Na manhã deste
sábado, 27 de julho, a Catedral Metropolitana de São Sebastião, no Rio de
Janeiro (RJ) recebeu os bispos brasileiros, presbíteros e diáconos, além de
religiosos e seminaristas, para a missa presidida pelo Papa Francisco. O
pontífice foi acolhido na Catedral pelo arcebispo do Rio, dom Orani João
Tempesta. Também concelebraram o presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno
Assis; o vice-presidente da entidade, dom José Belisário da Silva, e diversos
bispos brasileiros e estrangeiros, que pregaram as catequeses durante a Jornada
Mundial da Juventude.
O Santo Padre presenteou
a Catedral do Rio de Janeiro com um cálice, simbolizando a unidade da igreja em
comunhão. Após a proclamação do evangelho, um trecho da conclusão de São Marcos
que relata o envio dos discípulos de Jesus, Francisco dirigiu a sua homilia.
“Vendo essa Catedral lotada, penso na palavra do salmo da missa do dia de hoje:
‘Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor”, iniciou. “Somos chamados por Deus!
(...) Os religiosos não podem ser desmemoriados. Tem que ter no coração a
recordação da origem de sua vocação”.
O Papa recordou que
os vocacionados são chamados a ir ao encontro dos irmãos. “Permanecer com
Cristo não significa exilar-se, mas sim ir ao encontro dos outros. (...) Ser
missionário não significa necessariamente abandonar o país, família e os
amigos. Pois Deus quer que sejamos missionários onde estamos. Ajudemos aos
jovens a perceber que ser discípulo é consequência do ser batizado”.
Em harmonia com a
reflexão atual da Igreja no Brasil sobre a renovação paroquial, Francisco
destacou que os ministros do evangelho devem ir ao encontro dos que estão
afastados. “Não podemos ficar enclaustrados em nossa casa, em nossa paróquia.
Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta
fora para procurar e encontrar. Devemos sair, somos enviados! Temos que sair
pela porta para buscar e encontrar as pessoas”, disse o Papa, que destacou
também a importância da acolhida dos jovens nas comunidades. “São convidados
VIP em nossas paróquias!”.
Francisco recordou ainda que os
ministros da Igreja devem combater a cultura da exclusão. “Queridos irmãos e
irmãs, somos chamados por Deus a anunciar o Evangelho e a promover com alegria
a cultura do encontro. (...) Vamos ao encontro de tantos irmãos e irmãs que
estão abandonados. Não fiquemos em casa: vamos sair de casa, e assim sejamos
discípulos do Senhor!”.
Leia a íntegra da homilia:
Vendo esta catedral lotada com Bispos, sacerdotes,
seminaristas, religiosos e religiosas vindos do mundo inteiro, penso nas
palavras do Salmo da Missa de hoje: ‘Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor’
(Sl 66). Sim, estamos aqui reunidos para glorificar o Senhor; e o fazemos
reafirmando a nossa vontade de sermos seus instrumentos, para que não somente
algumas nações mas todas glorifiquem o Senhor. Com a mesma parresia – coragem,
ousadia - de Paulo e Barnabé, anunciemos o Evangelho aos nossos jovens para que
encontrem Cristo, luz para o caminho, e se tornem construtores de um mundo mais
fraterno. Neste sentido, queria refletir com vocês sobre três aspectos da nossa
vocação: chamados por Deus; chamados para anunciar o Evangelho; chamados a
promover a cultura do encontro.
Chamados por Deus. É importante reavivar em nós
esta realidade que, frequentemente, damos por descontada em meio a tantas
atividades do dia-a-dia: ‘Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos
escolhi», diz-nos Jesus’ (Jo 15,16). Significa retornar à fonte da nossa
chamada. No início de nosso caminho vocacional, há uma eleição divina. Fomos
chamados por Deus, e chamados para permanecer com Jesus (cf. Mc 3, 14), unidos
a Ele de um modo tão profundo que nos permite dizer com São Paulo: ‘Eu vivo,
mas não eu, é Cristo que vive em mim’ (Gal 2, 20). Este viver em Cristo
configura realmente tudo aquilo que somos e fazemos. E esta ‘vida em Cristo’ é
justamente o que garante a nossa eficácia apostólica, a fecundidade do nosso
serviço: ‘Eu vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto
permaneça’ (Jo 15,16). Não é a criatividade pastoral, não são as reuniões ou
planejamentos que garantem os frutos, mas ser fiel a Jesus, que nos diz com
insistência: ‘Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós’ (Jo 15, 4).
