sábado, 10 de março de 2018

CATEQUESE IV


 Pe. Rafhael Silva Maciel

 A cruz de Jesus é o sinal da nossa salvação; repetimos essa verdade todas as vezes quando rezamos na via Sacra: “Porque pela Santa Cruz, remistes o mundo”. O evangelista são João nos diz que Jesus “tendo amado os seus que estavam no mundo amou-os até o fim” (Jo 13,1). Deste modo, a cruz, lugar do sacrifício de Jesus pelos seres humanos, não é somente o lugar da glorificação, mas é também o lugar da manifestação extremada do amor de Deus, “um mistério de amor justo da parte de Cristo para com seu Pai celeste, a quem o sacrifício da cruz, oferecido com coração amante e obediente, apresenta uma satisfação superabundante e infinita pelos pecados do gênero humano” (Pio XII, “Haurietes Aquas”, n.20). Por isso “Deus é amor” (1 Jo 4,8). Toda a existência de Jesus era movida pelo amor – e foi o amor, proveniente de Deus mesmo, que fez com que Jesus entregasse sua vida. Por isso, “quando o divino Redentor pendia da cruz, sentiu o seu Coração arder dos mais variados e veementes afetos, isto é, de afetos de amor ardente, de consternação, de misericórdia, de desejo inflamado, de paz serena; afetos claramente manifestados naquelas palavras: ‘Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem’(Lc 23,34); ‘Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?’(Mt 27,46); ‘Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso’(Lc 23,43); ‘Tenho sede’(Jo 19,28); ‘Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito’(Lc 23,46)” (Pio XII, “Haurietes Aquas”, n.20). O amor de Jesus, portanto, foi um amor de entrega total, entrega ao projeto de vida, de conversão e de salvação do Pai para com a humanidade. Essa entrega de amor que Jesus fez da sua própria vida, é consequência da sua total submissão à missão do Pai. E qual é essa vontade? Segundo diz o próprio Jesus, é a salvação do seu povo (Jo 6,39), que estava mergulhado no pecado, que estava preso ao simples querer humano. A Aliança anterior foi quebrada e Deus quis reatar esta Aliança para que o povo pudesse retornar à sua paz. Por isso ouvimos as palavras atuais de São Leão Magno: “É ainda mais admirável a misericórdia de Deus para conosco porque Cristo não morreu pelos justos, nem pelos santos, mas pelos pecadores e pelos ímpios. E como a natureza divina não estava sujeita ao suplício da morte, ele assumiu, nascendo de nós, o que poderia oferecer por nós” (Ofício das Leituras, Terça-feira, V Semana da Quaresma). Em Jesus Cristo a Aliança de Deus se renova e se realiza de uma vez por todas – “De fato se esta primeira aliança não fosse digna de reparo, não se trataria de substituí- la por uma segunda” (Hb 8,7). Desta forma “abolida a multiplicidade dos sacrifícios antigos, toda a variedade das vítimas carnais é consumada na oferenda única do vosso corpo e do vosso sangue (...) e assim todas são substituídas por um só sacrifício” (S. Leão Magno, Ofício das Leituras, Terça-feira, V Semana da Quaresma). A definição total, o selo da Nova Aliança, em Jesus Cristo se deu na CRUZ. Foi na Cruz que Jesus realizou a redenção do gênero humano e o resgatou para a eternidade. Foi na Cruz que Jesus colocou a humanidade novamente em sintonia com o Pai. Aquela que era sinal de maldição torna-se com Jesus e em Jesus, sinal da salvação, pois em Jesus tudo adquire novo significado, tudo o que é velho passa; esse sinal de salvação dado por Jesus é a realização plena dos sinais prefigurativos do Antigo Testamento (Nm 21,4b-9// Jo 3,13-15). O sacrifício de Cristo é único, não há outro maior, ou melhor. Uma vez por todas o amor de Deus triunfou na Cruz, pois Deus nos salvou por meio de sua Paixão, Morte e Ressurreição, “nela (a Cruz) se encontra o tribunal do Senhor, o julgamento do mundo, o poder do Crucificado!” (S. Leão Magno, op.cit.). Por isso é que o Apóstolo Paulo pode afirmar que acima do Nome de Jesus não há outro maior (Fl 2,6-11), afinal, Deus, no sacrifício vicário de Cristo na Cruz, exaltou o seu eleito, lhe conferiu toda a honra e toda a glória. Se por amor Jesus enfrentou a Cruz e deu sua vida pela nossa salvação, por isso mesmo não podemos nós recusar a nossa cruz. Não podemos e nem devemos fugir do caminho do Calvário, mas enfrentá-lo como Jesus (Lc 22,42). A Cruz de Cristo é sinal de salvação quando, olhando para a vitória do Filho de Deus, sabemos que Deus nos ama e que sua salvação nos alcança. A Cruz de Cristo, refletida nas cruzes que carregamos em nossas vidas, é caminho para o céu assim entendiam os santos: “Fora da Cruz não existe outra escada por onde subir ao céu” (Sta. Rosa de Lima). Pe. Henri Caffarel escreve que “aquele que não mortifica constantemente um egoísmo sempre renascente, que não acolhe os sofrimentos, pequenos ou grandes, como sendo meios de purificação, não oferecerá jamais o espetáculo de um amor radiante, de uma religião sedutora” (Textos escolhidos do Pe. Caffarel, p.40). Nestes dias que vão nos aproximando da Páscoa e nos quais celebraremos de modo solene os mistérios de nossa redenção, meditemos e coloquemos nossa vida, nossas dores, nossas preocupações, nossos projetos, nos braços abertos de Jesus na Cruz, pois ele nos dá uma certeza de “que só algo de infinito” nos “pode bastar, algo que será sempre mais do que aquilo que alguma vez se possa alcançar” (Bento XVI, Spe Salvi, n.30) por forças humanas apenas: a vitória da Ressurreição.

Roma, 09 de março de 2018

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