Sínodo dos Bispos - Foto: Daniel
Ibáñez (ACI Prensa)
Vaticano, (ACI).- Este Sábado 27 de
outubro foi apresentado o Documento Final da XV Assembleia Geral Ordinária do
Sínodo dos Bispos que,
desde o dia 3 de outubro, foi celebrada em Roma com a temática dos jovens, a fé
e o discernimento vocacional.
Em um início o Vaticano tinha
anunciado a conferência de imprensa para apresentar o documento às 7:15 p.m.;
entretanto, foi adiada até 8:30 p.m. hora local.
O documento (publicado em italiano)
tem 167 pontos. Cada um foi votado de forma individual e aprovado com a maioria
requerida de dois terços dos 268 padres sinodais.
Entre os pontos abordados está a
sinodalidade da Igreja,
assim como a escuta e o discernimento.
Sob essa óptica trataram-se temas
sumamente variados como a centralidade da liturgia, a pastoral juvenil, o papel
da mulher na Igreja, a sexualidade, o escândalo dos abusos, as perseguições, a
espiritualidade, a vocação e seu discernimento, as relações entre gerações, a
colonização cultural, o mundo do trabalho ou a importância da formação, em
especial a formação dos seminaristas.
Embora todos os pontos obtiveram os
dos dois terços dos votos necessários para a inclusão no documento final (ou
seja, pelo menos 166 votos), alguns contaram com maior oposição.
É o caso do ponto 150, que fala dos
caminhos de acompanhamento na fé das pessoas homossexuais, e que obteve 65
votos em contra e 178 a favor.
Outros pontos que tiveram um número
expressivo de votos contrários foram o numeral 148 que versava sobre “a mulher
na Igreja sinodal” (38 votos contra), o numeral 121 sobre “a forma sinodal da
igreja” (51 votos em contra), o 39 sobre “as perguntas dos jovens” (43 votos em
contra) ou o ponto 3, cujo título é “o documento final da assembleia sinodal”
(que recebeu 43 votos contra sua inclusão no texto entregue ao Santo Padre).
Vocação
A escuta como condição essencial para
receber a vocação percorre todo o Documento Final. O ponto 77 diz que a vocação
“comporta uma longa viagem”. “A palavra do Senhor exige tempo para ser
compreendida e interpretada; a missão à qual foi chamado se desvela
gradualmente”.
“Para acolher em profundidade o
mistério da vocação que encontra em Deus sua origem última, estamos chamados a
purificar nosso imaginário e nossa linguagem religiosa, reencontrando a riqueza
e o equilíbrio de nossa narração bíblica”, diz-se no ponto 78.
O Documento também chama a
desenvolver uma cultura vocacional, criando “as condições para que em todas as
comunidades cristãs, a partir da consciência batismal de seus membros,
desenvolva-se uma verdadeira e específica cultura vocacional e um constante
compromisso de oração pelas vocações”.
O Sínodo recorda que a vocação
batismal é para todos, sem excluir ninguém do “chamado à santidade”. “Tal
chamado implica necessariamente o convite a participar da missão da Igreja, que
tem como finalidade fundamental a comunhão entre Deus e todas as pessoas”,
afirma.
De fato, “as vocações eclesiásticas
são expressões múltiplas e articuladas por meio das quais a Igreja realiza sua
chamada a ser sinal real do Evangelho acolhido em uma comunidade fraterna”.
O ponto 88 fala da vidaconsagrada e afirma
que “a missão de muitos consagrados e consagradas que se entregam aos últimos
nas periferias do mundo manifesta concretamente a dedicação de uma Igreja em saída”.
“Se em algumas regiões se experimenta
a redução numérica e a fadiga do envelhecimento, a vida consagrada continua
sendo fecunda e criativa também por meio da corresponsabilidade com tantos
leigos que compartilham o espírito e a missão dos diferentes carismas”.