E nós sabemos bem o que isso significa:
Contemplá-lo, adorá-lo e abraçá-lo, particularmente através da nossa fidelidade
à vida de oração, do nosso encontro diário com Ele presente na Eucaristia e nas
pessoas mais necessitadas. O ‘permanecer’ com Cristo não é se isolar, mas é um
permanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me à cabeça umas palavras da
Bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá: ‘Devemos estar muito orgulhosas da
nossa vocação, que nos dá a oportunidade de servir Cristo nos pobres. É nas
favelas, nos ‘cantegriles’ nas Villas miseria, que nós devemos ir procurar e
servir a Cristo. Devemos ir até eles como o sacerdote se aproxima do altar, cheio
de alegria’. Jesus, Bom Pastor, é o nosso verdadeiro tesouro; procuremos fixar
sempre mais n’Ele o nosso coração (cf. Lc 12, 34).
Chamados para anunciar o Evangelho”. E, fez um
apelo direto: “Queridos bispos e sacerdotes, muitos de vocês, senão todos,
vieram acompanhar seus jovens à Jornada Mundial. Eles também ouviram as
palavras do mandato de Jesus: ‘Ide e fazei discípulos entre todas as nações’
(cf. Mt 28,19). É nosso compromisso ajudá-los a fazer arder, no seu coração, o
desejo de serem discípulos missionários de Jesus. Certamente muitos, diante
desse convite, poderiam sentir-se um pouco atemorizados, imaginando que ser
missionário significa deixar necessariamente o País, a família e os amigos.
Recordo o meu sonho da juventude: partir missionário para o longínquo Japão.
Mas Deus me mostrou que o meu território de missão estava muito mais perto: na
minha pátria. Ajudemos os jovens a perceberem que ser discípulo missionário é
uma consequência de ser batizado, é parte essencial do ser cristão, e que o primeiro
lugar onde evangelizar é a própria casa, o ambiente de estudo ou de trabalho, a
família e os amigos.
Não poupemos forças na formação da juventude!. São
Paulo usa uma bela expressão, que se tornou realidade na sua vida, dirigindo-se
aos seus cristãos: ‘Meus filhos, por vós sinto de novo as dores do parto até
Cristo ser formado em vós’ (Gal 4, 19). Também nós façamos que isso se torne
realidade no nosso ministério! Ajudemos os nossos jovens a descobrir a coragem
e a alegria da fé, a alegria de ser pessoalmente amados por Deus, que deu o seu
Filho Jesus para nossa salvação. Eduquemo-los para a missão, para sair, para
partir. Jesus fez assim com os seus discípulos: não os manteve colados a si,
como uma galinha com os seus pintinhos; Ele os enviou! Não podemos ficar
encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando
o Evangelho! Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de
sair pela porta fora para procurar e encontrar. Decididamente pensemos a
pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais afastados, daqueles que
habitualmente não freqüentam a paróquia. Também eles são convidados para a Mesa
do Senhor.
Em muitos ambientes, infelizmente, ganhou espaço a
cultura da exclusão, a ‘cultura do descartável’. Não há lugar para o idoso, nem
para o filho indesejado; não há tempo para se deter com o pobre caído à margem
da estrada. Às vezes parece que, para alguns, as relações humanas sejam regidas
por dois “dogmas” modernos: eficiência e pragmatismo. Queridos Bispos,
sacerdotes, religiosos e também vocês, seminaristas, que se preparam para o
ministério, tenham a coragem de ir contra a corrente. Não renunciemos a este
dom de Deus: a única família dos seus filhos. O encontro e o acolhimento de
todos, a solidariedade e a fraternidade são os elementos que tornam a nossa
civilização verdadeiramente humana. Temos de ser servidores da comunhão e da
cultura do encontro. Permitam-me dizer: deveríamos ser quase obsessivos neste
aspecto! Não queremos ser presunçosos, impondo as ‘nossas verdades’. O que nos
guia é a certeza humilde e feliz de quem foi encontrado, alcançado e transformado
pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de anunciá-la (cf. Lc 24, 13-35).
Queridos irmãos e irmãs, fomos chamados por Deus,
chamados para anunciar o Evangelho e promover corajosamente a cultura do
encontro. A Virgem Maria seja o nosso modelo. Na sua vida, Ela deu ‘exemplo
daquele afeto maternal de que devem estar animados todos quantos cooperam na
missão apostólica que a Igreja, tem de regenerar os homens’. Seja Ela a Estrela
que guia com segurança nossos passos ao encontro do Senhor. Amém.
(íntegra do discurso retirada da www.aleteia.org),
Com CNBB
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