quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O MEU VINCULO COM ELE - PREFÁCIO DO PAPA A UMA AMPLA BIOGRAFIA DE JOSEPH RATZINGER


Esta ampla biografia do meu predecessor Bento XVI é bem-vinda: oferece uma leitura abrangente da sua vida e do desenvolvimento do seu pensamento, fidedigna e equilibrada.
Todos na Igreja temos uma grande dívida de gratidão para com Joseph Ratzinger – Bento XVI pela profundidade e o equilíbrio do seu pensamento teológico, vivido sempre ao serviço da Igreja até às responsabilidades mais elevadas, de prefeito da Congregação para a doutrina da fé durante o longuíssimo pontificado de João Paulo II e, por fim, de pastor universal. O contributo da sua fé e da sua cultura para um magistério da Igreja capaz de responder às expectativas do nosso tempo, sobretudo durante as últimas três décadas, foi fundamental. E a coragem e a determinação com as quais enfrentou situações difíceis indicaram o caminho para lhes responder com humildade e verdade, em espírito de renovação e purificação.
Gostaria de insistir sobre o facto de que nestes primeiros anos de pontificado o meu vínculo espiritual com ele permanece particularmente profundo. A sua presença discreta e a sua oração pela Igreja são apoio e conforto contínuo para o meu serviço.
Recordei com frequência a audiência de despedida dos cardeais, a 28 de fevereiro de 2013, antes de deixar o Vaticano, quando pronunciou palavras comovedoras: «Entre vós está também o futuro Papa, ao qual já hoje prometo a minha incondicionada reverência e obediência». Então eu não podia saber que se referia a mim. Mas em todos os encontros com ele pude sentir não só reverência e obediência, mas também proximidade espiritual cordial, alegria de rezar juntos, fraternidade sincera, compreensão e amizade, mas inclusive disponibilidade ao conselho. Quem melhor do que ele pode compreender as alegrias e as dificuldades do serviço da Igreja universal e ao mundo de hoje, e permanecer espiritualmente próximo a quem é chamado pelo Senhor a carregar este fardo? Portanto a sua oração para mim é particularmente preciosa e a sua amizade, agradável.
Para a Igreja a presença de um Papa emérito juntamente com o titular é uma novidade. E dado que se amam, é uma bonita novidade. Num certo sentido exprime de maneira particularmente evidente a continuidade do ministério petrino, sem interrupção, como os elos de uma mesma corrente saldados pelo amor.
O povo santo de Deus a caminho compreendeu isto muito bem. Todas as vezes que o Papa emérito, aceitando o meu convite, apareceu em público e pude abraçá-lo diante de todos, a alegria e o aplauso dos presentes foram sinceros e intensos. Fiquei muito agradecido a Bento XVI por ter desejado participar na abertura do Jubileu da Misericórdia, passando através da Porta Santa logo depois de mim. E num seu pronunciamento recente («L'Osservatore Romano», 17.3.2016), no qual evidencia como «sinal dos tempos» o facto de que «a ideia da misericórdia de Deus se torne cada vez mais central e dominante» e que «o homem de hoje está à espera da misericórdia», demonstra mais uma vez de modo muito claro que o amor misericordioso de Deus é o fio unificador mais profundo dos últimos pontificados, a mensagem mais urgente que a Igreja em saída leva às periferias de um mundo marcado por conflitos, injustiças e desprezo pela pessoa humana.
A missão da Igreja, o serviço de Pedro, através das variações naturais das situações e das pessoas, são sempre anúncio do amor misericordioso de Deus para o mundo. Toda a vida de pensamento e de obras de Joseph Ratzinger visou esta finalidade, e esforço-me por continuar na mesma direção com a ajuda de Deus.
Fonte: L’Osservatore Romano

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