"Enquanto
uma parte da humanidade vive na riqueza, outra parte vê sua própria dignidade
renegada, desprezada ou pisoteada e seus direitos fundamentais ignorados ou
violados", ressalta Francisco.
Mariangela Jaguraba - Cidade do
Vaticano
O Papa Francisco enviou uma mensagem
aos participantes da Conferência Internacional sobre o tema “Os direitos
humanos no mundo atual: conquistas, omissões e negações” que teve início, nesta
segunda-feira (10/12), na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma,
promovida pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e
essa instituição acadêmica.
O
encontro de dois dias realiza-se por ocasião dos 70 anos da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, celebrados nesta segunda-feira, e do 25º
aniversário da Declaração e Programa de Ação de Viena para a tutela
dos direitos humanos no mundo.
Igual
dignidade de cada pessoa humana
“Através desses dois documentos, a família das Nações reconhece
a igual dignidade de cada pessoa humana, da qual derivam direitos e liberdades
fundamentais que, arraigados na natureza da pessoa humana, unidade inseparável
de corpo e alma, são universais, indivisíveis, interdependentes e
inter-relacionados. Ao mesmo tempo, a Declaração de 1948 reconhece que “o
indivíduo tem deveres para com a comunidade na qual é possível o livre e pleno
desenvolvimento de sua personalidade”.
Neste ano “em que se celebram os aniversários significativos
desses instrumentos jurídicos internacionais”, o Papa afirma que é “oportuna
uma reflexão profunda sobre o fundamento e o respeito dos direitos humanos no
mundo atual”, esperando que dessa reflexão “possa surgir um compromisso
renovado em favor da defesa da dignidade humana, com uma atenção especial aos
membros vulneráveis da comunidade”.
Visões
antropológicas redutivas
“Observando com atenção as nossas sociedades contemporâneas,
verificam-se muitas contradições que levam a nos perguntar se realmente a igual
dignidade de todos os seres humanos, proclamada solenemente 70 anos atrás, é
reconhecida, respeitada, protegida e promovida em toda circunstância.”
“
Hoje, persistem no mundo várias formas de injustiça, alimentadas por visões
antropológicas redutivas e por um modelo econômico baseado no lucro, que não
hesita em explorar, descartar e até mesmo matar o ser humano. Enquanto uma
parte da humanidade vive na riqueza, outra parte vê sua própria dignidade
renegada, desprezada ou pisoteada e seus direitos fundamentais ignorados ou
violados. ”
“Penso nos nascituros aos quais são negados o direito de vir ao
mundo, naqueles que não têm acesso aos meios indispensáveis para uma vida
digna, nos que são excluídos de uma educação adequada, naqueles que são
injustamente privados do trabalho ou forçados a trabalhar como escravos, nos
que estão detidos em condições desumanas, nos que sofrem torturas ou não têm a
possibilidade de se redimir, nas vítimas de desaparecimentos forçados e suas
famílias.”
Suspeita
e desprezo
O Papa recorda também as pessoas “que vivem num clima dominado
por suspeita e desprezo, que são alvos de intolerância, discriminação e
violência por causa de sua pertença racial, étnica, nacional e religiosa”.
Lembra “os que sofrem múltiplas violações de seus direitos
fundamentais no contexto trágico dos conflitos armados, enquanto negociantes de
morte sem escrúpulos se enriquecem com o preço do sangue de seus irmãos e
irmãs”.
Coragem e
determinação
Segundo o Pontífice, somos chamados em causa diante desses
fenômenos graves. “Quando os direitos fundamentais são violados, ou quando se
privilegiam alguns em detrimento de outros, ou quando os direitos são
garantidos somente a determinados grupos, ocorrem injustiças graves que por sua
vez alimentam conflitos com consequências sérias dentro das nações e em suas
relações.”
“
Cada um é chamado a colaborar com coragem e determinação, na especificidade de
sua função, em prol do respeito dos direitos fundamentais de cada pessoa,
especialmente as “invisíveis”: aquelas que têm fome e sede, que estão nuas,
doentes, estrangeiras ou detidas, que vivem às margens da sociedade ou são descartadas.
”
“Essa exigência de justiça e solidariedade tem um significado
especial para nós cristãos, pois o Evangelho nos convida a voltar o olhar aos
nossos irmãos e irmãs, a nos mover pela compaixão e nos comprometer
concretamente para aliviar seus sofrimentos.”
Despertar
as consciências
O Papa faz um apelo aos responsáveis de instituições,
pedindo-lhes para que coloquem “os direitos humanos no centro de todas as
políticas, incluindo as de cooperação ao desenvolvimento, mesmo se isso
significa caminhar contracorrente”.
Francisco espera que esses de reflexão na Pontifícia
Universidade Gregoriana possam “despertar as consciências e estimular
iniciativas voltadas a tutelar e promover a dignidade humana”.
Fonte: Vatican News
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