Entrevista
com o secretário de Estado vaticano após retornar de sua visita ao Iraque, onde
celebrou o Natal com as comunidades cristãs. O cardeal também fala sobre o
encontro de fevereiro no Vaticano sobre a proteção de menores.
Alessandro Gisotti - Cidade do
Vaticano
Uma
visita repleta de significado a uma Igreja que, entre sofrimentos e
tribulações, testemunha a alegria e a beleza do Evangelho. Assim que retornou
ao Vaticano, o cardeal Pietro Parolin fala com emoção sobre sua viagem ao
Iraque. O secretário de Estado compartilha a esperança dos fiéis iraquianos de
uma visita do Papa Francisco e ressalta a importância da colaboração entre
cristãos e muçulmanos para um futuro pacífico no país.
Cardeal Pietro
Parolin, as imagens que pudemos receber do Iraque de sua visita, passavam uma
sensação de grande emoção. O que representou para o senhor celebrar o Natal com
a Igreja mártir do Iraque?
R. - Eu
diria que a palavra que você usou - "emoção" - é a correta: uma
grande emoção, uma grande comoção esse encontro com as comunidades cristãs do
Iraque, e uma grande alegria da minha parte certamente, e me parece ter
percebido também da parte deles. Senti-me muito feliz de poder levar a eles a
proximidade do Papa, o seu afeto, a sua bênção, a atenção com que ele sempre
seguiu seus acontecimentos. Acredito que a viagem correu bem porque inseriu-se
neste tempo especial de Natal, em que há uma atmosfera de celebração e alegria.
Naturalmente, foi uma ocasião para compartilhar os sofrimentos dos anos
recentes e também um pouco das incertezas do presente, mas ao mesmo tempo,
também as esperanças pelo futuro. No entanto, eu realmente o definiria como um
momento de graça pelo qual sou imensamente grato ao Senhor.
P. - Como
o senhor encontrou essa comunidade que - como dizia - vive com alegria a fé em
meio a tantas tribulações? Que testemunho, na sua opinião, dá uma comunidade
como essa aos outros cristãos do mundo?
R. – Nos
pronunciamentos que fiz, sobretudo nas homilias, insisti muito neste ponto:
"Vocês são um testemunho para a Igreja universal. A Igreja universal é
grata a vocês por aquilo que vocês viveram, em como vocês viveram isso, e
deve pegar o exemplo de vocês, desta capacidade de suportar sofrimentos,
aflições, pelo nome de Jesus". Eu diria que esta é uma exemplaridade que
eles propõem a toda a Igreja que - como diz o Concílio - "vive entre as
perseguições do mundo e as consolações de Deus". No entanto, o que mais me
impressionou foi o orgulho - no bom sentido da palavra - com que esses irmãos e
irmãs vivem sua fé: sentem-se orgulhosos de serem cristãos e de continuarem a
sê-lo em meio a tantas dificuldades, a tantas provações e sofrimentos!
P. -
Uma viagem que lhe deixou tantas imagens fortes e tocantes. Há alguma em
particular que mais o tenha tocado, quem sabe que sintetiza esta sua visita?
R. - As
imagens foram tantas, porque cada encontro está bem presente, gravado na minha
memória. Certamente a destruição de Mosul, que foi realmente algo que me
impressionou profundamente - ver as igrejas, mas também as casas, os prédios, a
parte inteira da cidade que mais sofreu pelos acontecimentos bélicos - outra
coisa que me impressionou muito foram essas igrejas - tanto as caldeias quanto
as sírio-católicas - cheias de gente: cheias de homens, de mulheres, de
crianças e de jovens. Todos cantavam e rezavam. Você se sentia levado pela sua
maneira de rezar. Uma última imagem que me parece particularmente adequada para
a situação no Iraque é esta: quando estávamos em Mosul, era difícil andar pela
rua porque havia entulho no meio. O governador de Mosul quis vir me
cumprimentar. Em um determinado momento ele me pegou pela mão. Eu senti isso
como um momento muito bonito, que deveria ser simbólico daquela que é a
colaboração entre cristãos e muçulmanos: tomar-se pelas mãos e ajudar-se mutuamente.
Naquele momento - estava chovendo muito – apareceu um lindo arco-íris no céu.
Que simbolismo! Também isso, o símbolo da paz, da aliança. Estas são as imagens
principais, mas existem muitas outras.
P. - A sua visita,
obviamente, acendeu as esperanças de uma visita do Papa Francisco ao Iraque: o
que as pessoas que o senhor encontrou lhe disseram a esse respeito?
R. -
As pessoas ficaram muito contentes por essa presença. Sentiram também na
presença do Secretário de Estado a presença do Papa, porque eu fui lá em nome
do Papa para levar a proximidade do Papa! Mas todos, a uma só voz, esperam que
ele possa visitar o Iraque em breve e confortá-los pessoalmente. E a essa
esperança dos cristãos iraquianos também eu me uno: que sejam criadas as
condições, naturalmente, para que o Santo Padre possa ir ao Iraque e
possa compartilhar momentos de oração e de encontro com nossos irmãos.
Certamente, seria um grande encorajamento para eles, nas dificuldades que ainda
devem enfrentar.
P. - No discurso de
saudação de Natal à Cúria, Francisco falou de duas grandes aflições: o martírio
- precisamente - e depois os abusos. Sobre este tema delicado, quais são as
suas esperanças para o encontro de fevereiro?
R. – Penso
que o encontro de fevereiro será muito importante, para o qual se está
preparando com grande dedicação. As minhas esperanças são que este encontro
convocado pelo Papa, de todos os presidentes das Conferências Episcopais, possa
fortalecer ou continuar, melhor dizendo - porque já houve o empenho da Igreja
na luta contra este fenômeno dos abusos - a atenção em favor das vítimas, e
sobretudo a criação de condições de segurança para menores e pessoas
vulneráveis. Parece-me que é sobretudo neste ponto que a atenção dos
participantes estará concentrada: isto é, como criar um ambiente seguro para os
menores e as pessoas vulneráveis. Portanto, eu espero que se caminhe nesta
estrada e ao mesmo tempo que exista uma abordagem que se torne sempre mais
comum, de toda a Igreja diante desse fenômeno. Naturalmente, depois cada um
pode aplicar, também de acordo com a situação local em que se vive, mas que
seja clara a "política" para todas as Igrejas. Que seja também uma
abordagem que tenha presente todos os aspectos do fenômeno, que são múltiplos e
interconectados entre eles, e que depois proceda com uma abordagem que seja
inspirada pelos critérios do Evangelho em relação a todas as pessoas.
P. - Para concluir
cardeal Parolin, 2019 se apresenta como um ano cheio de compromissos para o
Santo Padre: tantas viagens, tantos eventos importantes. Que votos o senhor
faria a ele como seu colaborador mais próximo?
R. -
Eu diria, e eu realmente o faço no final do ano, mas também no começo do ano de
2019, que o Senhor sustente o Santo Padre em sua entrega contínua em favor da
Igreja, e das comunidades cristãs que se encontram em situações de dificuldade
e marginalidade. E que ele possa continuar a acender essa esperança e esse amor
nos corações dos homens, motivo pelo qual tantos o querem tão bem e tantos
o sentem particularmente próximo; muitos veem nele verdadeiramente a
esperança de um mundo mais solidário, um mundo mais pacífico, de um mundo feito
a medida do homem e da fraternidade. Assim, diante dos tantos desafios atuais,
esses são os votos que faço ao Santo Padre para o novo ano.
Fonte: Vatican News

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