No ponto 89 se destaca que “a Igreja
sempre teve um particular cuidado pelas vocações ao ministério da ordem
sacerdotal, na consciência de que este último é um elemento constitutivo de sua
identidade e necessário para a vida cristã”.
Por tal razão, “sempre cultivou uma
atenção específica pela formação e o acompanhamento dos candidatos ao
presbiterado. A preocupação de muitas Igrejas por sua queda numérica faz
necessária uma renovada reflexão sobre a fascinação sobre a pessoa de Jesus e
de sua chamada a fazer-se pastores de seu rebanho”.
Além disso, o Sínodo também reconhece
que a condição de solteiro, situação que “pode depender de muitas razões,
voluntárias ou involuntárias, e de fatores culturais, religiosos e sociais”,
“assumida em uma lógica de fé e de entrega, pode derivar em muitos caminhos por
meio dos quais atua a graça do batismo e
dirige para essa santidade para a que todos estamos chamados”.
Sexualidade
A sexualidade foi um dos pontos mais
debatidos nos trabalhos do Sínodo, embora os padres sinodais teham recordado em
todo momento que não se tratava de um Sínodo sobre a sexualidade em específico,
mas sobre os jovens.
No ponto 149 indica que a Igreja
trabalha “para transmitir a beleza da visão cristã da corporeidade e da
sexualidade”, tal e como emerge das Sagradas Escrituras e da Tradição e do
Magistério dos últimos Papas.
Não obstante, chama-se a atenção
também sobre a necessidade urgente de procurar modalidades mais adequadas para
transmiti-la. “É preciso propor aos jovens uma antropologia da afetividade e da
sexualidade capaz também de dar o valor justo à castidade”.
Para isso, “é necessário cuidar a
formação dos agentes pastorais para que sejam críveis, a partir do amadurecimento
de sua própria dimensão afetiva e sexual”.
O acompanhamento pastoral às pessoas
homossexuais é abordado no ponto 150. Este recorda que “Deus ama a cada pessoa,
e assim o faz a Igreja, renovando seu compromisso contra toda discriminação e
violência por motivos sexuais”.
“Igualmente, reafirma a determinante
relevância antropológica da diferença e da reciprocidade entre o homem e a
mulher, e considera redutivo definir a identidade das pessoas a partir,
unicamente, de sua orientação sexual”.
Neste sentido, põe o acento em que
“já existem em muitas comunidades cristãs caminhos de acompanhamento na fé de
pessoas homossexuais: o Sínodo recomenda favorecer tais percursos”.
A mulher na Igreja
O ponto 13 indica que a diferença
entre homens e mulheres “pode ser um âmbito no qual nascem formas de domínio,
exclusão e discriminação, dos quais a sociedade e a Igreja mesma precisam
libertar-se”.
O documento também faz insistência em
que entre os jovens existe a vontade de “que haja um maior reconhecimento e
valorização da mulher na sociedade e na Igreja”.
“Muitas mulheres desempenham um papel
insubstituível na comunidade cristã, mas em muitos lugares há uma resistência a
outorgar-lhes seu espaço nos processos de tomada de decisões, inclusive quando
não se exige de forma específica uma responsabilidade ministerial”.
Lamenta-se, além disso, que “a
ausência da voz e do olhar feminino empobreça o debate e o caminho da Igreja,
subtraindo do discernimento uma contribuição preciosa”. Por isso, “o Sínodo
recomenda que todos sejam mais conscientes da urgência de uma mudança
iniludível, também a partir de uma reflexão antropológica e teológica sobre a
reciprocidade entre homens e mulheres”.
Abusos
O tema dos abusos de poder,
econômicos, de consciência e sexuais no seio da Igreja também tem uma
importante presença no Documento Final da reunião dos bispos.
No ponto 29 se reconhece que “os
diversos tipos de abusos cometidos por alguns bispos, sacerdotes, religiosos e
leigos provocam naqueles que são vítimas, entre os quais há muitos jovens,
sofrimentos que podem durar toda a vida”.
