«De cabeça para baixo», precisamente como Pedro pediu para ser crucificado, ciente de que era «o mais pecador dos apóstolos» – a ponto de ter «renegado o Senhor» – mas de ter sido escolhido «para apascentar com amor o povo». Foi um dos ícones que o Papa Francisco delineou na manhã de sexta-feira, 2 de junho, durante a missa celebrada na capela Santa Marta, inspirando-se no diálogo entre Jesus e Pedro do modo como foi narrado por João no trecho evangélico (21, 15-19), proposto pela liturgia de hoje.
«Este diálogo entre o Senhor e Pedro – observou Francisco – é tranquilo, entre amigos, sereno, pudico, às margens do lago onde Pedro tinha sido chamado no início». Animavam este diálogo, explicou o Papa, algumas «palavras» como «amor, apascentar, as minhas ovelhas, segue-me: palavras serenas, daquela atmosfera da ressurreição» que «o Senhor leva em frente».
Assim estamos diante de «um diálogo de amigos e serviço, porque é feito após a refeição que o próprio Jesus tinha preparado». É «um diálogo – insistiu o Pontífice – no qual Jesus, que é o grande pastor, confia as suas ovelhas a Pedro».
Portanto, «um diálogo entre amigos». De facto, Jesus diz a Pedro: «”Amas-me?”. “Também tu queres ser meu amigo? És meu amigo?”». Exatamente «esta – prosseguiu o Papa – é a atmosfera deste diálogo, desta página do Evangelho tão serena e pudica».
Francisco quis «indicar três aspetos» precisamente em relação a «este diálogo». O primeiro é aquele «segue-me». Sim, explicou, «Jesus escolheu o mais pecador dos apóstolos: os outros fugiram. Ele renegou-o» dizendo «não o conheço». Mas eis que «Jesus lhe pergunta: “Mas tu amas-me mais do que eles?”». Portanto, afirmou o Pontífice, «Jesus escolhe o mais pecador». A tal propósito, confidenciou, «vem-me à mente o diálogo de um santo do século XVII com Jesus, um santo ao qual Jesus tinha concedido muitas graças. Era uma mulher, uma santa: “Mas Senhor a mim que sou tão pequena, tão pecadora”. E o Senhor disse-lhe: “Se eu tivesse encontrado alguém mais pecador do que tu, a ele teria dado isto“». Portanto, prosseguiu Francisco, «o mais pecador foi escolhido para apascentar o povo de Deus, para “cuidar” do povo de Deus: isto faz-nos pensar».
O segundo ponto sugerido pelo Papa foi «a palavra “amor”» que «é recorrente neste diálogo: “apascenta, porque me amas “apascenta”, porque és meu amigo “apascenta”». Sim «apascentar com amor». E «Pedro retoma isto na sua primeira carta: aprendeu». Não é preciso «apascentar com a cabeça erguida, como o grande dominador, não: apascentar com humildade, com amor, como fez Jesus». «Esta é a missão que Jesus confia a Pedro: sim, com os pecados, com os erros». A ponto que «depois deste diálogo, Pedro comete um engano, um erro: é tentado pela curiosidade e diz ao Senhor: “este outro discípulo para onde irá, o que fará?”». Mas «com amor, no meio dos seus erros, dos seus pecados, mas com amor». Porque «”estas ovelhinhas não são as tuas ovelhas, são as minhas”, diz o Senhor». Portanto «”ama”, se és meu amigo, deves ser amigos delas”».
O terceiro aspeto do diálogo entre Jesus e Pedro são «dois ícones». O da «quinta-feira santa – explicou – quando Pedro seguro de si próprio, com a mesma certeza com a qual disse “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, diz à serva do sumo sacerdote: “Não conheço aquele homem, não pertenço ao seu grupo”».
Resumindo, afirmou o Pontífice, «Pedro renegou Jesus e depois cruzaram-se os olhares: quando Jesus sai, olha para ele, e Pedro corajoso, também corajoso na negação, foi capaz de chorar amargamente». «Em seguida, dedicou a vida toda ao serviço do Senhor – acrescentou Francisco – e acabou como o Senhor: na cruz. Mas não se vangloria» dizendo «”Acabo como o meu Senhor!”. Não. Pede “por favor, colocai-me sobre a cruz com a cabeça para baixo, para que se veja pelo menos que não sou o Senhor, sou o servo”».
«É isto que podemos compreender deste diálogo tão bonito, tão sereno e amistoso, tão pudico» concluiu o Pontífice. Fazendo votos «de que o Senhor nos conceda sempre a graça de caminhar na vida com a cabeça para baixo: a cabeça erguida pela dignidade que Deus nos dá, mas de cabeça baixa, sabendo que somos pecadores e que o único Senhor é Jesus: nós somos servos».
Fonte: L’Osservatore Romano
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