Francisco
enviou mensagem à sessão solene das Academias Pontifícias em Roma e abordou o
tema da “beleza da eternidade”, “intencionalmente esquecido e ignorado” nas
missas e nas pesquisas dentro das universidades. Papa pede que se renove o
interesse sobre a vida eterna, seja em nível teológico como de catequese e
formação cristã.
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco enviou uma mensagem
ao presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi,
por ocasião da XXIII Sessão Pública das Academias Pontifícias. A solenidade
anual foi realizada no final da tarde desta terça-feira (4), no Palácio da
Chancelaria, em Roma - o edifício renascentista mais antigo da cidade e que faz
parte do Patrimônio Mundial da Humanidade.
A cerimônia intitulada “Eternidade, a
outra face da vida”, onde também estavam presentes os presidentes de outras
seis universidades, além de cardeais, bispos, embaixadores e estudantes, abriu
espaço para intervenções, inclusive musicais, sobre o tema. Na oportunidade, o
secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, entregou o “Prêmio
das Academias Pontifícias” para promover e apoiar o trabalho junto aos jovens,
ao ler a mensagem do Pontífice dirigida a Dom Ravasi, também presidente do
Conselho de Coordenação entre as universidades pontifícias.
O Papa Francisco iniciou sua
declaração lembrando das origens da solenidade, criada em 1995 depois da
reforma das Academias Pontifícias no pontificado de João Paulo II, e
valorizando a entrega do Prêmio para que contribua “à promoção de um novo
humanismo cristão”.
“
A experiência de encontrar com Deus transcende qualquer conquista humana e
constitui uma meta infinita e sempre nova. ”
Tema da Eternidade é ignorado nas
missas
Sobre a temática do encontro solene,
o Papa parabenizou a escolha que “nos estimula a refletir novamente e melhor
sobre um âmbito, não somente teológico que, mesmo sendo essencial e central na
experiência cristã”, não tem sido tão valorizado nas pesquisas acadêmicas dos
últimos anos e nem na formação dos fiéis.
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Francisco recordou, então, o quanto
tratameos da “ressureição dos mortos e da vida eterna” todos os domingos, na
missa, porque “se trata do núcleo essencial da fé cristã”, ligado diretamente a
fé de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Mesmo assim, é uma reflexão que “não
encontra o espaço e a atenção que merece”, advertiu o Papa, que tem a impressão
que seja um tema “intencionalmente esquecido e ignorado porque é aparentemente
distante, estranho à vida quotidiana e à sensibilidade contemporânea”.
Ao aprofundar a questão, Francisco
comentou que é uma realidade que não surpreende, já que um dos fenômenos que
marca a cultura atual “é justamente o fechamento dos horizontes transcendentes,
o se fechar em si mesmo, o apego quase exclusivo ao presente, esquecendo ou
censurando as dimensões do passado e, sobretudo, do futuro, sentido,
especialmente pelos jovens, como obscuro e cheio de incertezas. O futuro além
da morte aparece, nesse contexto, inevitavelmente ainda mais distante,
indecifrável ou completamente inexistente”, afirmou o Pontífice.
Linguagem usada na catequese
distancia reflexão
Mas a pouca atenção ao tema da
“eternidade, esperança cristã que anuncia a ressureição e vida eterna em Deus e
com Deus”, acrescentou o Papa, pode depender também de outros fatores como, por
exemplo, da linguagem tradicional usada na catequese. O anúncio da verdade da
fé, disse Francisco, pode aparecer quase incompreensível e até transmitir “uma
imagem pouco positiva e ‘atraente’ da Vida eterna. A outra face da vida pode,
assim, ser percebida como monótona e repetitiva, chata, até triste ou completamente
insignificante e irrelevante para o presente”.
Papa cita Gregório de Nissa e São
Tomás de Aquino
O Papa Francisco então citou o Padre
grego Gregório de Nissa que oferecia uma visão diversa da eternidade,
“concebida como uma condição existencial que não é estática, mas dinâmica e
vivaz. O desejo humano de vida e felicidade, intimamente ligado àquele de ver e
conhecer Deus, cresce continuamente” sem nunca encontrar o fim. A experiência
de encontrar com Deus, acrescentou o Pontífice, “transcende qualquer conquista
humana e constitui uma meta infinita e sempre nova”.
São Tomás de Aquino também ganhou
citação na mensagem do Papa, quando o Pontífice sublinhou o seu pensamento de
que “na vida eterna acontece a união do homem com Deus, numa ‘perfeita visão’
d’Ele”. Esse tipo de reflexão, continuou o Papa, deveria nos encorajar a
repropor “apaixonadamente” e com linguagem adequada ao dia a dia e com
profundidade, “o coração da nossa fé, a esperança que nos anima e que dá força
ao testemunho cristão no mundo: a beleza da Eternidade”.
No
final da mensagem, Francisco anunciou os jovens vencedores do Prêmio das
Academias Pontifícias e da Medalha do Pontificado com o desejo de que se renove
o interesse sobre a eternidade, seja em nível teológico como de catequese e
formação cristã, ao encorajar as pesquisas que aprofundem o tema da
escatologia.
Fonte Vatican News
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