A
oração feita em silêncio, do fundo do coração, e que gera mudanças na vida, e
não aquela que desperdiça palavras. Na Audiência Geral desta quarta-feira, o
Papa Francisco deu continuidade a seu ciclo de catequeses sobre a oração do Pai
Nosso.
Jackson Erpen – Cidade Vaticano
Na primeira Audiência Geral do ano de
2019, o Papa deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o Pai Nosso,
iniciado em 5 de dezembro, inspirando-se nesta quarta-feira na passagem
de Mateus 6, 5-6.
O Evangelho de Mateus – explicou Francisco
aos 7 mil presentes na Sala Paulo VI – coloca o texto do “Pai Nosso” em um
ponto estratégico, no centro do Sermão da Montanha (Mt 6, 9-13). Reunidos em
volta de Jesus no alto da colina, uma “assembleia heterogênea” formada pelos
discípulos mais íntimos e por uma grande multidão de rostos anônimos é a
primeira a receber a entrega do Pai Nosso.
O Evangelho é revolucionário
Neste
“longo ensinamento” chamado “Sermão da Montanha”, de fato, Jesus condensa os
aspectos fundamentais de sua mensagem:
“Jesus coroa de felicidade uma
série de categorias de pessoas que em seu tempo - mas também no nosso! – não
eram muito consideradas. Bem-aventurados os pobres, os mansos, os
misericordiosos, os humildes de coração ... Esta é a revolução do Evangelho.
Onde está o Evangelho há uma revolução. O Evangelho não deixa quieto, nos
impulsiona, é revolucionário".
"Todas as pessoas capazes de
amar, os pacíficos que até então ficaram à margem da história, são, ao
contrário, construtores do Reino de Deus”. É como se Jesus - explica o
Papa - estivesse dizendo: “em frente, vocês que trazem no coração o mistério de
um Deus que revelou sua onipotência no amor e no perdão!”
Desta porta de entrada, que inverte
os valores da história, brota a novidade do Evangelho:
“A lei não deve ser abolida, mas
precisa de uma nova interpretação, que a leve de volta ao seu significado
original. Se uma pessoa tem um bom coração, predisposto a amar, então
compreende que cada palavra de Deus deve ser encarnada até suas últimas
consequências. O amor não tem limites: pode-se amar o próprio cônjuge, o
próprio amigo e até mesmo o próprio inimigo com uma perspectiva completamente
nova”.
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Este é “o grande segredo que está na
base de todo o Sermão da Montanha: sejam filhos de vosso Pai que está nos
céus”, disse o Pontífice, chamando a atenção para o fato de que em um primeiro
momento, estes capítulos do Evangelho de Mateus podem parecer um discurso
moral, evocar uma ética tão exigente a ponto de parecer impraticável. Mas pelo
contrário, “descobrimos que são sobretudo um discurso teológico:
“O cristão não é alguém que se
esforça para ser melhor do que os outros: ele sabe que é pecador como
todos. O cristão é simplesmente o homem que para diante da nova Sarça Ardente,
da revelação de um Deus que não traz o enigma de um nome impronunciável, mas
que pede a seus filhos que o invoquem com o nome de "Pai", para
deixar-se renovar por seu poder e de refletir um raio de sua
bondade por este mundo tão sedento de bem, tão à espera de boas notícias”.
Coerência
cristã
E Jesus – explica o Papa – introduz o
ensinamento da oração do “Pai Nosso” distanciando dois grupos de seu tempo,
começando pelos hipócritas”, que rezam nas praças e sinagogas para serem
vistos. “Há pessoas – disse o Francisco - que são capazes de tecer orações
ateias, sem Deus: fazem isso para serem admiradas pelos homens”, completando:
“E quantas vezes nós vemos o
escândalo daquelas pessoas que vão à igreja, estão lá todo o dia, ou vão todos
os dias, e depois vivem odiando os outros e falando mal das pessoas. Isto é um
escândalo. Melhor não ir à igreja. Viva assim como ateu. Mas se você vai à
igreja, viva como filho, como irmão e dá um verdadeiro testemunho. Não um
contratestemunho”.
A oração cristã, pelo contrário, não
tem outro testemunho crível senão a própria consciência, onde se
entrelaça intensamente um diálogo contínuo com o Pai.
Rezar
com o coração
Jesus então, continuou Francisco –
“toma distância das orações dos pagãos” - que acreditavam ser ouvidos pela
força das palavras. O Papa recorda a cena do Monte Carmelo, onde diferentemente
dos sacerdotes de Baal que gritavam, dançavam, pediam tantas coisas, é ao
Profeta Elias, que fica calado, que o Senhor se revela:
“Os pagãos pensam que falando,
falando falando, se reza. Também eu penso aos tantos cristãos que acreditam que
rezar – desculpem-me – é falar a Deus como um papagaio. Não! Rezar se faz do
coração, de dentro”.
O Pai Nosso – reitera o Santo Padre -
“poderia ser também uma oração silenciosa: basta no fundo colocar-se sob o
olhar de Deus, recordar-se de seu amor de Pai, e isto é suficiente para serem
ouvidos”.
Deus
não precisa de sacrifícios para conquistar seu favor
“Que bonito pensar que o nosso Deus
não precisa de sacrifícios para conquistar o seu favor! Ele não precisa de
nada, nosso Deus: na oração pede somente que tenhamos aberto um canal de
comunicação com ele, para nos descobrirmos sempre seus amados filhos”, disse o
Papa ao concluir.
Após o resumo da catequese nas
diversas línguas, houve a apresentação de um grupo cubano de dança e malabarismo.
Veja um trecho da catequese do Santo Padre
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