Na véspera da canonização dos Beatos Paulo VI e Dom Oscar Arnulfo Romero, realizou-se no Vaticano a Conferência Internacional e o Fórum sobre jornalismo de paz.
Debora Donnini - Cidade do
Vaticano
O que é e como se faz o
jornalismo da paz. A Conferência Internacional, realizada esta manhã no
Vaticano, organizada pelo Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, em
colaboração com o Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral
e SIGNIS, ofereceu experiências concretas de como construir e moldar o
jornalismo de paz.
E o fez, trazendo
testemunhos de quatro pessoas comprometidas na área, como Johan Galtung, que
criou Transcend International, sendo reconhecido como o fundador dos
modernos estudos de paz e tendo desempenhado o papel de mediador em 150 países.
A conferência foi seguida
então, pelos trabalhos em diferentes grupos, justamente para entender mais de
perto quais são as boas práticas e desafios do jornalismo de paz.
Ruffini: reconectar com Paolo VI e Mons. Romero
Um encontro que quis
colocar-se como uma "passagem de testemunho" entre a Mensagem para as
Comunicações Sociais 2018 do Papa Francisco - dedicado justamente ao tema do
jornalismo paz e das fakenews - e a Mensagem para o próximo ano, que exorta a
"não reduzir o conceito de comunidade a um substituto superficial",
porque "não existe community se não há comunidade", disse o prefeito
do Dicastério para Comunicação, Paolo Ruffini.
Em um tempo "perigosamente
tentado pela radicalização, pela simplificação" e que constrói
incansavelmente bodes expiatórios para reduzir "tudo ou quase tudo de um
dualismo feroz", ocasiões como esta "servem para despertar o sentido
daquilo que somos, daquilo que fazemos".
Referindo-se a Dietrich
Bonhoeffer, Ruffini salienta como a paz se conjuga melhor com a justiça do que
com a segurança, "que nem sempre é justa" e não o é quando reduz o
outro a um inimigo do qual defender-se.
Finalmente, citando
"A Cidade Invisível", de Italo Calvino, o prefeito observa que o
jornalismo de paz é precisamente aquele que dá espaço e reconhece em meio ao
inferno, aquilo que inferno não é.
No tempo das redes
sociais, portanto, é necessário não transformar a rede em um lugar onde
relacionamentos verdadeiros e diálogos sinceros sejam perdidos. É necessário,
portanto, partir da realidade do ser humano na sua totalidade. E a paz, embora
seja uma coisa muito difícil, é algo possível e necessária. Amanhã, então,
Paulo VI e Dom Oscar Romero serão proclamados Santos: reconectar o fio entre
nós e eles é, sublinha Ruffini, uma maneira de construir um jornalismo de paz.
Cardeal Turkson: proteger a dignidade e os direitos das
pessoas
Ao se pronunciar, o
cardeal Peter Turkson referiu-se a Paulo VI e ao vínculo decisivo por ele
indicado entre paz e desenvolvimento.
O prefeito do Dicasterio
para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral quis destacar que a
não-violência deve ser entendida não apenas em termos de desarmamento, mas
também implica proteger e respeitar os direitos das pessoas, caso contrário
acabará sempre combatendo, porque por trás de todo conflito está um problema de
dignidade negligenciada das pessoas.
Galtung: aprofundar o que a paz significa
Partindo de uma das pedras
angulares de seu pensamento, a distinção entre "paz positiva" e
"paz negativa" – onde a distinção é entre um compromisso ativo de
fazer algo ou não - Johan Galtung, antes de tudo pede aos jornalistas para não
serem muito capturados pela notícia do dia, mas também proponham uma síntese do
que aconteceu anteriormente.
Para Galtung, então, não
há contraposição entre "jornalismo de paz" e "jornalismo de
guerra", é preciso fazer as duas coisas, mas aprofundar o que significa a
paz, que implica uma ação ativa, porque em geral sabemos bem o que é a
violência.
Ray Sheng-Her: jornalistas como terapeutas sociais
Ray Sheng-Her, diretor da
Fundação Tzu Chi, a maior organização budista do mundo, traçou uma breve
síntese do jornalismo moderno. O jornalismo de paz deve ser um "jornalismo
construtivo" e buscar não somente analisar, mas encontrar soluções, apoiar
as pessoas, ser empático: "os jornalistas - ele disse - podem ser
terapeutas sociais".
Bassil: documentando conflitos construtivamente
A fazer da formação ao
jornalismo de paz o coração de sua missão de trabalho, foi certamente Vanessa
Bassil, fundadora e presidente da Associação de Mídia pela Paz (MAP).
Uma jovem libanesa, que
começou pela organização de encontros até fundar uma associação, a primeira no
Líbano, no Norte da África e no Oriente Médio, especializada nesse tema.
Central foi o trabalho com refugiados. São dois milhões no Líbano, devido à
guerra na Síria. E precisamente nos campos de refugiados foram feitas
entrevistas e vídeos, para contar histórias positivas de integração.
A formação para
jornalistas, realizada por sua organização, é justamente a de incentivar o
respeito aos direitos humanos, ao diálogo e ao desenvolvimento sustentável. Uma
formação que visa documentar o conflito de forma construtiva, difundindo
uma cultura de paz.
Fonte: Vatican News
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