João 2,1-11
SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C
Celebramos o domingo das Bodas de
Caná. Terminando o ciclo do Natal, iniciamos o tempo comum, que se estenderá
até quarta feira de cinzas. Serão oito domingos em que a Palavra de Deus nos
convida a entrar no mistério da vida pública de Jesus. Hoje, o evangelho (João
2,1-12) nos apresenta Jesus participando de uma festa de casamento e aí
manifestando seu primeiro sinal, transformando água em vinho. A mãe de Jesus,
Maria, nos convida a fazer tudo o que ele disser.
A página evangélica que a Igreja
nos faz ler neste domingo – o 2º Domingo do Tempo Comum – é riquíssima em
ensinamentos. E todos a conhecemos, na narração viva e concisa de João. Uma
festa de casamento. Em Caná da Galiléia. Talvez de algum parente da virgem
Maria. Por isso, ela estava lá. E estava também Jesus. E, com ele, os
apóstolos. A certa altura da festa, acabou-se o vinho. Um grande vexame para o
noivo! Maria, que estava mais próxima do pessoal de serviço, disse-o a Jesus: “Eles
já não têm vinho”. Uma informação que era, ao mesmo tempo, uma súplica. E que
nos faz adivinhar o profundo relacionamento da Mãe com o Filho, alimentado no
longo convívio de Nazaré. A reposta de Jesus não nos deve chocar: “Que temos
com isso, mulher? minha hora ainda não chegou”. Jesus usou uma expressão
idiomática que significa apenas que o problema não devia ser resolvido por
eles. E chamou-a “mulher”, não no sentido de uma expressão de frieza, mas para
indicar sua grandeza de “nova Eva”, a mãe universal, que vinha amparar os
filhos que a primeira Eva desamparou. A mesma expressão vai aparecer ao pé da
cruz quando ela é entregue como mãe a João: Mulher, eis teu filho (Jo -19,26),
A palavra hora a que Jesus se refere e que aparece, muitas vezes, nos seus
lábios, é a hora da sua glorificação pela morte – ressurreição. Fazer milagre e
tornar público seu poder divino seria apressar essa hora, desencadeando todo o
processo da Paixão.
No evangelho apresentado
percebemos que Jesus é aquele que inaugura a Nova Aliança, aquele que traz o
vinho novo, de ótima qualidade, em abundância. O vinho, por sua vez, é símbolo
muito forte do amor. O vinho que Jesus dá é de ótima qualidade, fazendo
esquecer o antigo. A abundância do vinho (mais de 600 litros) era sinal da chegada
do Messias, que vai trazer o amor definitivo. Chegou, portanto, a hora de
Jesus, que se consumará na cruz, ao mostrar seu amor sem limites.
Jesus mostra à sua mãe que a
antiga aliança não tem mais razão de ser. Ele é o verdadeiro esposo da
humanidade, pois traz a vida em plenitude, simbolizada pela abundância do
vinho; ele inaugura o novo modo de as pessoas se relacionarem com Deus: não
mais na base de troca de favores ou ritos de purificação, mas na base de amor
pleno e verdadeiro. O episódio de Caná marca o início dos sinais de Jesus, que
têm como finalidade levar a nova humanidade à maturidade da fé e à posse da
vida. A mensagem que tiramos deste evangelho cristã, entregando-se total e
definitivamente ao esposo da humanidade, participa da Nova Criação, o mundo
novo. Vivemos tempos de plenitude, tempos de vinho novo e de ótima qualidade.
Os que caminham com Jesus na construção do reino de Deus são pessoas novas.
Pe. Raimundo
Neto
Pároco de
São Vicente
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