terça-feira, 22 de setembro de 2015

DINÂMICAS DE UMA CONVERSÃO


Para o Papa Francisco a festa de são Mateus tem um significado muito particular porque está ligado à história da sua vocação. Precisamente naquele dia, quando ainda não tinha completado dezessete anos – foi o próprio Bergoglio quem o contou no início do seu episcopado – repentinamente sentiu que a sua vida só teria sentido se fizesse uma escolha radical. A qual amadureceu com o tempo mas que imediatamente relacionou com a chamada do publicano: Jesus olhou para ele com misericórdia e escolheu-o. Miserando atque eligendoteria resumido de maneira eficaz muitos séculos mais tarde um monge medieval ao comentar o episódio evangélico.
Dessas palavras tão expressivas recordou-se o jovem de outrora quando foi nomeado bispo, e por sua vez escolheu-as como lema episcopal. E hoje de novo voltou a falar da vocação do publicano Mateus, celebrando a missa em Holguín numa manhã de muito calor e sol: «Celebramos a história de uma vocação» disse o Pontífice falando de um encontro que marca a vida, de um «jogo de olhares» – como aquele imaginado por Caravaggio – capaz de transformar a história. De facto, é esta «a nossa história pessoal; como muitos outros, cada um de nós pode dizer: também eu sou um pecador sobre o qual Jesus pousou o olhar».
Mas não é suficiente, continuou o Papa Francisco: ao amor seguiu-se a missão. Portanto, eis perfeitamente explicado o lema – «missionário de misericórdia» – desta sua visita a Cuba. Para o apóstolo Mateus, «e para quantos sentiram o olhar de Jesus, os seus concidadãos não são aqueles dos quais “se vive”, se usa e se abusa. O olhar de Jesus gera uma atividade missionária, de serviço, de dom de si. O seu amor cura as nossas miopias e estimula-nos a olhar mais além, a não permanecer nas aparências nem no politicamente correto» explicou o Pontífice às dezenas de milhares de cubanos que o ouviam.
Hoje em Cuba é esta a tarefa que a Igreja desempenha com esforço e sacrifício – continuou Bergoglio – «para anunciar a todos, até nos lugares mais isolados, a palavra e a presença de Cristo». Através, por exemplo, das chamadas «casas de missão» que, numa situação na qual escasseiam lugares de culto e sacerdotes, «permitem que tantas pessoas possam ter um espaço de oração, de escuta da Palavra, de catequese e vida comunitária»; verdadeiros «sinais da presença de Deus nos nossos bairros», que ajudam a viver o Evangelho e a sua misericórdia, aberta a quantos se sentem excluídos.
Com a palavra evangélica e com a própria experiência pessoal o Papa quis dar um forte encorajamento para os católicos cubanos. Exatamente como fez nos encontros em Havana com as religiosas, os religiosos e os estudantes, quando entregou os discursos preparados e preferiu improvisar duas longas respostas aos «profetas» que tinha acabado de ouvir: o «cardeal Jaime», arcebispo da capital, e uma jovem freira. Mas também num longo encontro particular com o episcopado de Cuba no santuário mariano nacional da Virgem do Cobre, da qual se celebra o centenário da proclamação como padroeira da Nação. Encontro selado por uma oração silenciosa diante da veneradíssima imagem.
Fonte:  L’Osservatore Romano
g.m.v.

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