"É
uma tentação comum, esta, de reduzir a religião à prática das leis, projetando
em nosso relacionamento com Deus a imagem da relação entre os servos e seus
patrões: os servos devem executar as tarefas que o patrão designou, para ter a
sua benevolência", disse o Papa em sua alocução.
Cidade do Vaticano
Após rezar o Angelus com
os fiéis e turistas na Praça São Pedro, o Papa Francisco recordou o Beato Paulo
VI, este "grande Papa moderno", que faleceu na noite de 6 de agosto
de 1978. "Recordemo-nos dele com muita veneração e gratidão, aguardando
sua canonização, no dia 14 de outubro. Do céu interceda pela Igreja e pela paz
no mundo".
Eis a íntegra da alocução do Santo
Padre:
"Queridos irmãos e irmãs, bom
dia!
Nestes últimos domingos, a liturgia
nos mostrou a imagem cheia de ternura de Jesus, que vai ao encontro das
multidões e de suas necessidades. Na narrativa do Evangelho de hoje (cf. Jo
6,24-35), a perspectiva muda: é a multidão, alimentada por Jesus, que parte
novamente em busca d’Ele, vai ao encontro de Jesus.
Mas a Jesus não basta que as pessoas
o procurem, ele quer que as pessoas o conheçam; quer que busca por Ele e o
encontro com Ele ultrapasse a satisfação imediata das necessidades materiais.
Jesus veio para nos trazer algo mais,
a abrir a nossa existência a um horizonte mais amplo em relação às preocupações
cotidianas do alimentar-se, vestir-se, da carreira e assim por diante. Por
isso, voltando-se a multidão, exclama: "Me buscais não porque vistes
sinais, mas porque comestes daqueles pães e vos saciastes".
Assim, estimula as pessoas a darem um
passo em frente, a interrogarem-se sobre o significado do milagre e não apenas
para tirar proveito dele. De fato, a multiplicação dos pães e dos peixes é
sinal do grande dom que o Pai deu à humanidade que é o próprio Jesus!
Ele, verdadeiro "pão da
vida", quer saciar não apenas os corpos, mas também as almas, dando o
alimento espiritual que pode satisfazer a fome mais profunda. Por isso q
convida a multidão a procurar não a comida que não dura, mas aquela que permanece
para a vida eterna. Trata-se de um alimento que Jesus nos dá todos os dias: sua
Palavra, seu Corpo, seu Sangue.
A multidão escuta o convite do
Senhor, mas não entende o seu significado - como acontece tantas vezes conosco
- e pergunta a ele: "O que é que devemos fazer para realizar as obras de
Deus?" (V. 28). Os ouvintes de Jesus pensam que Ele lhes pede para
observarem os preceitos para obter outros milagres, como a multiplicação dos
pães.
É uma tentação comum, esta, de
reduzir a religião somente à prática das leis, projetando em nossa relação com
Deus a imagem da relação entre os servos e seus patrões: os servos devem
executar as tarefas que o patrão determinou, para ter a sua benevolência. Isto
o sabemos todos.
Por isto, a multidão quer saber de
Jesus que ações deve fazer para agradar a Deus, mas Jesus dá uma resposta
inesperada: "A obra de Deus é que vocês acreditem naquele que ele
enviou".
Essas palavras são dirigidas hoje
também a nós: a obra de Deus não consiste tanto no "fazer"
coisas, mas em "crer" naquele que Ele enviou. Isto significa que a fé
em Jesus nos permite realizar as obras de Deus. Se nos deixarmos envolver nesta
relação de amor e confiança com Jesus, poderemos fazer boas obras que perfumam
de Evangelho, pelo bem e às necessidades dos irmãos.
O Senhor nos convida a não esquecer
que, se é preciso preocupar-nos com o pão, ainda mais importante é cultivar
nossa relação com ele, fortalecer nossa fé nele, que é o "pão da
vida", vindo para saciar a nossa fome de verdade, a nossa fome de justiça,
a nossa fome de amor.
Que a Virgem Maria, no dia em que
recordamos a dedicação da Basílica de Santa Maria Maior – a Salus
populi romani - em Roma, nos sustente em nosso caminho de fé e
nos ajude a nos abandonarmos com alegria ao plano de Deus para nossas vidas".
Fonte: Vatican News
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