domingo, 25 de maio de 2014

MISSA NA PRAÇA DA MANJEDOURA APELO EM DEFESA DAS CRIANÇAS


Belém (RV) – Segundo dia da Viagem Apostólica do Papa Francisco à Terra Santa. Na manhã deste domingo, às 7.30 locais, o Santo Padre deixou a Nunciatura de Amã e se dirigiu ao aeroporto internacional da cidade, onde se despediu das autoridades civis e religiosas da Jordânia, entre os quais o Rei Abdallah II Bin Al Hussein, da dinastia Hashemita.
Após a breve cerimônia de despedida, às 8.30, o Bispo de Roma se transferiu, em helicóptero, à cidade de Belém, que dista 75 km. da capital jordaniana, Amã. Na cidade natal de Jesus, o Papa Francisco foi recebido, entre outros, por Dom Giuseppe Lazzarotto, Núncio em Israel e Delegado Apostólico em Jerusalém; o Patriarca de Jerusalém dos Latinos e Presidente da Assembléia dos Ordinários Católicos na Terra Santa, Sua Beatitude Fouad Twal; e o Custódio da Terra Santa, Padre Pierbattista Pizzaballa.
Depois de quase uma hora de viagem em helicóptero, o Santo Padre se transferiu, de carro, ao Palácio Presidencial de Belém, para a cerimônia de boas vindas. Estavam presentes representantes das comunidades palestinas, provenientes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, que entregaram ao Papa algumas mensagens. Após a visita de cortesia ao Presidente do Estado da Palestina, Mahmoud Abbas Abbas, o Papa manteve um encontro com as Autoridades Palestinas e o Corpo Diplomático.
No discurso que pronunciou aos presentes, o Pontífice dirigiu suas saudações cordiais aos representantes do Governo e a todo o povo palestino, expressando a sua gratidão a Deus por estar, hoje, naquele lugar sagrado, onde nasceu Jesus, o Príncipe da Paz.
A seguir, o Papa recordou que, há decênios, o Oriente Médio vive as consequências dramáticas de um conflito que causou tantas feridas, difíceis de se cicatrizar; ressaltou o clima de violência e de incerteza da situação, e a falta de entendimento entre as partes, que produzem insegurança, negação de direitos, isolamento e fuga de inteiras comunidades, divisões, carências e sofrimentos de todo o tipo. E o Papa fez seu apelo:
Ao manifestar a minha solidariedade aos sofrem, sobretudo por causa deste conflito, queria, do fundo do meu coração, dizer que chegou a hora de pôr um ponto final a esta situação, que se torna cada vez mais inaceitável, para o bem de todos. Reforcem os esforços e as iniciativas para criar as devidas condições de uma paz estável, com base na justiça, no reconhecimento dos direitos de cada um e na segurança mútua. Chegou a hora de se demonstrar a coragem, a generosidade e a criatividade para o bem comum; a coragem de se construir a paz, alicerçada no reconhecimento, por parte de todos, do direito da coexistência de dois Estados, que gozam da paz e da segurança, entre os confins internacionalmente reconhecidos”.
Para que isto seja possível, espero vivamente, continuou o Bispo de Roma, que sejam evitadas, por parte de todos, iniciativas e ações que contradizem a clara vontade de se chegar a um verdadeiro acordo; jamais se cansem de buscar a paz, com determinação e coerência. A paz produzirá inúmeros benefícios aos povos desta região e ao mundo inteiro. Mas, é preciso caminhar, com decisão, rumo a esta paz, custe o que custar. E o Papa exortou:
“Faço votos de que os povos, palestino e israelense, e as respectivas Autoridades emboquem esta estrada feliz rumo à paz, com aquela coragem e determinação necessárias. A paz na segurança e a confiança mútua se tornarão o ponto de referência estável para encarar e resolver outros problemas e, assim, oferecer uma oportunidade de desenvolvimento equilibrado, que se torne modelo para outras áreas de crise”.
Neste sentido, o Santo Padre referiu-se, aqui, de modo particular, à comunidade cristã, que diligentemente presta uma significativa contribuição para o bem comum da sociedade, participando das alegrias e dos sofrimentos do povo. Os cristãos querem continuar a desempenhar seu papel, como cidadãos de pleno direito, junto com os demais cidadãos, considerados irmãos.
Enfim, dirigindo-se ao Presidente do Estado da Palestina, Mahmoud Abbas, o Papa Francisco afirmou que “ele é conhecido como homem de paz e artífice de paz. O recente encontro no Vaticano e a sua presença, hoje, em terras palestinas, atestam as boas relações existentes entre a Santa Sé e o Estado da Palestina. Por isso, o Santo Padre espera que tais relações bilaterais possam se incrementar ainda mais, para o bem de todos.
