No final da manhã desta terça-feira, no primeiro turno de trabalhos da reunião do Conselho Episcopal Pastoral (Consep) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o economista Bruno Brandão, diretor executivo da Transparência Internacional no Brasil, falou aos bispos sobre os trabalhos da entidade e sobre o fenômeno da corrupção no mundo inteiro. Na exposição feita, ele apresentou dados sobre o Brasil e anunciou para o dia 28 de maio, em São Paulo (SP), o lançamento de uma campanha em combate à corrupção no país.
Exposição
No início, Bruno Brandão fez uma breve apresentação aos bispos sobre a origem e a natureza do trabalho da Transparência Internacional. Ele lembrou que a organização surgiu 1993 e foi fundada por um ex diretor do Banco Mundial, Peter Eligen. A ideia da necessidade de um trabalho internacional de avaliação sobre a corrupção veio do tempo que ele atuou no Banco quando cuidava do setor que enviava recursos financeiros para projetos de desenvolvimento na África e esses recursos acabavam nos bolsos de famílias abastadas.
Brandão também mostrou que Peter Eligen percebeu que o tema não costumava aparecer nos relatórios do Banco. Essa preocupação o fez iniciar um trabalho que hoje se encontra representado em 110 países do mundo, levando sempre uma abordagem apartidária e fazendo enfoques sistêmicos que mostram como há distorções no cumprimento original dos recursos públicos ou corporativos. Ele lembrou que um dos propósitos fundacionais da Transparência Internacional é fortalecer a sociedade civil.
No Brasil, a organização chamada de Transparência Brasil, esclareceu Brandão, já foi ligada à Transparência Internacional, mas decidiu, recentemente e de forma pacífica, tomar um caminho próprio. O diretor disse ainda que a organização que dirige no país faz estudos com foco na qualidade das leis, das instituições e levanta possibilidades de transformações sistêmicas, uma vez que a corrupção é um problema sistêmico.
Corrupção: problema ocultoO Diretor da Transparência Internacional no Brasil lembrou aos bispos, no plenário do Consep, que a corrupção é um fenômeno com enormes possibilidades de medida e de avaliação da intensidade por se tratar de um problema oculto e disse: “a corrupção que a sociedade fica sabendo é aquela que deu errado”.
Brandão, ainda na sua exposição, mostrou que o Brasil é um país que não tem leis para proteger as pessoas que denunciam corrupção e que sua organização evita tratar de casos concretos para permanecer na análise de fundo que pode levantar o problema de forma sistêmica. Apesar desse propósito, a Transparência Brasil elaborou algumas ferramentas que podem ajudar no estudo de problemas concretos de corrupção. A ferramenta mais conhecida e usada em mais de 180 países é o índice de percepção da corrupção.
Índice de percepção da corrupçãoO último levantamento do índice de percepção da corrupção mostra que o Brasil ocupa o 96º lugar. A lista é encabeçada por três países onde a corrupção é menos percebida, menos presente – Nova Zelândia, Dinamarca e Finlândia – e encerrada por três países onde se percebe mais corrupção no mundo: Síria, Sudão do Sul e Somália. Segundo Brandão, o Brasil caiu 17 posições no último ano.
Brandão lembrou que apesar dessa lista coincidir com países desenvolvidos com melhores índices e em desenvolvimento com piores índices, há uma constatação surpreendente. Considerando, por exemplo, o nível de corrupção envolvendo empresas e poderes públicos, percebe-se que países desenvolvidos que não praticam corrupção em suas sedes, exportam propina. A lista dos países que corrompem fora de seus é encabeçada por Holanda, Suíça e Bélgica.
Força da sociedade brasileira no combate à corrupçãoBrandão apresentou aos bispos um dado de esperança: 87% dos brasileiros, segundo pesquisa feita pela Transparência Internacional, acredita que o cidadão comum pode fazer uma diferença no combate à corrupção. Foi o melhor índice da pesquisa comparando o resultado em 77 países. E ressaltou:
- 8 em cada 10 brasileiros acreditam que o cidadão comum pode fazer diferença no combate à corrupção;
- 3 a cada 4 brasileiros concordam que é socialmente aceitável reportar corrupção;
- 81% dos brasileiros se sentem pessoalmente obrigados a reportar corrupção;
- 7% dos brasileiros passaria um dia inteiro em um tribunal para fornecer evidências de casos de corrupção.
Campanha “Unidos contra a corrupção”O diretor da Transparência Internacional terminou a exposição – que foi seguida de um amplo debate – convidando a CNBB e os bispos para participarem de uma campanha que será lançada na sede da organização, em São Paulo, no próximo dia 28, sábado, que tem como título: “unidos contra a corrupção”.
Para formatar essa campanha, a organização reuniu especialistas e fez consulta pública sobre a elaboração de “novas medidas para acabar com esse velho problema do Brasil”. A campanha será dirigida a toda a população e tem objetivo de colaborar com a formação para o voto consciente nas próximas eleições de outubro, por ser, segundo Brandão, sinal de compromisso com a democracia.
Fonte: CNBB
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