Pe. Alberto Gatón /
Foto: Cortesia do Pe. Alberto Gatón
MADRI,
14 Fev. 17 / 12:20 pm (ACI).-
Frequentemente, a mídia informa sobre naufrágios de barcos rudimentares cheios
de pessoas refugiadas que arriscam tudo, tentando chegar à Europa. O Pe.
Alberto Gatón é capelão de uma fragata espanhola que combate o tráfico de
pessoas e que em quase cinco meses conseguiu resgatar mais de 3 mil pessoas.
“Cerca
de 70% destas pessoas são cristãos que fugiam da perseguição em seus países”,
assinala em diálogo com o Grupo ACI. “Fugiam da perseguição de Boko Haram na
Nigéria, dos grupos terroristas, da situação dos seus países”, acrescenta.
O
sacerdote estava a bordo da Fragata Navarra durante a Operação Sophia desde
setembro do ano passado até o final de janeiro deste ano. O navio tinha uma
tripulação de 208 marinheiros.
“Colaborávamos
também nos resgates das pessoas que as máfias abandonam em alto mar e que nós
da Fragata Navarra, junto com outras ONGs e outras forças navais europeias,
colaborávamos para resgatar”, comenta.
Em
precários botes ou embarcações de madeiras, centenas de pessoas todos os dias
tentam cruzar o Mediterrâneo e, conforme assinala o capelão, “é comum que
aconteça um temporal e, sem dúvidas, se não estivéssemos lá, eles estariam
mortos”.
Por
isso, insiste que algo primordial é “combater as máfias que traficam pessoas no
Mediterrâneo” e “ajudar sempre no resgate das pessoas que estão no mar, porque
são os pobres da terra que embarcam de todos os pontos da África e esperam
chegar à costa europeia, mas muitas vezes acabam no fundo do mar”.
“Às vezes, o vento, o mar agitado – ou o pior que pode acontecer é quando a
noite cai – dificulta o resgate. Graças a Deus, conseguimos resgatar todas as
embarcações que encontramos, embora algumas estivessem em condições de mar
muito ruins”.
O
Pe. Gatón recordou o seu primeiro regate em alto mar: “Logo que entraram na
fragata, começaram a dançar, foi um dia feliz porque ninguém morreu. Foi
maravilhoso ver os resgatados dançando sãos e salvos”.
Entretanto,
alegrias como as deste dia se opõem à profunda tristeza de ver “até que ponto
chega a maldade do coração humano no nosso mundo, que, quando esquece Deus, é
capaz de enviar crianças pequenas, mulheres grávidas e bebês em botes que são
como caixas de sapatos, caixões flutuantes, que tanto podem ser resgatados como
perdidos”.
Quando
os refugiados são resgatados, assinala, “a primeira coisa é curar as suas
feridas, alimentá-los, cuidar da desidratação... Mas, enquanto isso, eu sempre
estou lá com as famílias, com os doentes”.
Embora
costumasse estar com o uniforme militar, como impõe o regulamento, muitos
reconhecem nele um “abouna”, ou seja, um homem sagrado, um sacerdote. Em
seguida, recordou como uma senhora que havia sido resgatada pediu para que a
abençoasse e a criança que estava com ela.
“Os
pais da pequena tinham desaparecido antes do resgate e agora esta senhora era
responsável por ela. Apenas me pediu para abençoá-las. Rezamos juntos na
enfermaria”.
Em
outra ocasião, quem estava em uma embarcação pequena era um pastor protestante
que teve que fugir da perseguição religiosa no seu país. “Ajudei-lhe em tudo o
que podia”, assegura o capelão, afirmando que na maioria dos casos não pedem
nada material. “Querem apenas uma oração, um sorriso”.
Segundo
explica o Pe. Gatón ao Grupo ACI, o seu trabalho como capelão foi difícil
porque “se depara com a morte, a dor, a violência. Está longe de casa e o
sacerdote se apresenta como um companheiro para crentes e não crentes com quem
podem desabafar, podem conversar e compartilhar como não podem fazer com os
comandantes”.
“Tem
as mesmas obrigações que eles”, disse explicando se recebem alguma ordem “ou
uma manobra geral estarás no posto que te corresponde estar”. Mas, pontua que é
difícil “manter o equilíbrio, a responsabilidade entre a consideração de
oficial e ser um companheiro de todos”.
Enfim,
a tarefa é “permanecer com os paroquianos sem esquecer que você é militar, mas
dando tudo como sacerdote”.
O
sacerdote conta que todos os dias celebrava Missa na Fragata Navarra, onde não há
nenhuma capela e, por isso, celebrava no convés ou, se o tempo estivesse ruim,
em algum lugar adaptado.
O
capelão destaca que outro momento especialmente emocionante é uma oração que
rezam todas as tardes “na hora do pôr do sol, ao Senhor da calma e da
tempestade”. “Até os ateus costumam rezá-la às vezes quando há temporal ou têm
algum parente doente”, narra.
“Sempre
digo que, no mar, os ateus se tornam agnósticos; os agnósticos, católicos não
praticantes; e os não praticantes, pelo menos por um tempo, praticam. Essa é
minha experiência”.
Pe.
Alberto Gatón foi ordenado sacerdote aos 29 anos. Depois de exercer seu
ministério em Santander (Espanha), Roma e Estados Unidos, e por conselho de seu
bispo, decidiu entrar no exército. Quando iniciou este serviço, tinha 45 anos.
Atualmente,
é capelão maior da região militar sul, comandante permanente e, como tal,
pertence à Arquidiocese Militar.
Fonte: ACI Digital
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