Numa conversa tida com o Papa quando começou a reflectir sobre os conteúdos da nova encíclica, disse-me que estava a analisar sobretudo a questão do poder, e que por isso estava a reler Romano Guardini. O texto da encíclica confirma até que ponto ele foi em frente nesta linha de análise. Por conseguinte, penso que o terceiro capítulo, pouco mencionado nos comentários à encíclica, deveria ser considerado melhor.
Para debater acerca dos sintomas não conseguimos compreender o que o Papa indica realmente, quando quer ir ao cerne da questão. Ele mesmo nos dá explicitamente uma chave de leitura ao afirmar: «Para nada serviria descrever os sintomas, se não reconhecêssemos a raiz humana da crise ecológica. Há um modo desordenado de conceber a vida e a acção do ser humano, que contradiz a realidade até ao ponto de a arruinar» (101). Precisamente depois destas palavras ele começa a desenvolver a sua crítica ao poder, afirmando que os progressos tecnológicos «dão, àqueles que detêm o conhecimento e sobretudo o poder económico para o desfrutar, um domínio impressionante sobre o conjunto do género humano e do mundo inteiro» (104). Por isso formulou uma pergunta que ainda não tem resposta: «Nas mãos de quem está e pode chegar a estar tanto poder? É tremendamente arriscado que resida numa pequena parte da humanidade» (104).
Fonte: L’Osservatore Romano
Víctor Manuel Fernández
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