Por Miguel Pérez Pichel
Papa Francisco pronuncia seu
discurso. Foto: Captura de Youtube
Vaticano, (ACI).- Em um esperado
discurso sobre as armas nucleares e a necessidade de iniciar um processo de
desarmamento de todos os países que as possuam, o Papa Francisco condenou com
firmeza “a ameaça do seu uso, bem como a sua própria posse”.
Francisco assinalou que não se deve
apenas condenar o emprego premeditado de armas de destruição em massa, como são
as armas nucleares, mas também sua mera posse já é condenável, pois sua
ostentação responde a uma estratégia dissuasiva baseada no medo e existe até
mesmo o risco de uma detonação acidental.
O Santo Padre fez esta afirmação na
audiência que concedeu nesta sexta-feira, 10 de novembro, na Sala Clementina do
Palácio Apostólico aos participantes do Congresso Internacional sobre
Desarmamento que acontece no Vaticano, com o tema ‘Perspectivas para um mundo
livre de armas nucleares e por um desarmamento integral’.
Em seu discurso, o Pontífice indicou
que “não podemos evitar experimentar um sentimento de inquietação se
consideramos as catastróficas consequências humanitárias e ambientais que
derivam de qualquer tipo de emprego da artilharia nuclear”.
“Portanto, também considerando o
risco de uma detonação acidental de tais armas por um erro de qualquer tipo, é
preciso condenar com firmeza a ameaça do seu uso, bem como a sua própria posse,
porque sua própria existência e funcionalidade servem a uma lógica de medo que
não afeta apenas as partes em conflito, mas o mundo inteiro”.
Francisco advertiu sobre a
dificuldade de deter a espiral armamentista uma vez que se inicia. “É um fato
que a espiral da corrida armamentista não conhece limites e os custos da
modernização e do desenvolvimento de armas, não somente nucleares, representa
uma considerável despesa para as nações, a ponto de colocar em segundo plano as
prioridades reais da humanidade sofredora: a luta contra a pobreza, a promoção
da paz, a realização de projetos educativos, ecológicos e sanitários, e o
desenvolvimento dos direitos humanos”.
Nesse sentido, defendeu que sejam
impulsionadas relações entre países sem ameaças armamentistas. “As relações
internacionais não podem ser dominadas pela força militar, pelas intimidações
recíprocas e pela ostentação dos arsenais bélicos”.
“As armas de destruição em massa, em
particular as atômicas, criam uma sensação enganadora de segurança e não podem
constituir a base da pacífica convivência entre os membros da família humana,
que deve inspirar-se em uma ética de solidariedade”, sublinhou.
Além disso, convocou a conservar a
memória das vítimas das armas nucleares, “o testemunho insubstituível dos
‘Hibakusha’, isto é, as pessoas atingidas pelas explosões nucleares de
Hiroshima e Nagasaki, e as demais vítimas dos experimentos com armas nucleares.
Que sua voz profética seja uma advertência para as novas gerações”.
Por outro lado, afirmou que “os
armamentos que têm como resultado a destruição do gênero humano são ilógicos
inclusive no âmbito nuclear. Do mesmo modo, a verdadeira ciência sempre está a
serviço do homem, enquanto a sociedade contemporânea aparece como aturdida
pelos desvios de projetos concebidos nela, inclusive com uma boa intenção em
sua origem”.
No entanto, também mostrou-se
esperançoso sobre futuras medias que interrompam a corrida armamentista.
“Recentemente, por exemplo, por meio de uma histórica votação na sede da ONU, a
maior parte dos membros da comunidade internacional estabeleceu que as armas
nucleares não são apenas imorais, mas também devem ser consideradas
instrumentos de guerra ilegítimos”.
O Papa Francisco falou da necessidade
de impulsionar um desenvolvimento integral que permita reordenar as prioridades
dos Estados, situando em primeiro lugar as necessidades das pessoas. “O
desenvolvimento integral é a estrada do bem que a família humana é chamada a
percorrer”, assegurou.
“É preciso rejeitar a cultura do
descarte e cuidar das pessoas e dos povos que sofrem as mais dolorosas
desigualdades, através de uma obra que saiba privilegiar com paciência os
processos solidários em relação ao egoísmo dos interesses contingentes”.
“Trata-se, ao mesmo tempo, de
integrar a dimensão individual na dimensão social, mediante a implantação do
princípio da subsidiariedade, favorecendo o aporte de todos. É necessário
promover o homem em sua unidade de alma e corpo, de contemplação e de ação”,
indicou ao finalizar o discurso.
Fonte:
ACI Digital
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