Papa Francisco celebra Missa na
Basílica de Santa Sabina, em Roma / Foto: Daniele Garofani (L'Osservatore
Romano)
VATICANO, 11 Mar. 17 / 10:00 am (ACI).- Alguns meios de
comunicação afirmaram que em uma recente entrevista ao jornal alemão Die Zeit,
o Papa Francisco teria dito que duvida da existência de Deus. O que o Papa
realmente disse?
A pergunta do jornalista Giovanni di
Lorenzo da revista alemã, que causou a má interpretação, ocorreu em um momento
da entrevista no qual dialogavam sobre a crise de fé. O Papa disse que “as
crises ocorrem para crescer na fé”. “Não é possível crescer sem crises”, disse
e recordou que “o que hoje te completa, amanhã não. A vida nos coloca
provações”.
Então, o jornalista fez a seguinte
pergunta: “Mas na vida não há somente grandes desgraças onde as pessoas podem
se desesperar. A crise de fé também pode ocorrer naquele momento, que não sei
se o senhor já experimentou, no qual inclusive não sabe se é verdade que Deus
existe, que Jesus existe, etc. São momentos que o senhor conhece?”.
Esta foi a resposta completa de
Francisco: “Sim, sim. Momentos vazios. Falei de momentos escuros, de momentos
nos quais..., e de momentos vazios. Eu também conheço os momentos vazios”.
Portanto, na sua resposta, o Santo
Padre não diz em nenhum momento que duvidou de Deus, mas que experimentou
“momentos vazios”.
Na entrevista, a primeira que o
Pontífice concede a um meio de comunicação alemão desde que foi eleito Papa, o
jornalista havia também perguntado se ele tinha experimentado momentos de
escuridão.
Na resposta do Papa é onde se
encontra a chave para compreender a resposta mal interpretada por diversos
meios: “Sim, momentos espirituais escuros, escuros, nos quais disse: ‘Senhor,
não entendo isso’. Quando ocorrem as situações não só de escuridão das quais
mencionei, mas também situações feias ocorridas por minha culpa, me reconheço
pecador: sou pecador, e fico com raiva... Agora já estou acostumado com isso”.
Assim, o Papa Francisco não disse em
nenhum momento que duvidou da existência de Deus, mas que também experimentou
momentos espirituais escuros.
A noite escura
Esses momentos escuros não são
exclusivos do Papa Francisco. Muitos santos, como São João da Cruz e Santa
Teresa de Lisieux, experimentaram e meditaram sobre o significado dessa “noite
escura”, como é conhecida esta experiência espiritual.
O próprio Jesus, primeiramente na
agonia em Getsêmani e, em seguida, mais intensamente na cruz, experimentou a
escuridão e expressou em suas palavras “Meu Deus, por que me abandonaste?”.
Nesse sentido, cabe recordar que
Santa Teresa de Calcutá experimentou, durante anos, esta experiência de vazio e
escuridão espiritual, como ela mesma reconheceu.
Em uma das suas cartas ao Pe.
Picachy, seu conselheiro espiritual, escreveu: “Senhor Deus meu, quem sou eu
para que Tu me abandones? Uma filha de Teu amor, e agora, convertida na mais
odiada, não amada. Chamo, me agarro, eu quero, mas não há resposta, não há
ninguém em quem possa me agarrar, nada, sozinha. A escuridão é tamanha e estou
sozinha”.
Em outro fragmento da carta, ela
perguntou: “Onde está minha fé? Inclusive no mais profundo, bem dentro, não há
nada além de vazio e escuridão. Deus meu, como é dolorosa esta dor
desconhecida. Dói sem cessar. Não tenho fé”.
Santa Teresa de Calcutá chegou a amar
esta “noite escura”, porque compreendeu que a aproximava mais do sofrimento de
Jesus abandonado na cruz e do sofrimento dos pobres. Em outra carta, deixou escrito:
“Pela primeira vez nestes onze anos, cheguei a amar a escuridão. Pois agora
creio que é uma parte, uma muito, muito pequena parte da escuridão e da dor de
Jesus na terra”.
Fonte: ACI Digital
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