Lucas 12, 13-21
REFLETINDO SOBRE O
EVANGELHO
Décimo Oitavo
Domingo
A liturgia deste domingo nos põe em presença de um dos mais velhos
temas do comportamento humano: a cobiça, a ganância, a avareza, que o apóstolo
Paulo considera a raiz de todos os males. Por outro lado, se deduzimos do
Evangelho que a realização do ser humano não está na posse de riquezas e bens
acumulados, por que eles são transitórios, e o ser humano tem um destino, não
significa que devamos nos descuidar dos problemas e soluções do bem-estar
temporal.
O trecho do evangelho de
hoje (Lc. 12, 13-21) só Lucas traz. Aproveitando um fato acontecido num dos
campos da Galiléia, Jesus fala da ganância, raiz de muitos males, e completa o
ensinamento com uma parábola de advertência sobre a precariedade das riquezas.
Não é de estranhar o pedido feito a Jesus. Segundo a lei de Moisés para os
homens do campo, o filho mais velho, além de herdar a casa e o terreno sozinho,
herda ainda dois terços dos bens móveis. É provável que a briga estivesse em
torno do terço sobrante. Nesses casos, recorria-se ao doutor da lei, ou
legisperito, uma mistura de advogado, teólogo e juiz. Vemos, então, que Jesus,
evitando tomar o lugar dos juristas, para que ninguém pudesse acusá-lo de
usurpar poderes, fala da cobiça, da avareza, que, mais tarde, São Paulo chamará
de “raiz de todos os males” (cf. 1 Tm 6,10).
O episódio era muito
propício à lição. Alguém herda todos os bens, menos uma pequena parte, que deve
ser repartida entre todos os irmãos, e nega-se a fazê-lo, por que quer a
herança inteira para si. Uma ganância forte, mas também o próprio amor
fraterno. Fatos semelhantes são encontrados ainda nos dias atuais, visto que a
cobiça e ganância crescem grandemente no coração humano, e quase sempre são
origem das brigas familiares, dos enfrentamentos das classes sociais, da
corrupção nos negócios públicos e privados e a maior desgraça: – a corrida a
postos políticos. Tudo isso se chama ganância e Jesus nos veio dizer que o
sentido da vida humana não consiste na conquista desses bens. Não é fácil
convencer-nos disso. A ganância tem raízes profundas e enganosas. Paulo,
experimentado conhecedor da alma humana, chama a prática da ganância de
idolatria (cf. Cl. 3,5; Ef. 5.5), isto é, de culto ao falso deus. Ela é tão
atraente e sedutora, que leva o ser humano a atrair os contra - valores e
entrar pelo desvio dos bens da terra.
O importante, nesta reflexão, é saber que a palavra de Jesus nos
garante que a vida e a felicidade são dons de Deus ao alcance de todos. E o
caminho para a vida não é a acumulação, sobretudo quando resulta do
empobrecimento e da exploração dos outros. O verdadeiro caminho é a convivência
fraterna e a partilha. Nisto consiste ser rico para Deus.
Que o Senhor, neste domingo,
derrame sobre nós a sua bênção, e que o seu espírito nos torne capazes de
buscar o que vale mais. Que ele tire de nós toda cobiça e nos ensine a ficar do
lado dos que lutam pela justiça e pelo verdadeiro bem comum, como Jesus que,
sendo rico, se fez pobre e veio como servidor da humanidade.
No
contexto do mês de agosto – mês vocacional, celebramos hoje o dia do Padre.
Peçamos a Deus por todos os padres a fim de que eles sejam sempre verdadeiros
pastores do povo e jamais impostores.
Pe. Raimundo
Neto.
Pároco de São
Vicente de Paulo
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