domingo, 14 de outubro de 2018

REFLETINDO SOBRE O EVANGELHO


Marcos 10, 17-30

28º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO B

O Evangelho de hoje (Marcos 10,17-30) retoma a condição fundamental para ser discípulo de Jesus: o desapego dos bens. Um tema inevitável para quem quer compreender a pessoa de Jesus e seu modo de viver. Um dos temas mais difíceis do cristianismo. O Concílio disse que o espírito de pobreza e caridade são a glória e o testemunho da Igreja de Cristo. (CF. GAUDIUM ET SPES, nº 88). O cristão não considera más riquezas, mais vive desprendido delas. Não é a conquista de bens nem materiais nem espirituais a sua meta. Mas a aproximação sempre maior de Deus. E os bens são amarras que impedem o voo, são jaulas, ainda que, ás vezes, de ouro, que encurtam os horizontes do destino humano.
Vejamos um pouco o sentido da pergunta que o homem (Mateus fala que era um jovem; CF. 19,20) fez a Jesus. Ela indica uma maneira típica de o Antigo Testamento encarar a vida Eterna. ‘’Que devo fazer para ganhar a vida eterna? ’’, como se pudesse comparar a vida eterna com obras. Nenhuma obra humana é suficiente para merecer a vida divina. Homem nenhum poderá exigir em troca de obras suas o dom de Deus. Apenas o Cristo, por ser Filho de Deus, foi capaz de merecer a vida eterna. É um dom dele pra nós, pago com seu sangue. Por isso Paulo chama Cristo de nossa justificação, isto é, nossa santificação. No entanto, é pelas obras que crescemos na fé. Somos chamados a fazer o bem a todos. Fazemos o bem, porque Cristo fez. Mas não somos nós que julgamos o que bem fazemos. Deus dará recompensa como ele quiser. Não fazemos boas obras para, em troca, ganhar o céu. Mas fazemos boas obras para com elas, glorificar a Deus. Dizia-o tão bem São Paulo aos coríntios: ‘’ Fazei tudo para a glória de Deus’’(1 Cor-10,31). Precisamos Prestar muita atenção aos cristãos que costumam fazer promessas. Ela não podem ser uma espécie de comércio com Deus. E também as pessoas engajadas na ação social em suas comunidades devem atentar para o desinteresse. É necessário o engajamento, mas isso não obriga Deus a lhes dar precedências nos pedidos.
O Homem pergunta como a vida eterna; Jesus lhe responde como entrar no Reino de Deus. O homem pensava em vida depois da morte, na qual o Antigo Testamento acreditava. Havia discrição sobre se todos haveriam de ressuscitar ou se só os juntos teriam o privilégio. Discutia-se se o corpo também ressuscitaria ou se só a alma era imortal. Jesus introduz a expressão Reino de Deus e faz dela a ideia central de toda sua pregação. Ora o Reino é sua pessoa presente entre os homens; é o modo de o homem viver a presença de Deus. Para Jesus, o Reino tem duas fases: uma atual, neste mundo; outra futura, que é a glória eterna. A segunda depende da primeira. A vida do homem sobre a terra foi muito valorizada por Jesus. Esta vida já é parte da eternidade. Já nesta vida vivemos a vida divina. Esse Reino, que deve ser a primeira preocupação do homem e pelo qual deve sacrificar tudo, só é compreendido pelos que têm espírito de pobre e se desenvolveu letamente na vida presente, alcançado a sua plenitude na ressurreição quando os corpos são transformados. Se para entrar, no Reino é preciso espírito de pobre, a exigência de Jesus ao homem rico se torna clara como a luz do dia. Poder-se-ia pensar que essa pobreza fosse indicada somente para os que fazem votos religiosos. Para eles, com mais razão. Mas a exigência é para todos os cristãos. O homem entristeceu e recuo. Era rico, e para o A.T. a riqueza era grande prova de bênção divina (Cf. Dt. 28, 2ss) Não Era Fácil ao homem rico superar de uma vez só vez o instinto de posse e o que aprendeu nos livros religiosos. Os apóstolos, parece, ficaram do lado do homem rico, porque se espantaram muito com a posição de Jesus, o que prova o quanto é difícil mudar a mentalidade social fundamentada em conceito religioso.
O ser humano, inteiramente desapegado, parece quase impossível existir. E Jesus volta a uma outra ligação central: o entrar no Reino é dom de Deus. A vida eterna é dada pela misericórdia divina e não por mérito de obras humanas, ainda que estas sejam o alimento da fé e sejam necessárias para a construção do Reino.
Neste domingo do encontro de Jesus com o homem rico, damos graças ao nosso Deus, que, sendo rico, se fez pobre, assumindo a condição de servo em Jesus de Nazaré. Fazendo-se pobre por Nós é que o Senhor pode nos enriquecer com suas incalculáveis riquezas.


Pe. Raimundo Neto
Pároco de São Vicente de Paulo

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