Alguns dias atrás
um Relatório do Comitê da ONU sobre Direitos da Criança pediu que a Santa Sé
afastasse de seus cargos todos aqueles que abusaram sexualmente de crianças e
os denuncie à Justiça. O Comité pediu a Santa Sé para “afastar de imediato de
suas funções todos os autores conhecidos e suspeitos de abusos sexuais de
crianças, assim como denunciá-los às autoridades competentes para que os
investiguem e sejam processados”. O porta-voz do Vaticano, o Padre Jesuíta
Frederico Lombardi, rebateu o conteúdo do relatório afirmando que “a Igreja
Católica já afronta os casos de pedofilia com transparência e explicará, nas
próximas semanas, o funcionamento de uma comissão criada para preveni-los,
depois de perguntado sobre o relatório do Comitê da ONU”. A Santa Sé reagiu
denunciando o que considera distorções no documento do Comitê.
No dia 16 de janeiro deste ano
representantes da Santa Sé compareceram perante o referido Comitê da ONU para
esclarecer a posição da Santa Sé perante os abusos sexuais de crianças por religiosos.
Mostraram que no início do pontificado do Papa Bento XVl a Santa Sé estabeleceu
uma série de estritas normas para lutar contra o problema de abusos sexuais por
religiosos, assim como com a política de tolerância zero. Os dois últimos Papas
e os organismos competentes do Vaticano trabalharam e trabalham arduamente para
“o estabelecimento de normas e diretrizes rigorosas e eficazes para curar,
resistir e prevenir os graves fenômenos de abuso sexual contra menores de
idade”. Porém, há uma nítida impressão que o Comitê não levou adequadamente em
consideração essas medidas. Há pessoas que acreditam que o Relatório foi
escrito inclusive antes da reunião do Comitê com a Delegação da Santa Sé que
deu detalhadamente respostas precisas sobre vários pontos e que não foram
relatadas no Relatório do Comitê.
O que o Comitê da ONU me parece não
entende ainda é que não é a Santa Sé que é responsável pelos religiosos que
abusaram sexualmente das crianças, mas os bispos diocesanos e superiores
maiores das Congregações religiosas. A Santa Sé lamenta ver em alguns pontos do
Relatório uma tentativa de interferir nos ensinamentos da Igreja Católica sobre
a dignidade da pessoa humana e na prática de liberdade religiosa, criticando a
atitude da Igreja em relação à homossexualidade, o planejamento familiar e o
aborto. Pe. Lombardi afirmou ainda que o Comitê “parece ter ido além de sua
competência e interferiu nas posições morais e doutrinais da Igreja Católica”.
Segundo o Arcebispo Silvano Tomasi,
Observador Permanente da Santa Sé ante as Nações Unidas em Genebra, “o
documento do Comitê não foi atualizado, ele não tem uma perspectiva correta”.
Os grandes avanços na Igreja Católica concernentes aos abusos sexuais de
menores por membros do clero não foram levados adequadamente em consideração
pelos membros do Comitê segundo o prelado. Hoje a orientação da Santa Sé aos
bispos e superiores religiosos é tolerância zero nesta área. O Papa Francisco
já deu importantes passos neste tema, como a criação de uma comissão para
tratar deste assunto que respalda e promove o trabalho da Igreja em todo mundo
para garantir os direitos e bem-estar das crianças.
Por Pe. Dr. Brendan
Coleman Mc Donald, Redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1
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