Milhares de pessoas, dos mais diversos credos, se reuniram para reavaliar a vida e ressignificar a morte
No Parque da Paz, milhares de pessoas compareceram durante o todo o dia ( Fotos: Kid Jr, Cid Barbosa e Kleber A. Gonçalves )
por Nícolas Paulino - Repórter
Mário, Antônia, Cleonice, Perpétua, Cândida, Zacarias, Pedro, Rubim, Orlando e Menzinha foram lembrados e visitados nessa quinta-feira (2), Dia de Finados. Assim como eles, milhares de pessoas já falecidas receberam tributos de parentes e amigos nos cemitérios de Fortaleza. Para marcar a data, missas, orações silenciosas, cânticos e decorações deram vida a um espaço lembrado pela morte.
O movimento começou cedo no Cemitério São João Batista, no Centro da cidade. Às seis da manhã, a autônoma Maria Aurineide chegou para armar uma barraca de vendas de coroas de flores, a R$10 ou R$15. Tempo para visitar os entes enterrados num cemitério de Caucaia, na Região Metropolitana, ela não sabia se ia ter. "Se a venda for boa pra gente sair cedo, a gente dá uma passadinha lá".
Enquanto os comerciantes ofereciam talismãs, medalhas, velas e imagens de santos, uma procissão adentrava o local. No saguão, um agrupamento indicava aqueles que tentavam se orientar sobre a localização dos túmulos dos parentes. Mais à frente, outras dezenas de pessoas proferiam rezas na capela.
Passando pela lateral, um coral da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias desejava mensagens positivas aos visitantes. Os recém-chegados falavam alto, reclamando da lotação, rezando o terço ou compartilhando notícias com conhecidos. Os que voltavam estavam calados, um silêncio atípico naquele mundaréu. Narizes vermelhos, óculos escuros e andar lento denunciavam a reflexão interior: afinal, o que é a vida?
Antônio Evandir quis estar lá para ajudá-las. O "consolador" queria ser ombro amigo para quem precisasse. "A morte vai acontecer, mas ninguém está preparado para ela", afirma. A boa intenção era partilhada por dez jovens voluntários do projeto "Um Amigo", todos despejando palavras de afeto e suporte.
A despeito do engarrafamento quilométrico na estrada de acesso, o Cemitério Jardim Metropolitano, no Eusébio, estava calmo. Famílias se reuniram no local para deixar flores nos túmulos dispostos no gramado. Alguns realizavam círculos de oração, sentados ou de joelhos. Observando tudo, a copeira Meire Viana segurava um lenço. Revisitou o pai e o irmão. "Faz um ano do meu pai e nove do meu irmão. A presença deles faz muita falta", conta. Depois das perdas, ela se reaproximou da família e do único irmão vivo.
Helton Nascimento se sentou no gramado, sozinho - "com a família fica muito conturbado" -, para conversar com a avó, falecida há um ano. Chateado, ele denuncia: as pessoas não se importam mais com os mortos. "Hoje, o pessoal visita por visitar. Se voltasse ao tempo antigo, haveria mais comunhão", pensa.
Nessa discussão, frei Ricardo Régis defende: a morte é apenas uma passagem. "Nessa data, nós não celebramos a dor, a realidade fúnebre, mas sim buscamos mais esperança", diz, ele mesmo rememorando os parentes que não poderia visitar a tempo, distantes que estavam em Juazeiro e no Rio Grande do Norte.
Fonte: Diário do Nordeste
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