sexta-feira, 17 de março de 2017

COMISSÃO PARA O SERVIÇO DA CARIDADE VOLTA A REFLETIR SOBRE PASTORAL DE CONJUNTO


De acordo com dom Guilherme Werlang, objetivo é intensificar a transversalidade no trabalho das Pastorais Sociais
“O diálogo entre as Pastorais Sociais e relacionado a outras pastorais, outras dimensões das pastorais da Igreja não está funcionando bem”, aponta diagnóstico do bispo de Ipameri (GO) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB, dom Guilherme Antônio Werlang. Neste sentindo, o Encontro Nacional das coordenações das Pastorais Sociais, realizado em Brasília (DF), entre os dias 13 e 16 de março, propôs o estudo do tema “Pastoral Social e Pastoral de Conjunto”. A meta, reforçada pela reflexão da temática, é intensificar a Pastoral de Conjunto no âmbito das Pastorais Sociais da Igreja no Brasil.
O tema que já havia sido trabalhado no ano passado, foi apresentado desta vez pelo padre Francisco de Aquino Júnior, o qual destacou o papel das Pastorais Sociais na missão da Igreja apresentou dois aspectos da pastoral de conjunto. Para o padre, as Pastorais têm na Igreja a missão de dinamizar o compromisso eclesial com a vida em sociedade, superando o âmbito da interioridade e das relações pessoais ou interpessoais. “A fé cristã tem implicações para toda a sociedade, a forma que nós organizamos nossa vida coletiva”, salientou.
A dinâmica da pastoral de conjunto foi apresentada a partir de dois aspectos. O primeiro é o de ajudar toda a Igreja a perceber que o Evangelho, a fé, tem uma dimensão social que diz respeito às estruturas da sociedade. “Isso não é só tarefa das Pastorais Sociais. Assim como toda a Igreja tem uma dimensão litúrgica, bíblico-catequética, tem uma dimensão social. Assim como a liturgia não pode ser reduzida a determinados grupos que são responsáveis por animá-la, também o compromisso com a justiça social não pode ser reduzido aos grupos que são responsáveis por animar esse serviço na Igreja”, disse padre Francisco.
Neste sentido, continuou, é necessário assumir como uma dimensão essencial e constitutiva do evangelho e da missão evangelizadora da Igreja o compromisso com a justiça social, a preocupação da Igreja com os projetos políticos, com a atividade econômica, com tudo aquilo que produz injustiça.
O outro aspecto diz respeito às próprias Pastorais Sociais, explicou o padre. Elas têm o desafio de uma maior unidade na sua missão como presença pública da Igreja nos processos de organização da sociedade e na luta pela justiça. “É que cada Pastoral Social tem um mundo de desafios, seja ligado aos camponeses, aos indígenas, à população de rua, às mulheres, aos negros, aos encarcerados... Cada uma dessas pastorais tem uma quantidade tão grande de desafios que às vezes há uma dificuldade de perceber que no enfrentamento desses desafios a gente se enfrenta com questões conjuntas”, observou.
“Na luta pela transformação da sociedade, se a gente tiver sozinho, a gente não consegue nada. A gente tem que se unir junto com as Pastorais Sociais, com outras igrejas, outras organizações sociais para criar uma força social capaz de garantir esses direitos”, ressaltou, lembrando a realidade de retrocessos nos direitos sociais que o país enfrenta, como a proposta de reforma da Previdência em tramitação no Congresso Nacional. 

Experiências conjuntas

Um exemplo da pastoral de conjunto no âmbito das Pastorais Sociais é a atuação do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) em várias iniciativas promovidas em parceria com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Cáritas, a Pastoral dos Migrantes. “Um dos objetivos que a gente tem buscado nos últimos anos é fortalecer os povos e comunidades tradicionais, então já temos feito algumas experiências conjuntas de formação, de apoio, de ações coletivas”, explica a coordenadora do CPP, Maria José Pacheco.
Em seu objetivo de anunciar aos pescadores a força libertadora do Evangelho, respeitando sua cultura, estimulando sua organização para que possam transformar as estruturas geradoras de injustiça e assim conquistar direitos, vida plena e bem-viver, a Pastoral tem enfrentado um contexto de “graves ameaças às comunidades”. Maria José conta que os riscos são de expulsão, de degradação, de contaminação das pessoas, de diminuição da pesca, da fonte de alimento e renda e, ao mesmo tempo, aliado a todo um processo de regulamentação dos direitos dos pescadores, um conjunto de leis e regras que tiram direitos das comunidades. 

Avaliação

O bispo de Amparo (SP) e referencial da Pastoral do Menor, dom Luiz Gonzaga Fechio, considerou o conteúdo apresentado no encontro “muito proveitoso” para que os bispos e coordenadores presentes percebessem a importância de trabalhar o tema “dentro de um contexto que, se não tomarmos cuidado, acabamos nos dividindo muito e perdendo a dimensão de um colegiado realmente que precisa acontecer para que a Pastoral Social não seja como se fosse um anexo”. Dom Fechio considerou que, mesmo com o trabalho com grupos específicos desenvolvido pelas pastorais, é necessário tem uma visão ampla. “A Pastoral Social é importante dentro da Igreja, onde quer que ela esteja, porque temos demandas daquilo com o que trabalha a Pastoral Social em todos os lugares, seja de crianças, jovens, idosos, enfermos”, afirmou. 
Para dom Guilherme Werlang, nos encontros realizados pela Comissão com as coordenações das Pastorais Sociais foi possível perceber que houve um crescimento significativo na transversalidade do trabalho, “mas também percebemos o quanto falta de passos novos a serem dados para que efetivamente a ação social seja da Igreja e não apenas de um pequeno setor dela. Essa é a meta que estamos procurando crescer sempre mais”.
Dom Luiz Gonzaga Fechio, avaliou que os momentos de reunião são “justamente para que possamos mutuamente nos ajudar, nos entusiasmar por esta causa”.
O encontro ainda contou com momentos de celebração, encaminhamentos relacionados ao Centro de Sustentabilidade das Pastorais Sociais (Census), partilha de atividades desenvolvidas pelas Pastorais, debates sobre a oportunidade de iniciar o processo da 6ª Semana Social Brasileira e um café da manhã com autoridades e representantes de entidades a respeito da Reforma da Previdência.
 Fonte: CNBB

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