”.
“Este é o mistério do amor”, esclareceu Francisco, “Deus nos
amou por primeiro. Ele deu o primeiro passo”. Um passo “em direção à humanidade
que não sabe amar”, que “precisa do carinho de Deus para amar”, do testemunho
de Deus. “Este primeiro passo que Deus fez é o seu Filho: ele o enviou para nos
salvar e dar sentido à vida, para nos renovar, para nos recriar”.
Jesus teve compaixão da multidão
A seguir, Pontífice falou da passagem do Evangelho de Marcos
sobre a multiplicação dos pães e dos peixes. “Por que Deus fez isso?”,
perguntou. Por “compaixão”. A compaixão da grande multidão de pessoas que vê
descendo do barco, às margens do Lago de Tiberíades, porque estavam sozinhas,
sublinhou o Papa Francisco: “Eram como ovelhas que não têm pastor”.
O
coração de Deus, o coração de Jesus se comove, e vê, vê aquelas pessoas, e não
pode ficar indiferente. O amor é inquieto. O amor não tolera a indiferença. O
amor tem compaixão. Mas compaixão significa colocar o coração em risco;
significa misericórdia. Jogar o próprio coração para os outros: isso é amor. O
amor é colocar o coração em risco para os outros.
Os discípulos: que se arranjem para encontrar comida
Depois, o Papa descreveu a cena de Jesus que ensina “muitas
coisas” ao povo e os discípulos acabam ficando entediados, “porque Jesus sempre
dizia as mesmas coisas”. E enquanto Jesus ensina “com amor e compaixão”, talvez
comecem a “falar entre eles”. No final, eles olham para o relógio: “Mas é tarde
...”.
Francisco ainda citou o evangelista Marcos: “Mas Mestre, o lugar
é deserto e agora é tarde. Mandem eles embora, de modo que, indo para os
povoados vizinhos, possam comprar comida”. Praticamente dizem “para eles se
virar” e que comprem o pão deles. “Mas temos certeza”, comentou o Pontífice,
“de que sabiam que tinham pão para eles, e queriam proteger isso. É a
indiferença”:
Aos
discípulos não interessava as pessoas: interessava Jesus, porque o queriam bem.
Não eram maus: eram indiferentes. Eles não sabiam o que era amar. Eles não
sabiam o que era compaixão. Eles não sabiam o que era indiferença. Eles tiveram
que pecar, trair o Mestre, abandonar o Mestre, para entender o cerne da
compaixão e da misericórdia. E Jesus, a resposta é pungente: "Dai-lhes vós
mesmos de comer". Tomem conta deles. Esta é a luta entre a compaixão de
Jesus e a indiferença, a indiferença que se repete na história sempre, sempre
... Tantas pessoas que são boas, mas não compreendem as necessidades dos
outros, não são capazes de compaixão. São boas pessoas, talvez porque não
entrou o amor de Deus em seus corações ou não o deixaram entrar.
A fotografia das pessoas que desviam o olhar do sem-teto
E aqui o Papa Francisco descreve uma fotografia que está nas
paredes da Esmolaria Apostólica: "um clique espontâneo que fez um bravo
jovem romano que a ofereceu à Esmolaria". O fez Daniele Garofani, hoje
fotógrafo do "L'Osservatore Romano", retornando de um serviço de
distribuição de refeições para os sem-teto junto com o cardeal Krajewski.
É uma noite de inverno, “se percebia pela maneira de vestir das pessoas" - explica o Papa - que saíam "de um restaurante". "Pessoas bem cobertas" e satisfeitas: "haviam comido, estavam entre amigos".
É uma noite de inverno, “se percebia pela maneira de vestir das pessoas" - explica o Papa - que saíam "de um restaurante". "Pessoas bem cobertas" e satisfeitas: "haviam comido, estavam entre amigos".
E lá – prossegue Francisco na descrição da foto - "havia um
homem sem-teto no chão, que faz assim ..." (e imita o gesto da mão estendida
para pedir esmola). O fotógrafo, acrescenta ainda o Papa, "foi capaz de
tirar a fotografia no momento em que as pessoas desviam o olhar, para que os
olhos não se cruzem". Isto, comentou Francisco, "é a cultura da
indiferença. Isto é o que os apóstolos fizeram". "Deixe-os, que vão
para o campo, no escuro, com fome. Que eles se arranjem: é problema
deles". "Temos o que comer: cinco pães e dois peixes para nós".
O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença
"O amor de Deus sempre vai primeiro - explica o Papa - é
amor de compaixão, de misericórdia". É verdade que o oposto do amor é o
ódio, mas em tantas pessoas não existe um "ódio consciente":
O
oposto mais cotidiano ao amor de Deus, à compaixão de Deus, é a indiferença: a
indiferença. "Eu estou satisfeito, não me falta nada. Tenho tudo,
assegurei esta vida, e também a eterna, porque vou à Missa todos os domingos,
sou um bom cristão". "Mas, saindo do restaurante, eu olho para outra
parte". Pensemos: este Deus que dá o primeiro passo, que tem compaixão,
que tem misericórdia, e tantas vezes nós, o nosso comportamento é a
indiferença. Rezemos ao Senhor para que cure a humanidade, começando por nós:
que o meu coração seja curado dessa doença que é a cultura da indiferença.
Felicitação a Kiko Argüello pelo zelo apostólico
No final da celebração, Francisco envia uma cordial saudação a Kiko Argüello, iniciador do Caminho Neocatecumenal, pelo seu octogésimo aniversário, e agradece a ele" pelo zelo apostólico com que trabalha na Igreja".
Fonte: Vatican News
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