No
intenso discurso do Papa ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé,
Francisco falou também sobre o próximo Sínodo dos Bispos dedicado à Amazônia em
programa para outubro deste ano. O cardeal Fernando Filoni, Prefeito da
Congregação para a Evangelização dos Povos, recorda que “os povos indígenas são
o coração da Igreja”
Cidade do Vaticano
“A
Terra é de todos e as consequências da sua exploração recaem sobre toda a
população mundial, com efeitos mais dramáticos em algumas regiões. Entre essas,
a Amazônia”. Nesta passagem do discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto à
Santa Sé, Papa Francisco exprime sua grande preocupação pelos
efeitos do aquecimento global nas populações indígenas. Recordando a próxima
Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos no Vaticano, no mês de outubro,
sublinha que “apesar de tratar principalmente dos caminhos da evangelização
para o povo de Deus, não deixará também de enfrentar as problemáticas
ambientais em estreita relação com as consequências sociais”.
Card.
Filoni: os indígenas no coração da Igreja
Justamente por causa dos conflitos agrários, ainda se continua a
morrer no Brasil. Em Colniza, no Mato Grosso, no último sábado (05/01) uma
pessoa morreu e nove ficaram feridas em um confronto entre colonos que reclamam
o direito à terra na qual sempre viveram, e os seguranças das mesmas terras. O
bispo de Juína, Dom
Neri José Tondello falou de uma tragédia anunciada e espera uma
solução em breve. Há muito tempo os direitos da população local são o centro
dos interesses da Igreja que, justamente por isso, é muitas vezes atacada sendo
considerada inimiga. Um conceito evidenciado pelo cardeal Fernando
Filoni, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, que nos
fala sobre o Sínodo pan-amazônico.
Cardeal
Filoni: Devemos antes de tudo privilegiar a atenção sobre o homem,
com uma antropologia positiva para os povos da Amazônia, tanto os grandes
quanto os pequenos. Porque se falta esta concepção, o ambiente sofre: a
dignidade dos povos indígenas e o ambiente são interligados entre si. Por isso
a Igreja precisa ter uma atitude positiva de afeto, de amor e de atenção para
com os esses povos. Gostaria de fazer um pequeno exemplo do que me aconteceu ao
fazer uma visita a um vicariato apostólico dois anos atrás na Amazônia colombiana.
O chefe de uma tribo que tinha vindo ao encontro depois de várias horas de
barco, fez-me uma pergunta: “Por que o senhor vem de Roma até aqui, neste lugar
perdido dentro da Amazônia?” . Respondi-lhe:
“
Veja bem, o fato de que os povos da Amazônia estejam geograficamente longes de
Roma não significa que não estejam no coração da Igreja. Vocês são o coração e
estão no coração da Igreja ”
Este cacique olhou-me com muita satisfação, com interesse. A
tomada de consciência de si, o fato de não serem marginalizados mesmo estando
longe – por exemplo – de Roma, é muito importante para esses povos, e nós
devemos colocar esta questão em primeiro lugar no nosso Sínodo, ou seja, uma
antropologia positiva de valor e de valorização destas populações que já contam
com uma rica experiência espiritual, ética e ambiental. Acredito que dando
atenção e se dedicando às pessoas já faremos um grande passo avante também para
o ambiente.
Como
se pode colaborar na construção de um mundo que, uma vez por todas, respeite a
vida e contraste a mentalidade de colonização para poder construir juntos
plataformas de solidariedade e interculturalidade?
Cardeal
Filoni: Creio que o grande passo que nós podemos dar é nos
aproximarmos e viver ao lado desses povos, no meio deles – como fazem muitos
missionários e missionárias, e isso já é um aspecto muito, mas muito
importante: não é um caso que a Igreja seja muitas vezes considerada inimiga
destas grandes realidades que têm um tipo de interesse colonial na Amazônia, ou
de exploração. Ficar ao lado dos povos nativos causa neles uma consciência: de
que são povos com dignidade. Isso não é tudo: cria nestes povos o sentido de
que têm o direito nativo de viver, de ficar e de ser consultados sobre todas as
coisas que lhes pertencem. A nossa Congregação há dezenas de vicariatos
apostólicos na região – bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos que
trabalham ali – este já é um nosso compromisso concreto e podemos melhorar,
naturalmente, com a colaboração de todos. Sabemos que há dificuldades e as
conhecemos, mas isso não nos deve desencorajar. Acredito que neste ponto
estamos em sintonia com a visão do Papa, de uma grande atenção a esta região e
principalmente a estes povos.
No
Sínodo da Amazônia teremos uma boa representação de indígenas?
Cardeal
Filoni: Certamente teremos um grande número de participantes,
grupos que poderão falar diretamente com o mundo. Esta coincidência do Sínodo
com o mês missionário extraordinário nos permite refletir também sobre o melhor
modo de anunciar e levar o Evangelho para estes povos. A dignidade do homem
está ligada ao mistério de Cristo e nós acreditamos que o anúncio do Evangelho
também poderá ajudar estas pessoas e o próprio meio-ambiente a um resgate
espiritual, moral e também material.
Fonte: Vatican News
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