Padre Geovane
Saraiva*
Um adágio popular afirma: “há uma grande
diferença entre um fim sem esperança e uma esperança sem fim”. Promessa é uma
realidade dinâmica, que abre novas chances na vida, evidentemente olhando para
frente, mas enraizada numa relação com Deus, a falar aqui e agora, dizendo-me
que tenho que fazer algo de concreto em minha vida, consciente de que o futuro
encontra-se na minha relação com Deus, vivida no presente. As bem-aventuranças
anunciam a futura realização da esperança, na certeza de que devemos aguardá-la,
com confiança e paciência, o que não se vê, uma vez que transcende a realidade
visível aqui da terra.
Sem arriscar não se vive a esperança. A
humanidade viveu arriscando, mas na expectativa de um futuro, no que lhe foi
anunciada, na realização da esperança, que teve um papel imprescindível, tanto
na vida religiosa, como na vida de cada ser humano, pelo fato de que a religião
no Antigo Testamento exerceu uma função, no cumprimento da aliança e de suas
promessas (cf. Mt 5, 1-11).
Já no Novo Testamento, com evento Jesus
Cristo, a esperança tornou-se uma expectativa de confiança, de proteção e de
benção de Deus, apontando o caminho do céu, mas não só, porque ao mesmo tempo, o
homem deve se tornar mais humano e a terra, que é dádiva de Deus, mais habitável
e generosa, no seu papel de cumprir as promessas da aliança, em que fé e
esperança caminham intimamente unidas e não dissociadas.
Nos dias de hoje, com a nossa realidade
exigente, é preciso ter sempre mais coragem de lançar a semente, pensado na
esperança de um futuro esplendoroso, insistindo, é claro, na importância do
momento presente, por mais insignificante de que se possa parecer (cf. Mc 4,
26-27). Que o nosso sonho, seja de realizar, aqui e agora, nesse dado momento
histórico em que vivemos, a missão redentora da Igreja, que é a continuação e o
prolongamento de Jesus Cristo, Salvador e Esperança dos homens e mulheres de boa
vontade, que aguardam sua manifestação gloriosa, no final dos tempos (cf. Gl 4,
7-8).
A vida humana, segundo Santo Agostinho, na
sua preciosa obra, a Cidade de Deus, se desenvolve entre duas grandes forças,
dois dramáticos e contrastantes amores, a saber: “Dois amores edificaram duas
cidades: O amor próprio, levado pelo desprezo a Deus, a cidade terrena; o amor a
Deus, levado ao desprezo de si próprio, a cidade celestial”. Vemos, pois, que o
primeiro gira em torno de si próprio e o segundo é evidente que gira em torno de
Deus.
Nascemos para a esperança, para sonhar,
que é, sobretudo, no dizer de Dom Helder: “crer na aventura do amor, jogar nos
homens e pular no escuro, confiando em Deus”, na expectativa dos bons frutos
aqui e na vida futura, na ressurreição definitiva junto de Deus, naquele
presente muito eterno e feliz! “Tenho para mim que as aflições deste tempo
presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada,
porque a criação aguarda com ardente expectativa a revelação dos filhos de Deus”
(Rm 8, 18-19).
Os Latinos diziam: Fortuna audaces
juvat, isto é, a sorte favorece os corajosos. O mundo conturbado em que
vivemos necessita de uma âncora para não sucumbir ao naufrágio. Essa âncora é a
esperança e ela tem nome: a salvação.
*Padre
da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos
Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de
Fortaleza.
Pároco
de Santo Afonso
Autor
dos livros:
“O
peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder
Câmara);
“A
Ternura de um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal
Lorscheider);
“A
Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom
Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos).

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