Lucas 11,1-13
DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM
Conhecer a Deus, saber como ele
é,compreender as suas decisões são curiosidades que inquietam a todos, desde a
infância até o fim da vida. Acompanhando as reflexões deste domingo, podemos
ver alguns retratos do rosto de Deus, algumas amostras do seu coração. Para
tanto, existe um segredo: a sintonia com ele. E há também uma chave: a oração
como uma força invencível do cristão.
A atitude fundamental do operante é a
sintonia com o projeto de Deus. Quando a
vontade humana coincide exatamente com a ideia divina, cria uma força
irresistível. E sendo a vontade de Deus de que haja justiça, igualdade,
liberdade entre as pessoas, rezar significa lutar para se estabelecer tal
vontade. Só assim a oração se torna real, vivida, engajada. Rezar o Pia Nosso
é, pois, comprometer-se para que haja pão a cada dia em cada mesa. Há pessoas
que pensam rezar, só porque pronunciam fórmulas, cumprem rituais. Mas, se tudo
isto não tiver engajamento de vida, será mera alienação.
Na oração do Pai Nosso (Lc 11,1-13),
Jesus corrige a ideia que se fazia de Deus e aperfeiçoa a maneira de se
relacionar com ele. O Deus de Jesus é Pai, e com ele todos devem sentir-se
livres, à vontade. Tal conceito revolucionou a imagem divina da época, pois
jamais um rabino ousaria colocar Deus tão próximo das pessoas. Certamente Jesus
poderia ter apresentado Deus também como mãe, se isto não fosse tão chocante
para a cultura da época. Contudo, as características deste Deus são tanto
maternais quanto respeitosas. Jesus, sábio mestre, não costuma impor
ensinamentos teóricos. Ele, antes, dá o exemplo. E, ao perceber a maravilha que
é a atitude daquele homem rezando, um discípulo sente a vontade de fazer o
mesmo. Pede a Jesus que o ensine. E quando o mestre resume sua doutrina, em
forma de prece, condensa o conteúdo de sua mensagem. Era assim que os rabinos
faziam: ensinavam uma fórmula aos discípulos, contendo o núcleo principal de
sua doutrina, uma espécie de cartilha rezada.
Nesta apresentação de Lucas, o Pai
Nosso contém cinco pedidos, enquanto que a fórmula que nós rezamos, de Mateus,
traz sete. A primeira invocação pede que o nome de Deus Seja santificado. O
nome evoca a pessoa do próprio Deus, que não pode ser profanado com mentiras e
injustiças. O nome de Deus é sempre um nome libertador é Javé o Antigo
Testamento, é Pai no Novo Testamento. A vinda do Reino significa a inauguração
de uma nova maneira de viver com que as pessoas se relacionam bem entre si e
com Deus. O pão nosso cotidiano se apresenta como o pedido central,
significando que, no pão, está o primeiro sinal do reino de Deus. Pão é a
necessidade básica maior da vida humana. O pedido do pão lembra a marcha no
deserto, após a libertação d Egito, quando o povo tinha, para cada dia, o maná
como alimento. O perdão dos pecadores e dívidas também era um costume do Antigo
Testamento, quando, na busca da sociedade ideal, igualitária a cada cinquenta
anos todas as dívidas deviam ser perdoadas. “Não nos deixeis cair em tentação”
é o pedido para se permanecer fiel e firme até o fim nesse projeto. É um grande
desafio rezar o Pai Nosso. A carga transformadora de vida que ele contém é
altamente explosiva e capaz de destruir velhos modelos para criar pessoas
novas, estruturas diferentes.
Neste domingo dia do
Senhor peçamos que o Pai nos ajude a redescobrir a oração do Pai Nosso como
escola de oração cristã. Que a comunidade eclesial ajude a fazer da oração de
Jesus a nossa oração assim como nos ajude a entrarmos na sua experiência de
amor incondicional ao Pai e aos irmãos.
Pe. Raimundo
Neto
Pároco de
São Vicente de Paulo
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