Lucas 24, 46-53
Solenidade da Ascensão do Senhor
A liturgia da Igreja deste domingo comunica-nos a Solenidade da Ascensão do Senhor; Jesus se despede de seus discípulos. É a festa da elevação à plenitude, a festa da despedida, mas não da ausência. São muitas as interpretações dadas a esse importante acontecimento na vida da Igreja nascente e atual. Cristo, encerrando sua atividade terrena visível, ascende ao céu e assinala, desse modo, o nascimento da vocação missionária da Igreja. Esta solenidade diz ainda que, doravante, a Boa Nova de Jesus, que deverá ser anunciada, não exclui homem algum: todas as nações serão, pelo mandamento e pelo direito divino, destinatários da vida e do amor de Cristo. Portanto, esta radical vocação missionária da Igreja, nascida no dia da Ascensão, revela o último amor realizado por Jesus na sua vida terrena. Na Ascensão, Cristo Ressuscitado escondeu-se dos nossos olhos físicos para que eles pudessem contemplá-lo à luz da fé e sob a ação do Espírito Santo. Pela ação do Espírito Santo, que é o “alter ego” (o outro eu) de Jesus, derrama-se o amor de Cristo no coração dos que crêem.
Portanto, era necessário que Jesus voltasse ao Pai a fim de que o Espírito realizasse sua obra no coração dos seres humanos. A invisibilidade material de Deus torna-se a saúde e a salvação dos nossos olhos materiais e a condição para a nossa liberdade. Se Deus se manifestasse visivelmente com toda a sua majestade e esplendor, seríamos petrificados na sua luz e abocanhados pela sua glória. Medo, terror, extrema admiração engoliriam a nossa liberdade. Deus, portanto, por que nos ama, esconde-se ante nossos olhos físicos para se revelar aos que livremente crêem através dos olhos da fé.
O evangelho, apresentado hoje (Lc. 24.46-53), apresenta-nos alguns pontos que ajudarão na nossa reflexão: a) – A comunidade cristã relê as escrituras a partir da ressurreição de Jesus. A comunidade entende como as propostas ou as profecias do Antigo Testamento se cumprem na pessoa de Jesus. b) – Os discípulos de Jesus devem ser testemunhas de todos os acontecimentos da sua vida. Com a despedida de Jesus, a comunidade cristã deve levar em frente o seu projeto: vida para todos. c) – Jesus promete a “força do alto”. É o Espírito Santo prometido, é a força que fortalece o coração dos discípulos e a luz que os ilumina. Eles não devem se afastar antes de receberem esta força. d) – Jesus, antes de ir embora, abençoa seus discípulos. É mais uma forma de garantir sua presença e dar proteção divina. É a bênção que fortalece e alegra os seguidores de Jesus em sua missão. e) – “E foi levado para o céu”. É um modo de falar sobre sua volta para o mistério da vida de Deus. para a esfera de Deus. Não podemos pensar em Ascensão com categorias humanas, como se Jesus subisse como o foguete de um astronauta para o céu e se ausentasse de nós para sempre no espaço sideral. Ao contrário, Deus está presente em todos os tempos e lugares. O fato de os cristãos esperarem por Jesus não deve deixá-los passivo, mas levá-los à missão. É preciso descruzar os braços, deixar de olhar passivamente para o céu, encarar a realidade que nos cerca e nos comprometer com o testemunho de Jesus.
Peçamos ao Pai, através de seu Espírito Santificador, que, na celebração deste domingo que o Senhor sobe aos céus e nos dá o dom de sermos suas testemunhas, possamos ser de fato verdadeiros anunciadores do seu evangelho.
Pe. Raimundo Neto
Pároco de S. Vicente de Paulo

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