No dia 2 de novembro de 2018 a Igreja Católica celebra a COMEMORAÇÃO DE
TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS, quando recordamos com saudades a memória de nossos
mortos. Visitamos respeitosamente nos cemitérios, os túmulos de nossos parentes
e amigos já falecidos. O encontro da cultura cristã com a cultura celta deu
origem à comemoração do Dia de Finados. Os celtas – povos que habitavam a
região da atual Irlanda – tinham no seu calendário a festa conhecida como
“Samhain”. Nesse dia os celtas acreditavam que os dois mundos – o dos vivos e
dos mortos – ficavam muito próximos e eles celebravam essa comunhão. Desde o
século l, os cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos
mártires para rezar pelos que morreram.
Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald
No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os
mortos, aqueles aos quais ninguém rezava e do qual ninguém lembrava. O abade do
Mosteiro de Cluny, Santo Odilon, em 998 pedia aos monges que orassem pelos
mortos. E os papas Silvestre ll (996) e João XVll (1012) convidaram a
comunidade cristã a dedicar um dia cada ano aos mortos. No século Xl, o
calendário litúrgico cristão incorporou o Dia de Finados, que deveria cair no
dia 2 de novembro para não se sobrepor ao Dia de Todos os Santos, comemorado no
dia 1º naquela época. Este ano a Festa de Todos os Santos será celebrada no
domingo dia 5 de novembro.
Nossa sociedade de consumo e tecnologicamente avançada faz tudo para que
se esqueça da morte. Frequentemente um amigo morto já é sepultado antes que as
notícias de seu falecimento cheguem a nós. Para muitos, participar na Missa de
7º. Dia é uma mera formalidade social sem qualquer significado religioso. A
morte não é o simples fato biológico da cessação do nosso existir. É o ponto
culminante do viver e vem coroar as boas opções que fizemos durante a vida.
Neste dia os fiéis católicos têm o secular e piedoso costume de rezar pelas
almas que ainda podem estar num estado de purificação antes de gozar da Visão
de Deus.
Em nossos dias, em certos ambientes católicos se propagam dúvidas com
relação à católica devoção pelas “almas no estado de purificação”. Obviamente
nossa atitude neste assunto não pode e nem deve ser determinada pelo parecer do
último livro de um teólogo. Em nossa vida cristã somos orientados por uma
instância superior. No caso, esta autoridade é o próprio Concílio Vaticano ll.
Na Constituição Dogmática “Lumen Gentium” (cf. Nos. 49-50) recorda o
Concílio que a Igreja sempre venerou com grande piedade a memória dos defuntos
e ofereceu sufrágios por eles; cito o texto bíblico de 2 Mac 12, 46: “É um
pensamento santo e salutar rezar pelos defuntos para que sejam livres de seus
pecados”. Depois, no No. 51, o mesmo Concílio Vaticano ll torna a referir-se à
nossa “comunhão vital com os irmãos que ainda se purificam depois da morte”, e
decide propor de novo os decretos dos Concílios de Florença e de Trento acerca
desta doutrina.
É importante lembrar que depois da morte não há mais tempo nem espaço, e
falar sobre a “duração” deste estado de purificação não faz sentido. Não há
nenhuma doutrina da Igreja sobre isso. Nada se diz a cerca da topografia do
além. Nada nos ensinado com relação ao tipo de purificação dispensada depois da
morte. Portanto, precisamos tomar muito cuidado com os exageros nas fantasias
populares. O estado de purificação possível nada tem a ver com as imagens
medievais de um lugar de castigo e de penas.
O Catecismo da Igreja Católica ensino: “Aqueles que morrem na graça e
amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenha
garantida a sua salvação eterna, passam, após a morte, por uma purificação, a
fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu” (No. 1.030).
Para o católico, então, o Dia de Finados não é um dia de tristeza ou lamúrias,
mas é um dia de saudosa recordação, confortada pela fé que nos garante que
nosso relacionamento com os finados não está interrompido pela morte, mas é
sempre vivo e atuante pela oração do sufrágio. O Catecismo da Igreja Católica
afirma: “A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo e da
graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrestre
segundo o projeto divino e para decidir o seu destino último” (CIC, 1013).
Quando tiver terminado “o único curso de nossa vida terrestre” (L.G. No.
48), não voltaremos mais a outras vidas terrestres. A Bíblia afirma: “Os homens
devem morrer uma só vez” (cf. Hb 9, 27). Portanto, para os católicos não existe
“reencarnação” depois da morte. Somos salvos pelos méritos de Cristo e não
pelos nossos próprios méritos. Sem dúvida, a visão cristã da morte é expressa
de forma privilegiada na liturgia da Igreja que reza: “Senhor, para os que
crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E desfeito o nosso corpo
mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível”. O Dia de Finados deve ser
para nós vivos, um eficaz ensejo para refletirmos sobre o sentido e a brevidade
da vida presente.
Pe. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1
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