Cidade do Vaticano (RV)
– O Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso divulgou uma
mensagem nesta terça-feira, 12, sobre as violências perpetradas contra
as minorias no Iraque e a restauração do autodenominado 'califado'. Eis a
íntegra da mensagem:
“O mundo inteiro testemunhou incrédulo ao que
agora é chamado de “Restauração do Califado”, este que foi abolido em 29
de outubro de 1923 por Kamal Araturk, fundador da Turquia moderna. A
oposição a esta “restauração” pela maioria dos institutos religiosos e
políticos muçulmanos não impediu que os jihadistas do “Estado Islâmico”
cometessem e continuem a cometer indizíveis atos criminais.
Este
Conselho Pontíficio, junto a todos aqueles engajados no diálogo
inter-religioso, seguidores de todas as religiões e todos os homens e
mulheres de boa vontade, pode somente denunciar e condenar, de forma
inequívoca, esses atos que trazem tanta vergonha à humanidade:
- o massacre de pessoas somente pela sua fé e condição religiosa;
- a desprezível prática da decapitação, crucificação e exposição de corpos em lugares públicos; -
a escolha forçada imposta aos Cristãos e Yezidis entre a conversão ao
Islã, o pagamento de um tributo (jizya) ou o exílio forçado;
- a expulsão forçada de milhares de pessoas, incluindo crianças, idosos, mulheres grávidas e doentes; - o rapto de meninas e mulheres pertencentes às comunidades Yezidi e Cristã como despojos de guerra (sabaya);
- a imposição da prática bárbara da infibulação; - a destruição dos lugares de fé e túmulos cristãos e muçulmanos;
- a ocupação forçada ou dessacralização de igrejas e monastérios; - a remoção de crucifixos e outros símbolos cristãos assim como aqueles de outras comunidades religiosas;
- a destruição de uma inestimável herança cultural e religiosa cristã; - violência indiscriminada com o objetivo de aterrorizar as pessoas para que estas entreguem-se ou fujam;
Nenhuma
causa e, certamente, nenhuma religião, pode justificar tamanha
barbárie. Isso constitui uma ofensa extremamente séria à humanidade e a
Deus, como recorda frequentemente o Papa Francisco. Não podemos
esquecer, todavia, que cristãos e muçulmanos conviveram em harmonia – é
verdade que com altos e baixos – durante séculos, construindo a cultura
pacífica da coexistência e civilização das quais têm muito orgulho. Por
outro lado, é com base nisto que, em anos recentes, o diálogo entre
cristãos e muçulmanos teve continuidade e intensificou-se.
A
situação dramática de cristãos, yezidis e outras comunidades religiosas e
minorias étnicas no Iraque requer uma posição clara e corajosa dos
líderes religiosos, especialmente muçulmanos, assim como daqueles
engajados no diálogo inter-religioso e todas as pessoas de boa vontade.
Todos devem ser unânimes em condenar inequivocamente estes crimes e em
denunciar o uso da religião para justificá-los. Caso contrário, qual
credibilidade terão as religiões, seus seguidores e seus líderes? Qual
credibilidade tem o diálogo inter-religioso que, pacientemente, buscamos
continuar ao longo destes anos?
Líderes religiosos também são
exortados a usar sua influência junto às autoridades para colocar fim a
estes crimes, para punir os responsáveis e para reestabelecer as regras
da lei em todo o país, assegurando o retorno à casa daqueles que foram
deslocados. Enquanto recordam a necessidade de uma direção ética das
sociedades humanas, estes mesmos líderes religiosos não devem falhar ao
demonstrar que o apoio, o financiamento e o armamento do terrorismo é
moralmente repreensível.
Dito isto, o Conselho Pontifício para o
Diálogo Inter-religioso agradece todos que já levantaram suas vozes para
denunciar o terrorismo, especialmente contra aqueles que usam a
religião para justificá-lo.
Queremos, assim, unir nossa voz àquela
do Papa Francisco: “Possa o Deus da paz despertar em cada um de nós o
genuíno desejo para o diálogo e a reconciliação. Violência não se vence
com violência. Violência se vence com a paz”.
Fonte: Rádio Vaticano
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