A reflexão do Pontífice começou com a imagem de Jesus em
lágrimas às portas de Jerusalém. Ele «chorou diante da cidade, perante o seu
fechamento». Assim como – frisou Francisco – é o fechamento do livro «selado
com sete sigilos» que leva o apóstolo João a chorar, no trecho do Apocalipse
(5, 1-10) proposto pela primeira leitura.
«O que leva Jesus a chorar é o fechamento do coração da
cidade, do povo eleito», que «não tinha tempo para lhe abrir a porta» porque
«vivia muito ocupada, satisfeita consigo mesma». E ainda hoje «Jesus continua a
bater à porta, como bateu à porta do coração de Jerusalém: à porta dos seus
irmãos e irmãs, do nosso coração, da sua Igreja». Na realidade, «Jerusalém
sentia-se feliz com a sua vida e não precisava do Senhor», da sua salvação. Por
isso, «fechou o seu coração ao Senhor. E o Senhor chora diante de Jerusalém,
como fez perante o sepulcro fechado do seu amigo Lázaro. Jerusalém estava
morta».
O pranto de Jesus «sobre a cidade eleita» é o seu choro
«sobre a Igreja», «sobre nós». Mas por que motivo «Jerusalém não recebeu o
Senhor? Porque se sentia tranquila com o que possuía, não queria problemas».
Assim, diante das suas portas Jesus exclama: «Se também tu, pelo menos neste
dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz! Mas isto está oculto
aos teus olhos». A cidade «tinha medo de ser visitada pelo Senhor, temia a
gratuitidade da visita do Senhor. Sentia-se segura daquilo que ela mesma podia
gerir».
Trata-se de uma atitude que também hoje existe entre os
cristãos. «Sentimo-nos seguros daquilo que podemos gerir. Mas a visita do
Senhor, as suas surpresas, não as podemos gerir. Era isto que Jerusalém temia:
ser salva através das surpresas do Senhor. Temia o Senhor, o seu esposo, o seu
amado», pois «quando Ele visita o seu povo traz alegria e conversão. E todos
nós temos medo»: não da «alegria», mas «da alegria do Senhor, pois não a
podemos controlar».
A este propósito, o Papa recordou «as lamentações» que o coro
entoa na Sexta-Feira Santa, na liturgia da adoração da Cruz: «Como está sozinha
a cidade, outrora rica de povos. Ficou só como uma viúva, submetida a trabalhos
forçados». Depois, evocou o diálogo do Senhor com a cidade para salientar que
«o preço daquela rejeição» é a Cruz: o «preço para nos mostrar o amor de Jesus,
que o levou a chorar e que ainda hoje o faz chorar muitas vezes pela sua
Igreja».
Naquela época Jerusalém «vivia tranquila e feliz; o templo
funcionava, os sacerdotes ofereciam os sacrifícios, os fiéis faziam
peregrinações, os doutores da lei organizavam tudo»: «todos os mandamentos eram
claros». No entanto, «mantinha a porta fechada». Francisco exortou a um exame
de consciência, a partir desta pergunta: «Hoje nós cristãos, que conhecemos a
fé, o catecismo, vamos à missa todos os domingos, nós cristãos, pastores,
estamos felizes connosco?».
Corremos o risco de nos sentirmos satisfeitos, pois «temos
tudo organizado, não precisamos de novas visitas do Senhor». Mas Jesus
«continua a bater à porta de cada um de nós, da sua Igreja, dos pastores da
Igreja». E se «a porta do nosso coração, da Igreja, dos pastores, não se abre,
o Senhor chora até hoje», como fez diante de Jerusalém. Jesus contempla a
cidade e «chora porque ela não abre a porta, porque tem medo das suas
surpresas». E concluiu com um convite: «Pensemos em nós: como vivemos este
momento diante de Deus?».
Fonte: L'Osservatore Romano
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