sexta-feira, 30 de junho de 2017

ESPERANÇA E FÉ NA PROCISSÃO MARÍTMA DE SÃO PEDRO



A festa religiosa teve início logo às 7h30, com uma Missa na Paróquia de São Pedro, na Avenida Beira-Mar
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/logger/p.gif?a=1.1779888&d=/2.187/2.188/2.759/2.806
O andor com a imagem de São Pedro, considerado protetor dos pescadores, deixa a Paróquia que tem o seu nome acompanhado por uma multidão pelas ruas do Mucuripe ( Fotos: Kleber A. Gonçalves )

Não tem jeito: todo pescador tem devoção a São Pedro. A garantia é dada por Antônio Pereira de Matos, que cresceu entre as ondas do Mucuripe, em Fortaleza, desde os oito dos 63 anos de vida, acompanhando os remos do avô e do pai, também pescadores. Hoje, já adulto, ajuda a carregar nos ombros a imagem do Santo, da paróquia à jangada, para a procissão marítima realizada tradicionalmente nos dias 29 de junho, dia dedicado ao patrono dos pescadores.
Na capital cearense, a festa religiosa teve início logo às 7h30, com a celebração de uma missa cujo público nem cabia entre as paredes da Paróquia de São Pedro, na Avenida Beira Mar. A devoção que inunda os olhos e guia cada gesto de louvor à imagem do santo, "o primeiro chefe da Igreja", encontra origem na empatia dos fiéis.
"Jesus viu nele a fortaleza de um homem bom, jogando a rede ao mar. Cada um de nós tem um Pedro dentro de si, e nos aproximamos tanto porque ele era gente como a gente. Sempre negamos e voltamos a Jesus, e assim ele também fazia", reflete Fernando Pontes, padre da paróquia homônima ao santo.
A admiração por quem foi - e, para os devotos, continua sendo - Pedro se mistifica e ganha forma na fé. "Tenho muito a agradecer a ele. Passei por muitas tempestades, navios se aproximando do barco, ventos demais e, na hora de voltar, ventos de menos... Se eu estou aqui, devo a Deus e a São Pedro", reverencia o pescador Antônio Pereira, ao que sintetiza o presidente da colônia de pescadores Z-8, Possidônio Soares: "São Pedro é, para nós, símbolo de fé e esperança em dias melhores".
Soares ressalta ainda a importância simbólica da procissão marítima aos que vivem no mar - e do mar. "Manter tudo isso vivo é muito importante para o Mucuripe, porque, depois do índio, foi o pescador o primeiro morador daqui. É uma festa centenária, que continua ocupando nossos verdes mares", afirma, garantindo que, antes mesmo de o percurso ser registrado, nos anos 1930, as homenagens ao santo já aconteciam na Capital - ancorando a empolgação do pescador Dimas Pereira, 58. "É uma alegria ver São Pedro entrando no mar com a gente, hoje. Torço pra que isso nunca acabe", declara.
A esperança de que a tradição se perpetue divide espaço com a preocupação latente de muitos pescadores. Isso porque, segundo eles, a festa tem sido descaracterizada, a começar pela quebra de uma tradição: as famílias dos pescadores não podem mais embarcar junto aos tripulantes, devido a uma restrição da Capitania dos Portos do Ceará.
"A gente não impede a festa, pelo contrário, incentiva - desde que esteja tudo de acordo com as normas, visando a segurança. É uma festa bonita, mas deve ser segura", explica o capitão dos portos do Estado, Leonardo Salema. Em 2015, devido à superlotação das embarcações, a procissão foi cancelada. Neste ano, porém, de acordo com Salema, 18 barcos foram cadastrados e inspecionados para acompanhar o percurso marítimo de São Pedro, que representa o primeiro patrimônio histórico imaterial de Fortaleza, registrado em 2010 pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural (Comphic).
Quadrilha infantil
"Antes, quando o santo chegava à risca do mar, no barco, aqui na areia era feita uma quadrilha infantil. A festa vai mudando, mas a identidade profunda resiste", avalia uma das relatoras do registro no Comphic, Olga Paiva. Depois da missa-marco da Festa de São Pedro, entre as centenas de fiéis sob o sol de céu limpo, Maria dos Navegantes, 66, escorava-se num barco e acompanhava a procissão com os olhos, analisando todas as mudanças sofridas pela celebração.
Observava tudo em terra firme, com os pés bem fincados na mesma areia em que corria aos cinco anos de idade, quando chegou à praia do Mucuripe. Porque o mar é lindo demais, mas não, não tem coragem de navegá-lo. O mergulho, agora, só se dá mesmo pelas ondas da memória - por onde ainda navega o marido pescador que perdeu para o alto mar, num acidente entre a canoa e uma lancha, há 26 anos.
"Porque covarde, Maria, é o pescador que morre em terra firme", ele dizia, antes de se entregar ao mar de São Pedro que nunca o trouxe de volta". (Colaborou Theyse Viana).

Fonte; Diário do Nordeste

Nenhum comentário: