segunda-feira, 6 de agosto de 2018

VOZ DO ARCEBISPO




 “Amor – evangelização da Família”

Neste mês de agosto, tradicionalmente mês das vocações, é de urgência o destaque à vocação familiar. Fundamentalmente unida à obra criadora de Deus, a família está na base da própria vida humana. Vocação humana fundamental, ela necessita ser hoje, mais que em outras épocas da história da humanidade, re-descoberta.
Vocação é chamado. E o chamado à vida e como ela é criada, vem do próprio autor da criação. Deus, ao criar o mundo o fez de uma variedade imensa de seres, desde os elementos materiais ínfimos até a imensidade do Cosmos. E são seres que foram, pela ciência humana, agrupados em reinos: o mineral, o vegetal, o animal e o espiritual. E no ápice desta construção está a realidade humana, como cume da complexidade material e ser em si ao mesmo tempo composto: matéria e espírito.
A primeira vocação é a próxima existência que a pessoa humana não se dá a si mesma, mas a recebe em si. E a revelação divina irá definir o humano: “Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou..” (Gn 1,27)
Por isso o chamado à humanidade não será referir-se ao menor no conjunto da criação, mas no Maior, que é o próprio autor da Criação. Há no ser humano a presença de um sopro divino, que eleva o barro da terra a um ser especial com relação ao Criador e às criaturas: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente.”  (Gn 2,7.)  E é constituído pelo Criador diante de toda a criação: “Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.” (Gen 1,28.)  É colocado como administrador pelo próprio Criador, feito participante do cuidado com a criação. Consciente guarda da harmonia dos seres no desígnio amoroso que perpassa a obra de Deus.
Quando o homem se afasta do pensamento do Criador, tudo se torna revolta. Nada mais exprime harmoniosamente a relação dos seres. E rompido o relacionamento criatura – Criador, o desequilíbrio se estabelece entre as pessoas humanas e delas com os demais seres criados.
Retornar aos inícios das intenções criadoras de Deus será a obra da redenção humana e da criação inteira “Porque sabemos que toda a criação, conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora.  E não somente ela, mas igualmente nós, que temos os primeiros frutos do Espírito, também gememos em nosso íntimo, esperando com ansiosa expectativa, por nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo. (Rom 8, 22-23)
Pois sabemos quanto se desviou dos projetos divinos e quanto ainda hoje, e talvez mais que no passado, se distancia do verdadeiro sentido da vida humana em relacionamento familiar, nas propostas devastadoras de se recriar os comportamentos humanos a partir de sua própria subjetividade, de sua escolha sem limites, sem referências, somente com seus desejos desorientados. É tudo o que hoje constitui o que já se chama Cultura da Morte que promove a decomposição da unidade matrimonial, a fluidade sexual, o aborto, a eutanásia, e o que mais ainda se apresentará!?
Evangelizar é o chamado redentor à Cultura da Vida, ao projeto divino de vida em abundância para todos, de relacionamentos de Amor em seu sentido mais verdadeiro e real de gratuidade, de dom e comunhão que frutifica para o bem da humanidade.
Quando questionado sobre o divórcio permitido pela lei de Moisés, a resposta de Jesus foi à causa mais real – a dureza do coração: “Disse-lhes ele: Pela dureza de vossos corações Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas não foi assim desde o princípio.” (Mt 19,8.)  A quanto leva o endurecimento dos corações!
Evangelizar a família realiza-se quando a graça do Amor vence o endurecimento dos corações e tudo pode retornar a seu princípio, onde tudo encontra sentido e força: a força do amor que tudo pode vencer superando os limites humanos, pois o Amor é o próprio dom de Deus. Amor que não é só paixão, sentimento, afeto humano, simpatia, ou mesmo bom entendimento e amizade, mas é a realidade mesma de Deus transmitida às suas criaturas em imagem e semelhança: “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por meio dele vivamos. Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, nós também devemos amar-nos uns aos outros.” (1Jo 4, 8 ss)
A vocação da pessoa humana é o amor, este amor que tem sua fonte em Deus, que é o Amor. Família é a expressão fundamental do jeito de Deus em humanidade.
Evangelizar toda a realidade humana é reconduzi-la ao Amor, a conhecer o Amor, a viver o Amor, a partilhar o Amor nas relações conjugais, de paternidade, de maternidade, de fraternidade, que se estendam por toda a humanidade.

+ José Antonio Ap. Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano

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