sábado, 3 de março de 2018

CATEQUESE QUARESMA (III)


 Caros amigos, já que estamos na Quaresma não poderíamos deixar de falar em algo muito importante que nos é apresento pela Mãe Igreja: o Sacramento da Reconciliação, da confissão dos pecados, do reconhecimento de nossas culpas, grandes e pequenas. É o poderoso remédio da confissão dos pecados que sintetiza, no ato extremo de humilhação, o tom acinzentado de nossas culpas, que de algum modo mancharam nossa alma diante de Deus. Lembramos a viva recomendação do Papa Francisco na Bula “Misericordiae Vultus”, n 17: “Com convicção, ponhamos novamente no centro o sacramento da Reconciliação, porque permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia. Será, para cada penitente, fonte de verdadeira paz interior”. Esse Sacramento é sinal da solicitude divina para com a nossa fragilidade humana. O Senhor deixou-nos todos os meios mais eficazes para que, uma vez longe dEle pelo pecado pudéssemos voltar e sermos acolhidos, como o filho que deixou a casa paterna, mas encontrou seu pai de braços abertos, disposto a acolher como filho que era e não como um egresso qualquer (Lc 15,18). Por isso mesmo, disse Bento XVI, “outro aspecto da espiritualidade quaresmal é aquilo que poderíamos definir ‘agonístico’ (...) quando se fala de ‘armas’ da penitência e do ‘combate’ contra o espírito do mal. (...) Trata-se de uma batalha espiritual, que se destina contra o pecado e, por fim, contra satanás. (...) Santo Agostinho observa que quem deseja caminhar no amor de Deus e na sua misericórdia não pode contentar-se com a libertação dos pecados graves e mortais, mas ‘pratica a verdade reconhecendo também os pecados que se consideram menos graves... e vem à luz cumprindo obras dignas. Também os pecados menos graves, se forem descuidados, proliferam e causam a morte’ (In Io. evang. 12, 13, 35)” (Homilia 01/03/2013). O perdão dos pecados é obra do Amor de Deus! Não descuidemos de deixar passar em vão essa graça do perdão dos pecados, não nos habituemos a caminhar longe do Senhor. Sejamos atentos para com essa prática sacramental e nossa vida se tornará cada vez mais límpida; da limpidez da pureza da alma que se sente amada por seu Pai. Se isso é assim, a maravilhosa experiência com o amor de Deus se dá na acolhida incondicional de quem se acerca de um confessor, no momento do Sacramento da Reconciliação. Esse Sacramento existe porque a misericórdia de Deus, pela voz do Filho, que conheceu pessoalmente o drama do pecado, e sabendo da fragilidade do ser humano deixou-nos um sinal de solidariedade, uma vez que “o pecado é, antes de mais, ofensa a Deus, ruptura da comunhão com Ele. Ao mesmo tempo, é um atentado contra a comunhão com a Igreja” (CIC, 1440). Portanto, a confissão dos pecados é o reconhecimento pessoal do afastamento da pessoa para com Deus; esse distanciamento foi opção da própria pessoa, que fez opções errôneas, mas “perante a gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude do perdão. A misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa” (MV, 03). Para se confessar uma das condições, fora a matéria horrenda do pecado, é que o pecador esteja arrependido de verdade. É o que chamamos de contrição. Diz o Catecismo da Igreja, n. 1451 que “entre os atos do penitente, a contrição ocupa o primeiro lugar. Ela é ‘uma dor da alma e uma detestação do pecado cometido, com o propósito de não mais pecar no futuro’”. Aquele que está arrependido sofre com o ato cometido, e se envergonha; e essa se dá pela avaliação do pecado cometido em um franco e sincero exame de consciência feito de modo pessoal ou mesmo comunitário. Sabemos quando cometemos um erro grande ou pequeno que seja, mas não descuidemos que mesmo com suas “graduações”, o pecado continua sendo pecado e o cristão verdadeiro deve sempre aborrecer destas faltas cometidas. Havendo arrependimento verdadeiro, a confissão dos pecados e absolvição destes, o penitente que demonstrou na confissão o desejo vivo de se afastar do pecado e retomar um fecundo caminho de vida cristã passa ao seguinte passo, que será o propósito de mudança, uma vez que “tais penitências ajudam-nos a configurar-nos com Cristo, que, por Si só, expiou os nossos pecados uma vez por todas. Tais penitências fazem que nos tornemos co-herdeiros de Cristo Ressuscitado, ‘uma vez que também sofremos com Ele’ (Rm 8, 17)” (CIC, n.1460). Na verdade, confessar-se não é obrigação, é antes de tudo necessidade da alma cristã. Confessar-se é levantar novamente a cabeça, olhar para frente e ver com alegria que o Pai está de braços abertos para nos acolher. Disse o Papa Francisco que “depende de nós, se nos reconhecemos necessitados de misericórdia: é o primeiro passo do caminho cristão; trata-se de entrar através da porta aberta que é Cristo, onde Ele mesmo, o Salvador, nos espera e nos oferece uma vida nova e jubilosa” (Homilia, 10/02/2016). Caros irmãos, estamos em um tempo especial da graça de Deus que é a Quaresma. Por isso aproveitemos para pensar bem qual tem sido o verdadeiro itinerário da nossa vida. Entreguemo-nos nos braços daquele Pai que sempre nos acolherá, e “assim, com a instituição da quaresma, a Igreja não conduz os seus filhos a simples exercícios de práticas exteriores, mas a um empenho sério de amor e de generosidade pelo bem dos irmãos. Esta é a quaresma, este é o exercício da verdadeira penitência, e é quando o Senhor atende a todos, no ‘tempo favorável’ de graça e de perdão” (João XXIII, Radiomensagem pela Quaresma de 1963).

Pe. Rafhael Silva Maciel

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