“Ao abdicarem da ética, muitos
tornaram-se protagonistas de um cenário desolador”, afirmam os bispos
Silvonei José – CNBB - Aparecida
Um dos documentos mais esperados da
56ª Assembleia Geral da CNBB que se encerrou na última sexta-feira (20) foi a
mensagem sobre as eleições deste ano de 2018, divulgada pela Presidência da
Conferência. Nela, os bispos reconhecem que “Ao abdicarem da ética e da
busca do bem comum, muitos agentes públicos e privados tornaram-se
protagonistas de um cenário desolador“.
A apresentação da mensagem foi feita
por dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador (BA) e Primaz do Brasil.
Compromisso
e esperança
Intitulada “Eleições 2018:
compromisso e esperança“, a mensagem da 56ª assembleia geral da CNBB ao
povo brasileiro tem 11 breves parágrafos.
No primeiro, os bispos citam os dois
últimos Papas: um trecho da primeira encíclica de Bento XVI, Deus
caritas est: “não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça” e
outro da primeira exortação apostólica de Francisco: “todos os cristãos,
incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção de um mundo
melhor“. A partir destas recomendações, os bispos afirmam: “olhamos para
a realidade brasileira com o coração de pastores, preocupados com a defesa
integral da vida e da dignidade da pessoa humana, especialmente dos pobres e
excluídos“.
“Neste ano eleitoral, o Brasil
vive um momento complexo, alimentado por uma aguda crise que abala fortemente
suas estruturas democráticas e compromete a construção do bem comum, razão da
verdadeira política. A atual situação do País exige discernimento e compromisso
de todos os cidadãos e das instituições e organizações responsáveis pela
justiça e pela construção do bem comum“, ponderam os bispos no segundo
parágrafo da mensagem.
Corrupção
No terceiro parágrafo, os bispos
lembram que muitos agentes deixaram a ética de lado e, por isso, a corrupção
ganhou destaque. Seguem os bispos: “Nem mesmo os avanços em seu combate (da
corrupção) conseguem convencer a todos de que a corrupção será definitivamente
erradicada. Cresce, por isso, na população, um perigoso descrédito com a
política“. E voltam a lembrar o Papa Francisco, citando a encíclica Laudato
Sì, sobre o cuidado com a Casa Comum: “muitas vezes, a própria
política é responsável pelo seu descrédito, devido à corrupção e à falta de
boas políticas públicas”. Os bispos, mostram, desse modo, a origem de
problemas dessa natureza: “De fato, a carência de políticas públicas
consistentes, no país, está na raiz de graves questões sociais, como o aumento
do desemprego e da violência que, no campo e na cidade, vitima milhares de
pessoas, sobretudo, mulheres, pobres, jovens, negros e indígenas“.
Aumenta
o número de pobres
“Além disso, a perda de direitos e
de conquistas sociais, resultado de uma economia que submete a política aos
interesses do mercado, tem aumentado o número dos pobres e dos que vivem em
situação de vulnerabilidade. Inúmeras situações exigem soluções urgentes, como
a dos presidiários, que clama aos céus e é causa, em grande parte, das
rebeliões que ceifam muitas vidas“, afirmam os bispos. E apontam para uma
dura realidade de nossos dias: “Os discursos e atos de intolerância, de ódio
e de violência, tanto nas redes sociais como em manifestações públicas, revelam
uma polarização e uma radicalização que produzem posturas antidemocráticas,
fechadas a toda possibilidade de diálogo e conciliação“.
Eleições:
sentido promissor
O quinto parágrafo da mensagem traz a
seguinte reflexão: “Nesse contexto, as eleições de 2018 têm sentido
particularmente importante e promissor. Elas devem garantir o fortalecimento da
democracia e o exercício da cidadania da população brasileira. Constituem-se,
na atual conjuntura, num passo importante para que o Brasil reafirme a
normalidade democrática, supere a crise institucional vigente, garanta a
independência e a autonomia dos três poderes constituídos – Executivo,
Legislativo e Judiciário – e evite o risco de judicialização da política e de
politização da Justiça. É imperativo assegurar que as eleições sejam realizadas
dentro dos princípios democráticos e éticos para que se restabeleçam a
confiança e a esperança tão abaladas do povo brasileiro. O bem maior do País,
para além de ideologias e interesses particulares, deve conduzir a consciência
e o coração tanto de candidatos, quanto de eleitores“.
Compromissos
do eleitor
“Nas eleições, não se deve abrir
mão de princípios éticos e de dispositivos legais, como o valor e a importância
do voto, embora este não esgote o exercício da cidadania; o compromisso de
acompanhar os eleitos e participar efetivamente da construção de um país justo,
ético e igualitário; a lisura do processo eleitoral, fazendo valer as leis que
o regem, particularmente, a Lei 9840/1999 de combate à corrupção eleitoral
mediante a compra de votos e o uso da máquina administrativa, e a Lei 135/2010,
conhecida como ‘Lei da Ficha Limpa’, que torna inelegível quem tenha sido
condenado em decisão proferida por órgão judicial colegiado“, enumeram os
bispos.
Alerta
aos políticos
No sétimo parágrafo da mensagem,
lembrando que o Brasil vive o Ano do Laicato, os bispos reafirmam as palavras
enviadas pelo Papa Francisco aos participantes do encontro de políticos
católicos, em Bogotá, em dezembro do ano passado: “há necessidade de
dirigentes políticos que vivam com paixão o seu serviço aos povos, (…)
solidários com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que anteponham
o bem comum aos seus interesses privados; que não se deixem intimidar pelos
grandes poderes financeiros e midiáticos; que sejam competentes e pacientes
face a problemas complexos; que sejam abertos a ouvir e a aprender no diálogo
democrático; que conjuguem a busca da justiça com a misericórdia e a
reconciliação“.
Conhecer
os candidatos
“É fundamental, portanto, conhecer
e avaliar as propostas e a vida dos candidatos, procurando identificar com
clareza os interesses subjacentes a cada candidatura. A campanha eleitoral
torna-se, assim, oportunidade para os candidatos revelarem seu pensamento sobre
o Brasil que queremos construir. Não merecem ser eleitos ou reeleitos
candidatos que se rendem a uma economia que coloca o lucro acima de tudo e não
assumem o bem comum como sua meta, nem os que propõem e defendem reformas
que atentam contra a vida dos pobres e sua dignidade. São igualmente
reprováveis candidaturas motivadas pela busca do foro privilegiado e outras
vantagens”, pedem os bispos, na mensagem.
Os bispos reunidos em Aparecida,
resgatam trecho do Documento 91, da CNBB: “dos agentes políticos, em cargos
executivos, se exige a conduta ética, nas ações públicas, nos contratos
assinados, nas relações com os demais agentes políticos e com os poderes
econômicos”. E mais: “Dos que forem eleitos para o Parlamento espera-se uma
ação de fiscalização e legislação que não se limite à simples presença na
bancada de sustentação ou de oposição ao Executivo”. A mensagem
emenda: “As eleições são ocasião para os eleitores avaliarem os candidatos,
sobretudo, os que já exercem mandatos, aprovando os que honraram o exercício da
política e reprovando os que se deixaram corromper pelo poder político e
econômico“.
Oportunidade
crescimento
O penúltimo parágrafo: “Exortamos
a população brasileira a fazer desse momento difícil uma oportunidade de
crescimento, abandonando os caminhos da intolerância, do desânimo e do
desencanto. Incentivamos as comunidades eclesiais a assumirem, à luz do
Evangelho, a dimensão política da fé, a serviço do Reino de Deus. Sem tirar os
pés do duro chão da realidade, somos movidos pela esperança, que nos compromete
com a superação de tudo o que aflige o povo“
Cuidado
com fake news
“Alertamos para o cuidado com fake news, já
presentes nesse período pré-eleitoral, com tendência a se proliferarem, em
ocasião das eleições, causando graves prejuízos à democracia“, concluem os
bispos. E a mensagem termina também com o Papa Francisco: “O Senhor
‘nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o
povo, a vida dos pobres’“.
Fonte: Rádio
Vaticano
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