Lima,
10 Fev. 17 / 07:00 am (ACI).- A Real Academia Espanhola (RAE),
instituição que regula o uso do idioma espanhol, defende que os seres vivos têm
sexo e não gênero, em normativas que continuam em vigor até a presente data,
como o Dicionário Pan-hispânico de Dúvidas (DPD), cuja primeira edição foi
publicada em 2005, e o relatório “Sexismo linguístico e visibilidade da
mulher”, do linguista Ignacio Bosque.
Em
resposta ao Grupo ACI no dia 8 de fevereiro, Pedro
Canellada, da Secretaria da Real Academia Espanhola, indicou que o Departamento
de ‘Español al día’ assegura que “o relatório de Bosque segue em vigor, pois
continua no site. E também é a informação que a DPD dá sobre gênero”.
O
Dicionário Pan-Hispânico de Dúvidas diz que “as palavras têm gênero (e não
sexo), enquanto os seres vivos têm sexo (e não gênero)”.
O
documento da RAE considera “inaceitável” que utilizem a palavra gênero “como um
mero sinônimo de sexo” e advertiu que “para as expressões discriminação de
gênero e violência de gênero existem alternativas como discriminação ou
violência devido ao sexo, a discriminação ou violência contra as mulheres,
violência doméstica, violência de casais ou semelhantes”.
A
DPD indica que “na teoria feminista”, o uso de “termo gênero se refere a uma
categoria sociocultural que significa diferenças ou desigualdades de índole
social, econômica, política, trabalhista, etc. Nesse sentido, é possível
interpretar expressões como estudos de gênero, discriminação de gênero,
violência de gênero etc.”.
A RAE também e referiu ao costume, “nos últimos tempos, por razões de correção
política e não de correção linguística”, de tornar explicita a “menção a ambos
os sexos”, esquecendo “que na língua está prevista a possibilidade de se
referir a grupos mistos através do gênero gramatical masculino”.
Esta
possibilidade, advertiu, não tem “nenhuma intenção discriminatória, mas a
aplicação da lei linguística da economia expressiva”.
“Só
quando a oposição de sexos é um fator relevante no contexto, é necessária a
presença explícita de ambos os gêneros”.
A
DPD também critica o uso do sinal arroba (@) “como um recurso gráfico para
integrar em uma única palavra as formas masculina e feminina do substantivo”.
“Deve-se
recordar que o arroba não é um sinal linguístico e, por conseguinte, a sua
utilização nestes casos é inaceitável”.
O relatório de Ignacio
Bosque
O
linguista Ignacio Bosque, membro da RAE, publicou o relatório “Sexismo
linguístico e visibilidade da mulher”, que foi aprovado por todos os membros
que participaram do plenário da organização, no dia 1º de março de 2012.
Em
seu documento, Bosque adverte sobre a recente publicação de “inúmeros guias de
linguagem não sexista” em centros de estudo, municípios e outras organizações,
que “foram escritas sem a participação dos linguistas”.
“Seus
autores parecem entender que as decisões sobre todas essas questões devem ser
tomadas sem a intervenção dos profissionais da linguagem, de modo que o
critério para decidir se existe ou não sexismo linguístico será a consciência
social das mulheres ou, simplesmente, dos cidadãos contrários à discriminação”,
lamentou.
Bosque
criticou que “se fossem aplicadas as diretrizes propostas nesses guias em seus
termos mais estritos, não se poderia falar”.
“Vê-se
como algo inteiramente natural que a autoridade, o responsável ou o gestor que
divide usuários e usuárias ou cidadãos e cidadãs se esqueça de seu
desdobramento quando já não está diante de um microfone ou de uma câmera. Uma
vez que saia da tribuna ou do estúdio de gravação, dirá que ‘vai jantar com uns
amigos’, sem intenção de excluir as mulheres, ou que ‘tem que ir ao colégio
buscar seus filhos’, sem que tenhamos que supor que ele não tem filhas. Falará,
em uma palavra, como todo mundo”, assegura.
Além
disso, o Dicionário Pan-Hispânico de dúvidas adverte que “nos substantivos que
designam seres animados, o masculino gramatical não só se emprega para se
referir a dois indivíduos de sexo masculino, mas também para designar a classe,
isto é, todos os indivíduos da espécie, sem distinção de sexos”, como nos
exemplos “o homem é o único animal racional” e “o gato é um bom animal de
estimação”.
Fonte: ACI Digital
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