A Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC), que terá início no domingo da Ascenção do Senhor, dia 28 de maio, é um momento promovido para conclamar cristãos e cristãs, de todas as denominações, à unidade. Para além da oração, ações em vista do diálogo e da busca pela unidade dos cristãos têm sido desenvolvidas pela Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Um ambiente “delicado e desafiador” para promoção deste trabalho é o contexto das igrejas neopentecostais.
De acordo com o assessor da Comissão para o Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso da CNBB, padre Marcus Barbosa Guimarães, o principal trabalho tem sido aprofundar, através de leituras e encontros de formação – alguns desses, com a presença de pastores pentecostais -, o crescente e complexo movimento pentecostal e neopentecostal. Para Guimarães, o pentecostalismo é “uma ‘nova janela aberta’ para o ecumenismo”.
Padre Marcus considera urgente encontrar caminhos de aproximação católico-pentecostal, promovendo, com as pessoas e comunidades pentecostais que se abrem ao diálogo, o conhecimento, a amizade e o respeito mútuos, a convivência e o testemunho comum.
Uma análise de conjuntura eclesial apresentada em fevereiro deste ao Conselho Episcopal Pastoral (Consep) da CNBB aponta esta vertente protestante como “comunidades de estilo evangélico, fundamentalista e espontaneísta, que se distanciam da tradição unitária católica, rompendo o próprio tecido social” predominantes na América Latina.
Nem sempre abertos ao diálogo, muitos dos pentecostais “têm posturas agressivas e ativamente proselitistas”. Entretanto, segundo o texto, se o diálogo ecumênico em sentido próprio é pouco viável, permanece a possibilidade do diálogo entre sujeitos, inserido nas várias circunstâncias da vida cotidiana. É o que padre Marcus chama de “ecumenismo de amizade”, que está presente no plano local, sobretudo na família, no trabalho, na vizinhança e na área social.
Fenômeno crescente
O pentecostalismo é uma realidade no mundo. Atualmente engloba cerca 650 milhões de fiéis de diversas denominações. Presente no Brasil desde 1910, com a chegada da igreja Congregação Cristã no Brasil – considerada pelos sociólogos da religião uma igreja clássica neste contexto -, o movimento pentecostal cresceu no meio do século e iniciou nas décadas de 1970 e 1980 a “terceira onda”, conhecida como neopentecostalismo.
O pentecostalismo é uma realidade no mundo. Atualmente engloba cerca 650 milhões de fiéis de diversas denominações. Presente no Brasil desde 1910, com a chegada da igreja Congregação Cristã no Brasil – considerada pelos sociólogos da religião uma igreja clássica neste contexto -, o movimento pentecostal cresceu no meio do século e iniciou nas décadas de 1970 e 1980 a “terceira onda”, conhecida como neopentecostalismo.
“Uma das particularidades que se tem nas igrejas neopentecostais em relação às clássicas, além dos dons da glossolalia, da cura, da profecia e do exorcismo típicas do pentecostalismo, é a forte ênfase na teologia da prosperidade. Este tem sido um dos principais elementos do maior fenômeno ocorrido no protestantismo brasileiro nas últimas décadas que tem a sua máxima expressão a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).
Com base nos dados do Censo Demográfico de 2010, cinco igrejas concentram nada menos que 85% dos pentecostais do país: Assembleia de Deus (12.314.410 adeptos), Congregação Cristã no Brasil (2.289.634), Igreja Universal do Reino de Deus (1.873.243), Igreja do Evangelho Quadrangular (1.808.389) e Igreja Pentecostal Deus é Amor (845.383). Em 2010, a Assembleia de Deus sozinha, já quase centenária e dividida em várias denominações, concentrava quase uma terça parte dos neopentecostais (30%) do Brasil.
Diante dos desafios que se apresentam na tentativa de estabelecer um diálogo, a Igreja, por meio dos grupos que atuam no caminho ecumênico, reconhece a necessidade de “dar passos realmente importantes para a unidade”.
A análise de conjuntura de fevereiro também recordou um documento solicitado à CNBB pelo Conselho Episcopal Latino Americano (Celam), de 1984, no qual os bispos afirmaram serem imensos os problemas ecumênicos que surgem do pentecostalismo, sobretudo porque o pentecostalismo “está marcado, desde o início, por um forte anticatolicismo”.
Por outro lado, os bispos orientaram à época, que, como resposta a esse comportamento dos pentecostais, os fiéis devem “evitar campanhas de ataque; deixar-se interrogar por estes grupos, pois deve haver valores cristãos nessas vertentes laterais ou até contrárias à Igreja oficial de uma determinada época”.
“Para nós, católicos, penso, não deveríamos falar apenas do que, a nosso juízo, existe de falso nas comunidades pentecostais, mas também, e principalmente, nos perguntar sobre o que não funciona tão bem em nossas Igrejas para que alguns de nossos próprios fiéis a abandonem”, sugere padre Marcus. Outro questionamento é como é possível sempre mais e melhor interpelar e atrair as pessoas na evangelização: “Será que do movimento pentecostal podemos aprender algumas coisas?”, indaga.
Encontro fraterno
Uma experiência concreta da Comissão para o Ecumenismo da CNBB no diálogo com as Igrejas pentecostais é a realização do Encontro de Cristãos na busca da Unidade e Santidade (Encristus), evento que procura favorecer o encontro de evangélicos e católicos com um sentido espiritual, discipular, bíblico e apostólico.
Uma experiência concreta da Comissão para o Ecumenismo da CNBB no diálogo com as Igrejas pentecostais é a realização do Encontro de Cristãos na busca da Unidade e Santidade (Encristus), evento que procura favorecer o encontro de evangélicos e católicos com um sentido espiritual, discipular, bíblico e apostólico.
“Não se trata de uma ‘comissão interconfessional’, nem de uma instância representativa dos dirigentes das comunidades participantes. Trata-se, sobretudo, de um encontro de irmãos que se reconhecem chamados pelo Senhor Jesus Cristo a uma vida de santidade e unidade, conforme o Evangelho”, destaca padre Marcus.
Fonte: CNBB
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