Recorda-se que esse fenômeno que
“está difundido na sociedade, afeta também à Igreja e representa um sério
obstáculo para sua missão. O Sínodo reitera seu firme compromisso para a adoção
de medidas rigorosas de prevenção que impeçam o que se repita a partir da
seleção e da formação daqueles aos que se confiarão responsabilidades
educativas”.
O Sínodo pede atuar na raiz do
problema (ponto 30): “o desejo de domínio, a falta de diálogo e de
transparência, as formas de dupla vida, o vazio espiritual, assim como a
fragilidade psicológica”.
Também agradece a todo aquele “tem a
valentia de denunciar este mal rapidamente: estes ajudam a Igreja a tomar
consciência do que aconteceu e da necessidade de atuar com decisão”.
Formação ao sacerdócio, pastoral
juvenil e matrimônio
O Documento Final também aborda a
formação dos candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada, a importância dos
centros católicos e a preparação dos jovens como agentes pastorais e sua
preparação para o sacramento do matrimônio.
Sobre o primeiro, os padres sinodais
assinalaram que a formação dos futuros sacerdotes e consagrados é “um desafio
importante para a Igreja”. Não só basta escolher formadores “culturalmente
preparados”, e sim capazes de “relações fraternas, de uma escuta empática e de
profunda liberdade interior”.
Além disso, pediram que a formação
tenha presente a experiência prévia dos candidatos ao sacerdócio ou vida
consagrada. Indicaram que ignorá-la afeta o crescimento da pessoa e o
desenvolvimento dos dons de Deus e da conversão do coração.
Do mesmo modo, indicaram que o
caminho sinodal insistiu no desejo de dar espaço ao protagonismo juvenil no
trabalho missionário. É evidente que este apostolado “não pode ser improvisado,
mas deve ser fruto de um caminho formativo sério e adequado”, assinalaram.
O documento afirma que muitos jovens
expressaram o desejo de “conhecer melhor sua fé” através “do descobrimento das
raízes bíblicas, compreender o desenvolvimento histórico da doutrina, o sentido
dos dogmas, a riqueza da liturgia”.
Além disso, o Sínodo anima as igrejas
particulares, congregações religiosas, movimentos e outras realidades
eclesiásticas, a “oferecer aos jovens uma experiência de acompanhamento em
vista ao discernimento”. Tal experiência “se pode qualificar como um tempo
destinado ao amadurecimento da vida cristã adulta”, afirmou.
Igualmente se anima a acompanhar os
noivos no “caminho de preparação ao matrimônio”, para que contem com “os
elementos necessários para receber (o sacramento) com as melhores disposições”
e iniciar com solidez a vida familiar. O acompanhamento, indicaram os pais
sinodales, deve seguir sobre tudo nos primeiros anos do matrimônio, ajudando-os
a formar “parte ativa da comunidade cristã”.
Sinodalidade
No Documento se sublinha, no ponto
119, que a Igreja decidiu ocupar-se dos jovens e “considera esta missão uma
prioridade pastoral desta época na qual deve-se investir tempo, energias e
recursos”.
Como mostra dessa eleição, o Sínodo
optou desde o começo por envolver os jovens para que se sintam co-protagonistas
da vida da missão da Igreja”.
Os padres sinodais reconhecem nessa
experiência “um fruto do Espírito que renova continuamente a Igreja e a chama a
praticar a sinodalidade como um modo de ser e de atuar, promovendo a
participação de todos os batizados”.
Sobre essa sinodalidade, o Documento
assinala que a experiência vivida fez os participantes no Sínodo conscientes da
importância de uma forma sinodal de a Igreja realizar “o anúncio e a
transmissão da fé”.
No texto se insiste na aposta pela
sinodalidade, ao dizer que esta “caracteriza tanto a vida como a missão da
Igreja, que é o Povo de Deus formado por jovens e idosos, homens e mulheres de
toda cultura e horizonte, e o Corpo de Cristo, do qual somos membros”.
Fonte:
ACI Digital
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