No ano santo extraordinário o Papa Francisco traça com a mensagem Comunicação e misericórdia: um encontro fecundo uma rota imprescindível para o mundo da comunicação. O sistema dos mass media está chamado a não excluir ninguém, a não guetizar, mas antes a sintonizar-se com os canais justos para acolher e alargar os horizontes, para construir pontes e não para erguer muros como defesa de outras pessoas consideradas um problema e não um recurso. «Muitos profissionais, formadores de opinião, meios de comunicação e centros de poder estão localizados [...] em áreas urbanas isoladas, sem ter contacto direto com os seus problemas. […] Esta falta de contacto físico e de encontro […] ajuda a cauterizar a consciência e a ignorar parte da realidade» lê-se na Laudato si'.
Os frequentadores da mídia estão convidados a usar palavras e ações que ajudem a evitar o círculo vicioso da condenação e da vingança, a quebrar as correntes que aprisionam indivíduos e nações. Com efeito, a palavra do cristão, tem como objetivo a comunhão e o cancelamento do tom perentório da «excomunhão», convidando a pôr-se à escuta do grito de ajuda que se eleva da humanidade. A este propósito o Papa admoesta-nos: «ouvir nunca é fácil. Por vezes é mais cómodo fingir-se surdos». Com a eficácia das imagens, o Pontífice convida-nos a deter o processo de aviltamento das palavras, o nominalismo típico da nossa cultura, porque as pessoas estão cansadas de palavras que não se encarnam nesta história maravilhosa e atormentada.
Comprometamo-nos a restituir à palavra – sobretudo à da pregação – a sua força expressiva, o fogo que a torna viva e dá calor e sabor humano ao anúncio do Evangelho. Talvez precisemos de descobrir de novo uma comunicação que estimule a criatividade, favoreça a compreensão e enriqueça a convivência entre pessoas e culturas diversas, convictos de que não é a tecnologia que determina a autenticidade das mensagens, mas o coração do homem.
Portanto, o compromisso de todos deveria ser orientado para escolher com esmero palavras e gestos a fim de superar as divergências, medicar as feridas e restabelecer relações no sinal do perdão, tornando-nos embaixadores de concórdia. Tecer a trama de uma «diplomacia da misericórdia» significa, para o Papa, nunca considerar nada perdido na relação, não permanecer prisioneiros nas cavidades obscuras de antigas hostilidades. Equivale, ao contrário, a empreender o caminho da misericórdia, reconhecer as próprias responsabilidades, pedir perdão e mostrar compaixão também em relação a quem nos fez mal.
Uma comunicação que continua a discriminar entre «vencedores» e «vencidos» debilita a dignidade das pessoas e contribui para criar vagas de marginalização, sobre as quais se erige o orgulho soberbo do triunfo. Ao contrário, que haja transparência do desejo e da vontade de mitigar os tormentos da vida, uma comunicação capaz de oferecer calor a quantos conheceram só o gelo do juízo ou da rejeição. «A linguagem áspera e bélica da divisão não fica bem nos lábios do Pastor, não tem direito de cidadania no seu coração e, mesmo que pareça por um momento garantir uma hegemonia, unicamente o fascínio duradouro da bondade e do amor permanece deveras convincente» disse Francisco encontrando a 23 de setembro passado os bispos norte-americanos.
Portanto, se a comunicação tem uma relevância «política», ela não pode ser subtraída ao papel de tecedora de comunhão e construtora de cidadania. Nesta perspetiva, o reconhecimento da rede como lugar de «comunicação plenamente humana» por parte do Pontífice, abre-nos o caminho rumo à «proximidade», também digital. Estamos convidados a descobrir modalidades ainda inexploradas para nos aproximarmos das pessoas, inclinar-nos sobre os seus sofrimentos. Com palavras de Francisco «num mundo dividido, fragmentado, polarizado, comunicar com misericórdia significa contribuir para uma proximidade boa, livre e solidária entre os filhos de Deus e irmãos em humanidade», frequentadores cada vez mais assíduos dos portais, que nos pedem uma presença alimentada por um suplemento de alma e coração.
Fonte L’Osservatore Romano
Dario Eduardo Viganò
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