Dom Juan José Aguirre, Bispo de
Bangassou (República Centro-Africana). Foto: Facebook Combonianos.
Bangui, 21 Nov. 18 / 04:00 pm (ACI).- Após o ataque
contra a Catedral de Alindao (República Centro-Africana), que provocou a morte
de dezenas de pessoas, Dom Juan José Aguirre, Bispo de Bangassou, assegurou que
"não se deve só denunciar o massacre dos cristãos", mas também
"perguntar-se por que aconteceu" este ataque perpetrado por
ex-rebeldes Seleka.
Na quinta-feira, 15 de novembro, 42
pessoas morreram durante um ataque à Catedral do Sagrado Coração em Alindao,
alcançando também um campo de refugiados próximo. Entre os falecidos estão o
Vigário Geral da diocese, Abad Blaise Mada, e Pe. Celestine Ngoumbango.
Até o momento, todos os voluntários
foram evacuados e somente permaneceram com a população o Bispo da Diocese, Dom
Cyr-Nestor Yapaupa, e três sacerdotes.
Segundo diversos meios, este ataque
contra os cristãos foi perpetrado por ex-rebeldes Seleka das UPC, siglas
correspondentes à ‘Unité pour la Paix en Centrafrique’, que são
predominantemente muçulmanos e que se enfrentam historicamente com os rebeldes
anti-Balaka.
As UPCs são milícias que nasceram
após uma separação dos rebeldes Seleka e se estabeleceram na região de Alindao
há cinco anos. Eles estão sob as ordens do general Ali Drarassa.
Dom Juan José Aguirre assegurou à
agência vaticana Fides que "não se deve só denunciar o massacre de
cristãos. É necessário perguntar-se por que isso aconteceu".
O Prelado afirmou que "o evento
que provocou o massacre foi o assassinato de um mercenário nigeriano da
UPC" e explicou que a maioria dos membros deste grupo procede de países
vizinhos como o Níger.
Os rebeldes da UPC estão instalados
na região ocidental da cidade de Alindao e a missão católica está no leste,
onde, segundo explicou Dom Aguirre, "há um campo de deslocados para não
muçulmanos, que acolhe aproximadamente 26 mil pessoas".
Dom Aguirre explicou à Fides que “as
represálias foram terríveis. Os homens de Ali Darassa atacaram, saquearam e
incendiaram o acampamento das pessoas deslocadas, mataram mulheres e crianças e
incendiaram a catedral onde mataram os dois sacerdotes".
"Imediatamente depois, os
mercenários da UPC deixaram entrar na região oriental de Alindao os grupos de
jovens muçulmanos da região ocidental que saquearam a casa episcopal e
incendiaram o presbitério e o centro da Caritas. Vi algumas fotos. Restaram
somente as paredes queimadas deste local", assegurou o Prelado.
Além disso, de acordo com as
declarações do Bispo de Bangassou, os funcionários das ONGs que trabalhavam em
Alindao foram evacuados.
"Todos foram embora, exceto Dom
Cyr-Nestor Yapaupa, Bispo de Alindao, e três sacerdotes que quiseram permanecer
perto da população. Conversei com eles, estão exaustos, mas tiveram força
suficiente para enterrar os dois sacerdotes mártires e as 42 pessoas que foram
massacradas no campo de acolhida", sublinhou o Prelado.
Além disso, explicou que é provável
que nos próximos dias o Arcebispo de Bangui, Cardeal Dieudonné Nzapalainga,
visite Alindao.
O Prelado disse que "não podemos
nos limitar a denunciar estes massacres. Devemos entender profundamente o que
está acontecendo na República Centro-Africana".
Assinalou que "grupos como a UPC
são formados por mercenários estrangeiros que ocuparam o nosso território há
cinco anos. São pagos por alguns países do Golfo e dirigidos por alguns países
africanos vizinhos. Entram no Chade através de Birao, com armas vendidas à
Arábia Saudita pelos Estados Unidos. Querem dividir a República Centro-Africana
alimentando o ódio entre muçulmanos e não muçulmanos".
"Desta maneira, podem aproveitar
e saquear as riquezas do país, como o ouro, os diamantes e o gado. Mas,
sobretudo, alguns países estrangeiros e não africanos querem usar a República
Centro-Africana como porta de entrada para a República Democrática do Congo e o
resto do continente, manipulando o islã radical. Este é o jogo por trás do
massacre de Alindao", declarou o Prelado.
Fonte: ACI Digital
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