“Com
a Igreja nas Filipinas que olha para o quinto centenário da sua
evangelização, sentimos gratidão pela herança deixada por tantos bispos,
vossa comemoração da evangelização das Filipinas”, disse o papa
Francisco em missa celebrada na Catedral de Manila, dedicada a Nossa
Senhora da Imaculada Conceição, hoje, 16.
A
atual construção da Catedral das Filipinas possui mais de 50 anos, sendo
a oitava versão da igreja construída em 1581, com bambu e folhas de
palma. Ao longo dos anos, o tempo sofreu diversas atentados como
incêndios, terremotos e bombardeios durante a 2ª Guerra Mundial. Em
1981, foi elevada à Basílica Menor por João Paulo II.
Encontro fraterno
A celebração na Catedral foi realizada
após encontro do papa com as autoridades no Palácio Presidencial em
Manila, em cerimônia de boas-vindas. A missa reuniu mais dois mil
bispos, religiosos, religiosas e seminaristas.
Em sua homilia, o papa disse que o papel
dos pastores está radicado no seguimento de Cristo e que a vida
consagrada é um sinal do amor de Cristo que leva à reconciliação.
“Nós bispos, sacerdotes e religiosos,
devemos ser os primeiros a receber a sua graça reconciliadora nos nossos
corações. São Paulo deixa claro o que isto significa; significa
rejeitar perspectivas mundanas, olhando tudo de novo à luz de Cristo.
Confira a homilia na íntegra.
“«Tu amas-Me? (…) Apascenta os meus
cordeiros» (Jo 21, 15.16). As palavras de Jesus a Pedro, no Evangelho de
hoje, são as primeiras palavras que vos dirijo, amados irmãos bispos e
sacerdotes, religiosos e religiosas, e jovens seminaristas. Estas
palavras recordam-nos algo de essencial. Todo o ministério pastoral
nasce do amor. Toda a vida consagrada é um sinal do amor reconciliador
de Cristo. Na variedade das nossas vocações, cada um de nós é chamado de
alguma forma, como Santa Teresa do Menino Jesus, a ser o amor no
coração da Igreja.
Com grande afeto vos saúdo e peço para
levardes o meu afeto a todos os vossos irmãos e irmãs idosos e doentes e
a todos aqueles que hoje não puderam juntar-se a nós. Com a Igreja nas
Filipinas que olha para o quinto centenário da sua evangelização,
sentimos gratidão pela herança deixada por tantos bispos, vossa
comemoração da evangelização das Filipinas. Mas o Evangelho é também uma
exortação à conversão, a um exame da nossa consciência, como indivíduos
e como povo. Como justamente ensinaram os vossos bispos, a Igreja nas
Filipinas é chamada a individuar e combater as causas da desigualdade e
injustiça profundamente enraizadas, que desfeiam o rosto da sociedade
filipina, contradizendo claramente o ensinamento de Cristo. O Evangelho
chama os indivíduos cristãos a conduzirem vidas honestas, íntegras e
solícitas pelo bem comum. Mas chama também as comunidades cristãs a
criarem «círculos de integridade», redes de solidariedade que possam
impelir a abraçar e transformar a sociedade com o seu testemunho
profético.
Como
embaixadores de Cristo, nós, bispos, sacerdotes e religiosos, devemos
ser os primeiros a receber a sua graça reconciliadora nos nossos
corações. São Paulo deixa claro o que isto significa; significa rejeitar
perspectivas mundanas, olhando tudo de novo à luz de Cristo. Isto
comporta que sejamos os primeiros a examinar a nossa consciência,
reconhecer os nossos falimentos e quedas e embocar o caminho duma
contínua conversão. Como poderemos proclamar aos outros a novidade e o
poder libertador da Cruz, se nós mesmos não permitirmos que a Palavra de
Deus abale o comprazimento em nós próprios, o nosso medo de mudar, os
nossos comprometimentos mesquinhos com as modalidades deste mundo, o
nosso «mundanismo espiritual» (cf. Evangelii gaudium, 93)?
Para nós, sacerdotes e pessoas
consagradas, a conversão à novidade do Evangelho implica um encontro
diário com o Senhor na oração. Os Santos ensinam-nos que isto é a fonte
de todo o zelo apostólico. Para os religiosos, viver a novidade do
Evangelho significa encontrar incessantemente na vida da comunidade e
nos apostolados da comunidade o incentivo para uma união cada vez mais
estreita com o Senhor na caridade perfeita. Para todos nós, isto
significa viver de tal forma que espelhemos a pobreza de Cristo, cuja
vida estava inteiramente focalizada em fazer a vontade do Pai e servir
os outros. Naturalmente, a grande ameaça a isto mesmo é cair num certo
materialismo que pode insinuar-se dentro das nossas vidas e comprometer o
testemunho que prestamos. Somente o tornar-nos pobres, expulsando o
nosso autocomprazimento, permitirá identificar-nos com os últimos dos
nossos irmãos e irmãs. Veremos as coisas sob uma nova luz e, deste modo,
poderemos responder, com honestidade e integridade, ao desafio de
anunciar a radicalidade do Evangelho numa sociedade acostumada à
exclusão, à polarização e a uma desigualdade escandalosa.
Aqui desejo dirigir uma palavra especial
aos jovens sacerdotes, religiosos, e seminaristas presentes. Peço-vos
que partilheis a alegria e o entusiasmo do vosso amor por Cristo e pela
Igreja com todos, mas sobretudo com os da vossa idade. Mantende-vos
presentes no meio dos jovens que possam sentir-se confusos e
desanimados, e todavia continuam a ver a Igreja como sua amiga no
caminho e uma fonte de esperança.
Sede solidários com aqueles que, vivendo
no meio duma sociedade molesta pela pobreza e a corrupção, sentem-se
com o espírito abatido, tentados a largar tudo, deixar a escola e viver
pela estrada. Proclamai a beleza e a verdade do matrimónio cristão a uma
sociedade que é tentada por apresentações confusas da sexualidade, do
matrimónio e da família. Como sabeis, estas realidades estão cada vez
mais sob ataque de forças poderosas que ameaçam desfigurar o plano
criador de Deus e trair os verdadeiros valores que inspiraram e moldaram
quanto de belo existe na vossa cultura.
Na realidade, a cultura filipina foi
plasmada pela criatividade da fé. Por todo o lado, os filipinos são
conhecidos pelo seu amor a Deus, pela sua piedade fervorosa e a sua
ardente e cordial devoção a Nossa Senhora e ao seu terço. Este grande
legado contém um forte potencial missionário. É o modo como o vosso povo
inculturou o Evangelho e continua a acolher a sua mensagem (cf.
Evangelii gaudium, 122). No vosso esforço de preparação para o quinto
centenário, construí sobre estas bases sólidas.
Cristo morreu por todos a fim de que,
mortos n’Ele, não vivamos mais para nós mesmos, mas para Ele (cf. 2 Cor
5, 15). Amados irmãos bispos, sacerdotes e religiosos, rogo a Maria, Mãe
da Igreja, que faça jorrar de todos vós uma tal abundância de zelo, que
possais gastar-vos abnegadamente ao serviço dos nossos irmãos e irmãs.
Possa, assim, o amor reconciliador de Cristo penetrar ainda mais
profundamente no tecido da sociedade filipina e, por vosso intermédio,
nos ângulos mais distantes do mundo”.
CNBB com informações News.va e fotos Rádio Vaticano.
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