A este respeito, o Bispo de Roma expressou seu apreço pelos esforços feitos para a elaboração de um Acordo entre as Partes, concernente aos diversos aspectos da vida da comunidade católica do país, com especial atenção à liberdade religiosa. O respeito deste direito humano fundamental, frisou o Pontífice, é uma das condições indispensáveis da paz, da fraternidade e da harmonia, e demonstra ao mundo que é possível chegar a um acordo entre as culturas e as religiões diferentes.
O Papa Francisco concluiu seu encontro com as Autoridades Palestinas pedindo a intercessão divina para abençoar, proteger e conceder a sabedoria e a força necessárias para dar continuação ao corajoso caminho rumo à paz, de modo que as armas se transformem em arados e esta Terra Santa possa voltar à prosperidade e à concórdia. Salam!”.
Depois do encontro com as Autoridades Palestinas, o Papa deixou o Palácio Presidencial de Belém e se deslocou, em papa-móvel, à Praça da Manjedoura, também conhecida como “Praça do Berço”, onde era aguardado por uma grande multidão alegre e festiva de fiéis e pela Primeira Dama católica da cidade, Vera Baboun.
Ao chegar à Praça da Manjedoura, entre aplausos e gritos de “viva o Papa”, o Pontífice presidiu à celebração Eucarística, da qual participou, entre as muitas autoridades civis e religiosas, o Presidente palestino, Mahmoud Abbas.
Em sua homilia, o Santo Padre partiu da citação evangélica: “Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”. Comentando este versículo de Lucas (2,12), o Papa Francisco exclamou:
Que grande graça celebrar a Eucaristia neste lugar, onde Jesus nasceu! Agradeço a Deus e a vocês, que me acolhem nesta minha peregrinação; agradeço ao Presidente Mahmoud Abbas e demais autoridades, ao Patriarca Fouad Twal, os outros Bispos e Ordinários da Terra Santa, os sacerdotes, as pessoas consagradas e quantos trabalham por manter viva a fé, a esperança e a caridade nestes territórios; agradeço ainda as delegações de fiéis, vindas de Gaza e da Galileia, e os imigrantes da Ásia e da África. Obrigado a todos pela presença!
Após a sua saudação, o Bispo de Roma fez uma reflexão sobre o Menino Jesus, nascido em Belém, sinal enviado por Deus a quem esperava a salvação; ele permanece para sempre como sinal da ternura de Deus e da sua presença no mundo. E o Papa continuou:
Também hoje as crianças são um sinal: sinal de esperança, sinal de vida, mas, sobretudo, sinal de ‘diagnóstico’ para se compreender o estado de saúde de uma família, de uma sociedade, do mundo inteiro. Quando as crianças são acolhidas, amadas, protegidas, tuteladas, a família é sadia, a sociedade melhora, o mundo é mais humano”.
Também para nós, homens e mulheres do século XXI, explicou o Pontífice, isto representa um sinal para procurar o Menino. O Menino de Belém é frágil, como todos os recém-nascidos. Não sabe falar! No entanto, ele é a Palavra que se fez carne e veio mudar o coração e a vida dos homens. Aquele Menino, como qualquer criança, é frágil e, como tal, precisa ser ajudado e protegido. Sobretudo, hoje, as crianças devem ser acolhidas e defendidas, desde o ventre materno.
Infelizmente, neste nosso mundo, que desenvolveu tecnologias tão sofisticadas, recordou o Papa, há tantas crianças que vivem em condições desumanas, à margem da sociedade, nas periferias das grandes cidades ou nas zonas rurais. Ainda hoje há tantas crianças exploradas, maltratadas, escravizadas, vítimas de violência e de tráficos ilícitos; há tantas crianças exiladas, refugiadas, por vezes afundadas anegadas nos mares, sobretudo no Mediterrâneo. Tudo isso deve causar-nos vergonha diante de Deus Menino.
Aqui, o Papa perguntou: “Quem somos nós diante do Menino Jesus? Quem somos nós diante das crianças de hoje? Somos como Maria e José, que acolheram Jesus e cuidaram dele, com amor maternal e paternal? Ou somos como Herodes, que o quis eliminar? Somos como os pastores, que o vieram adorar e trazer seus presentes? Ou ficamos indiferentes e nos limitamos a ser pessoas que exploram as crianças pobres para fins de lucro? Somos capazes de permanecer com elas, ouvi-las, defendê-las e rezar por elas e com elas?
Hoje, continuou o Santo Padre, tantas crianças choram, por fome, por frio, por doença, falta de remédio e de carinho. Neste mundo, onde se proclama a tutela dos menores, as armas acabam nas mãos de crianças-soldado; os menores se tornam trabalhadores e escravos. Quantas Raquéis de hoje choram por seus filhos, e não querem ser consoladas. Este pranto não nos interpela?
O Papa Francisco concluiu sua homilia exortando os fiéis a refletirem sobre esta frase evangélica: “Isto vos servirá de sinal”. Desta profunda reflexão, pode brotar um novo estilo de vida, onde as relações deixam de ser de conflito, opressão ou consumismo, para se tornar relações de fraternidade, de perdão, de reconciliação, de partilha e de amor. (MT). Fonte: Rádio Vaticano

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